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66, 67, 68 ou 69 milhões de toneladas. As três milhões de toneladas que divergem entre um e outro indicador não vão fazer muita diferença. O fato é que estamos prestes a consolidar a maior safra de milho da história do Brasil, que supera inclusive a de soja. Motivo para comemorar, como também para se preocupar. A considerar um consumo interno próximo das 50 milhões de toneladas, principalmente na produção de carnes – suínos e aves –, o excedente no mercado externo também será recorde.

A esperança está nas exportações, com um potencial de embarque estimado em 11 milhões de toneladas. De qualquer maneira, ainda que as vendas externas se consolidem, será inevitável a pressão para baixo dos preços no segundo semestre. Cenário que pode ser agravar ainda mais com as definições da safra dos Estados Unidos, em fase de desenvolvimento. Os norte-americanos também projetam uma colheita recorde do cereal, com mais de 370 milhões de toneladas, mais de 40 milhões de toneladas acima do ciclo anterior.

O lado bom da supersafra no Brasil está no incremento da produção, que ocorre com base em tecnologia. Em 20 anos, a oferta total do cereal aumentou 125% no país, enquanto que a área registrou uma variação de apenas 25%. Outro fator de relevante, é que área e produção cresceram na 2ª safra, a chamada safrinha, ou safra de inverno. Em duas décadas o volume teve incremento de 1.250%, enquanto que a extensão cultivada cresceu pouco mais de 500%. Importante destacar, que a variação expressiva em porcentual de área não preocupa, uma vez que ela ocorre a partir de uma base pequena e que parte desse crescimento ocorre em substituição a outras lavouras de inverno, como o trigo, por exemplo.

O lado ruim está na falta de espaço internacional para o milho nacional. Sem muita tradição nos embarques – a oferta sempre esteve ajustada à demanda interna –, o país ingressou nesse mercado há menos de uma década. Seu principal concorrente são os Estados Unidos. E ao contrário da soja, onde o Brasil conseguiu superá-los nas vendas externas, no milho a vantagem dos norte-americanos é infinitamente maior. Não apenas em volume, como em tradição e antigas parcerias comerciais. Ou seja, em ano de produção recorde, tanto aqui como lá, não será fácil emplacar o produto brasileiro.

A China deve ampliar as compras em relação à temporada anterior. Com uma produção que se aproxima das 200 milhões de toneladas, o país ainda devem importar mais de sete milhões de toneladas. O Brasil ainda não exporta milho para os chineses, situação que tem grandes chances de ser revertida, ainda nesta safra. Essa, aliás, é uma das esperanças da cadeia produtiva nacional para auxiliar na vazão da supersafra e tentar garantir liquidez e sustentar as cotações internas acima do preço mínimo. Os dois países estudam a assinatura de um protocolo que pode liberar de imediato os embarques.

O que não está descartado é o apoio do governo federal com subsídios à comercialização do cereal. Com o início da colheita, alguns elos da cadeia produtiva já estão se mobilizando e reivindicando os leilões onde a federação paga prêmios ao escoamento do produto. O apoio é bem-vindo, principalmente ao Mato Grosso, maior produtor de milho safrinha, região onde a oferta está muito descolada da demanda. O estado deve colher perto de 13 milhões de toneladas, para um consumo que não chega a três milhões de toneladas. No Paraná, a segunda safra deve chegar a 10 milhões de toneladas. Aqui, porém, a demanda é bem maior e o milho tem, teoricamente, maior liquidez. O que não significa que não tenha problemas de preço, clima e mercado.

Então, eis a questão. O estado tem milho para bancar o consumo interno e até para garantir alguns embarques e o fornecimento para vizinhos como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Teoricamente, então, o milho de outros estados não seria necessário por aqui. Embora tenha gente que pense ao contrário, uma vez que o milho escoado com subvenção pode chegar mais barato e viabilizar negócios de exportação. O que não dá para ignorar é que oferecer subvenção para escoar milho a regiões como o Paraná é no mínimo um contrassenso. Para constar, no ciclo atual o estado vai produzir em torno de 16 milhões de toneladas, para um consumo de 10 milhões.

Assim, a exemplo do que ocorreu há duas safras, o apoio do governo será fundamental na atual temporada. Mas somente para escoar o milho das regiões e às regiões que realmente justifiquem essa condição, como do Mato Grosso para o Norte e Nordeste. E não do Mato Grosso para o Paraná, com chegou a ser verificado no ciclo 2009/10. Não dá para proteger um produtor e um mercado em detrimento a outro produtor e outro mercado. Ainda mais quando a operação é bancada com dinheiro público.

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