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Não restam dúvidas sobre o potencial brasileiro frente à crescente demanda mundial por alimentos e energia. O país tem área e tecnologia para, se preciso for, dobrar sua produção. Isso no curto, médio ou longo prazo. O ritmo, quem vai ditar, é o mercado. Além, é claro, da infraestrutura, de armazenagem e escoamento da produção. Em suma, um horizonte que nos impõe oportunidades e desafios. Que o Brasil tem condições de ampliar sua oferta de maneira rápida e substancial o mundo já sabe. A grande pergunta é se nós conseguimos entregar. Eu diria que hoje não. Pelo menos não da forma ideal, contínua e sem riscos para vendedor e comprador. Se pelo menos houvesse condições de armazenar nossa safra, para então escoar de forma ordenada e escalonada. Mas nem isso. A considerar a atual de 185 milhões de toneladas, o déficit brasileiro em capacidade estática de armazenagem fica acima das 60 milhões de toneladas.

Contudo, essa limitação logística, que começa no campo e se agrava nas rodovias e ferrovias, satura e expõe os portos, que estão na ponta de todos esses gargalos, ainda não é o maior dos nossos problemas. Com a produção crescente, o Brasil precisa como nunca acessar e consolidar novos mercados. A oferta adicional não pode, sob pena de comprometer a rentabilidade do setor, descolar da demanda. Um exemplo claro que gera preocupação e exige ação imediata, do público e do privado, está no milho. Há 10 anos praticamente não exportávamos o cereal, que tinha um volume ajustado ao consumo. Em 2011, saíram pelos portos brasileiros 10 milhões de toneladas. Em 2012, surpreendentes 20 milhões de toneladas. Uma década em que a produção cresceu mais de 30 milhões de toneladas, para quase 77 milhões de toneladas na temporada 2012/13. Assim, haja mercado interno e exportação para tamanha variação.

A marca recorde dos embarques do ano passado tem a ver com a frustração de safra nos Estados Unidos, o maior produtor e exportador. Os norte-americanos reduziram suas operações no mercado internacional e o Brasil, com oferta excedente, ocupou esse espaço. O problema é que esse espaço não é nosso. Foi ocupado de forma momentânea, no vácuo de um líder que foi obrigado a sair do mercado. E agora, com a possível recuperação dos Estados Unidos, o que será do nosso milho? Teoricamente, em 2013 teríamos de exportar as 20 milhões e toneladas do ano passado e mais um pouco. A considerar o volume total, do milho de 1ª e 2ª safras, nossa oferta é de quatro milhões de toneladas adicionais em relação a 2012. Podemos vencer essa marca nos embarques? Dificilmente, para não dizer impossível. Em analogia aos campeonatos de futebol, passamos a depender do resultado de terceiros. Ou seja, do desempenho da nova safra nos Estados Unidos, que apenas começou a ser plantada.

Ainda nesse sentido, figurado, também vale lembrar que na maioria das vezes, quando se depende do resultado dos outros, é preciso fazer na nossa parte, justamento onde o Brasil perde competitividade. E não estou falando apenas de infraestrutura. Mas principalmente de mercado, sem o qual de nada adiantaria ter armazéns ou logística eficiente. E vice-versa. Não temos mercado porque não temos infraestrutura que garanta nossa entrega? Ou não temos infraestrutura porque não temos mercado? Pode até ser que alguém pense diferente. Mas a lógica, indiscutível, é o fato de que a dificuldade em acessar e consolidar clientes internacionais está, sim, diretamente associada à falta de segurança na entrega. O que não tem nada a ver com a capacidade de produção é bom que se diga. Mas na capacidade de tirar essa produção de dentro da porteira, de fazer chegar aos portos e ao destino final. Não é questão técnica-agronômica, mas operacional.

Dominar e liderar a produção são requisitos importantes, mas não bastam. Para ser líder é necessário ter mercado, fidelizar e ampliar esse mercado. Caso contrário não há porque apostar e investir no aumento da produção. Ou então temos que fazer isso num ritmo mais lento, mais responsável e mais planejado, onde oferta e demanda possam caminhar juntas, lado a lado. Falo de um ritmo sustentável, seguro e de risco calculado. O que não pode é aumentar a produção em 20 milhões de toneladas – variação de 2011/12 para 2012/13 – sem ter demanda para isso. Não podemos simplesmente ficar torcendo para que a safra do nosso maior concorrente sofra um revés de tal maneira que essa frustração possa sustentar preço ao milho brasileiro. Isso é depender de terceiros. Tudo bem. Faz parte do jogo. Mas e a nossa parte?

Precisamos, sim, incrementar, melhorar e dar eficiência à nossa logística, o que bem ou mal, cedo ou tarde, está sendo encaminhado. Mas e o mercado? Como firmar posição, consolidar e fidelizar parceiros nesse ambiente cada vez mais competitivo? Uma pergunta difícil de responder, mas que deve ser partilhada, entre produtores e governo, de forma que a oportunidade supere o desafio e se torne realidade, consolide o Brasil como não somente como um grande produtor, como também um grande exportador.

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