A reforma do sistema de saúde está na balança. Seu destino depende de uns poucos senadores "centristas" senadores que alegam estar preocupados com a responsabilidade fiscal da legislação proposta.
Entretanto, se eles estivessem realmente preocupados com a responsabilidade fiscal, eles não estariam preocupados com o que aconteceria se a reforma fosse aprovada. Em vez disso, eles deveriam estar preocupados com o que aconteceria se ela não fosse aprovada, uma vez que os EUA não conseguem cuidar de seu orçamento sem controlar os custos do sistema de saúde e esta é a nossa última e melhor chance de lidar com estes custos de maneira racional.
Vamos recapitular alguns pontos: as projeções fiscais de longo prazo para os EUA são de um futuro amargo. Se não fizermos grandes mudanças políticas, os gastos irão crescer consistentemente mais rápido do que a arrecadação e resultarão em uma crise causada pela dívida.
O que está por trás dessas projeções? O envelhecimento da população, que irá aumentar os custos de seguridade social, é parte da história. Entretanto, o principal elemento causador de déficits futuros é o custo cada vez maior do Medicare e do Medicaid (o seguro-saúde público para idosos e pessoas de baixa renda, respectivamente). Se os custos do sistema de saúde crescerem como no passado, não teremos como escapar de uma catástrofe financeira.
Você pode até pensar, dados os fatos, que estender a cobertura àqueles que, sem o Medicare e o Medicaid, não teriam acesso ao sistema de saúde poderia exacerbar o problema, mas estaria errado por dois motivos.
Primeiro, os americanos não segurados são, na média, relativamente jovens e saudáveis; dar cobertura a eles não aumentaria consideravelmente os custos do sistema de saúde.
Segundo, a reforma do sistema de saúde proposta condiciona a expansão de cobertura a sérias medidas de controle de custos do Medicare. Pense nela como um grande barganha: cobertura para (quase) todos, condicionada a um esforço para se garantir que os dólares do sistema de saúde são bem gastos.
Estamos falando de economias reais ou apenas uma maquiagem nos números? Bem, os economistas do sistema de saúde que eu respeito estão seriamente impressionados pelas medidas de controle de custos do projeto do senado. Elas incluem esforços para aumentar incentivos para um sistema custo-efetivo, o uso de pesquisa médica com o intuito de fomentar tratamentos realmente efetivos, e mais. Este projeto é "o melhor que qualquer pessoa já fez", disse Jonathan Gruber, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em inglês). Uma carta assinada por 23 especialistas proeminentes em sistemas de saúde incluindo Mark McClellan, que dirigiu o Medicare durante a administração Bush declara que as medidas para o controle de custos propostas pelo projeto "irão reduzir os déficits a longo prazo "
O fato de estarmos vendo a primeira tentativa séria para se controlar os custos do sistema de saúde como parte de um projeto de lei que tenta cobrir os não segurados aparenta confirmar o que os reformistas estão dizendo há anos: o caminho para o controle de gastos passa pela cobertura universal. Nós só podemos lidar com custos fora de controle como parte de um trato que também irá assegurar aos americanos livre acesso ao sistema de saúde.
Esta observação por si só deveria fazer qualquer um preocupado com responsabilidade fiscal apoiar esta reforma. Conforme o Comitê de Orçamento do Congresso concluiu, a legislação proposta irá diminuir, e não aumentar, o déficit de orçamento o curso da próxima década. E, por nos dar uma chance, finalmente, de controlarmos os sempre crescentes gastos do Medicare. Isso melhoraria enormemente nossas perspectivas fiscais a longo prazo.
Entretanto, existe outro motivo pelo qual a falha na aprovação deste projeto de lei seria devastador em outras palavras, a natureza da oposição.
A campanha republicana contra a reforma do sistema de saúde se baseia, em partes, em argumentos tradicionais, argumentos que remontam à época em que Ronald Reagan tentava assustar os americanos para que se opusessem ao Medicare denúncias de "medicina socializada", alegações de que a cobertura de saúde leva à tirania etc.
Entretanto, nos rounds finais da batalha do sistema de saúde, os republicanos se concentraram cada vez mais em um esforço para demonizar os esforços para o controle de custos. O projeto do Senado iria impor "cortes draconianos" no Medicare, disse o senador John McCain, que propôs reduções muito mais profundas no ano passado como parte de sua campanha presidencial. "Se você for uma pessoa de idade e estiver coberto pelo Medicare, é melhor ter medo deste projeto de lei", disse o senador Tom Coburn.
Se essa tática funcionar, e a reforma do sistema de saúde não sair do papel, pense na imagem que isso iria transmitir: a falha iria sinalizar que qualquer esforço para lidar com o maior problema orçamentário que enfrentamos será transformada, de acordo com os oponentes políticos, em um ataque aos americanos na melhor idade. Levará muito tempo até que alguém se disponha a assumir esse desafio outra vez; basta lembrar que após as falhas das tentativas de Clinton, precisamos de mais 16 anos para falar de reformas no sistema de saúde novamente.
É por isto que ninguém que está realmente preocupado com a política fiscal deveria estar ansioso com a aprovação da reforma. Se ela não sair do papel, os demagogos terão vencido, e nós provavelmente não lidaremos com o nosso maior problema fiscal até que uma severa dívida crie uma crise que nos force a agir.
Então, fica aqui um recado para os centristas que ainda estão em cima do muro em relação à reforma do sistema de saúde: se você se preocupa com a responsabilidade fiscal, é melhor ter medo do que vai acontecer caso a reforma não dê certo.



