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Cerca de 2 mil pessoas – me­­tade dos Estados Uni­dos e a outra metade dos quatro cantos do mundo – participaram na semana passada das discussões sobre o futuro do agronegócio no mundo. Foi durante o Agricul­tural Outlook Forum 2012, evento organizado pelo Departa­mento de Agri­cultura dos EUA (USDA), órgão do governo norte-americano similar ao Minis­tério da Agricultura no Brasil. Em destaque, o quadro de oferta e demanda de grãos e energia, onde cresce produção e consumo, e as estratégias para equacionar essa relação, a considerar variáveis e vaidades como poder, controle e interesses comerciais e humanitários.

Entre as abordagens de maior relevância, o inevitável olhar sobre a América do Sul e a China, justamente onde estão as principais pontas, ou potências, de produção e consumo. Cenário que o fórum até poucos anos atrás relutava, para não dizer ignorava, agora torna-se essencial ao debate. O Brasil – ou a América do Sul liderada pelo Brasil – é peça indispensável nas análises, projeções e diagnósticos sobre qualquer que seja a questão, da soja às carnes, da cana-de-açúcar ao clima, da tecnologia às políticas públicas de fomento e suporte à produção agrícola e pecuária.

Na edição de número 88, o Agricultural Outlook abriu espaço para analistas brasileiros e argentinos atuarem como conferencistas. Um deles foi Seneri Paludo, da Fe­­deração da Agricul­tura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). O outro foi Mariano Marques, da Compa­nhia Nacio­nal de Abastecimento (Conab). Seneri participou do painel que discutiu as oportunidades e a competitividade de exportação entre os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Ele falou do impacto consumo doméstico no potencial de exportação do Brasil. Mariano integrou o painel grãos e óleos, em que mostrou alguns números e projeções de produção e exportação de milho pelo Brasil nos próximos cinco anos.

Entendo que foi um bom começo na busca por um espaço maior nas discussões sobre o agronegócio mundial. Mas poderia ser melhor. O tempo não era longo, mas poderia ter sido mais bem usado. Paludo e Marques foram bem, fizeram a sua parte, e posicionaram o Brasil no contexto do Outlook Forum. Contu­do, esperto mesmo foi o consultor argentino. Ele não só vendeu a imagem da Argentina, como da América do Sul e, de quebra, a do Brasil. Antes mesmo de ingressar no mérito da sua palestra, sobre as políticas de produção de grãos e óleos na Argentina, ele invocou a importância e o potencial sul-americano nesse contexto.

Introdução que deu força e prendeu a atenção da plateia para sua fala. A estratégia do consultor argentino reforça um posicionamento que todos os países do bloco deveriam seguir: falar do Brasil, da Argentina e do Paraguai enquanto América do Sul. Yes, we can, como diria o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Juntos somos mais, somos o maior player de produção e exportação de alguns dos principais produtos consumidos no mundo. Unificar o discurso significa maior peso nas negociações, embates e definições no tocante ao comércio internacional de commodities agrícolas. A América do Sul é o maior exportador de soja, óleo, ração, carne de frango e de gado. Mas está na hora de usar isso a nosso favor. Não podemos mais receber ordens, deixar que as regras nos sejam impostas. Mas sim participar da construção dessas regras, deixar de ser comprado e começar a vender.

A soja é o exemplo mais claro desse poder sul-americano. Nos últimos anos, o planeta produziu, em média, em torno de 260 milhões de toneladas de soja.

Metade desse volume, isso mesmo, 50% da produção mundial, sai de campos do Brasil, Argentina e Paraguai. E o quê é a soja? Depois do petróleo, a oleaginosa é nada mais do que a commodity com maior liquidez no mundo. Quero acreditar que isso é um argumento mais do que suficiente para posicionar a América do Sul e seus países produtores como agentes ativos e imprescindíveis à sustentabilidade da cadeia.

Tendências

É justo e natural que o Brasil e a América do Sul busquem o seu lugar ao sol.

Mas ainda é a safra dos Estados Unidos o fator de maior influência sobre mercados, preços e produção. Por isso, é hora de ficar de olho nos planos norte-americanos para a temporada 2012/13. Núme­ros prévios divulgados pelo USDA no Outlook Forum sinalizam o que vem por aí. Os produtores dos EUA devem plantar mais milho, manter a área de soja e ampliar a de trigo. Perdem área a chamada CRP (espécie de reserva legal) e o algodão. A conseqüência dessa aposta é preços internacionais menores no milho, estáveis na soja e em queda no algodão.

Previsões médias para o ciclo que está começando na América do Norte, mas que podem enfrentar tendência de baixa ainda maior no segundo semestre de 2012.

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