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Outro dia, ao conversar com um amigo sobre algumas curiosidades do mundo corporativo, lembrei-me de uma situação engraçada, porém preocupante, que ocorreu com um amigo. No início de sua carreira, Mendonça atuava na área comercial de uma indústria. Vendedor externo, ele (jovem naquela época) vivia cansado. Andava muito pelas ruas, corria contra o tempo para dar conta de atender o maior número de clientes possível e se desdobrava em mil para não deixar a desejar seu trabalho, seu relacionamento profissional e sua dedicação à família.

Exatamente para dar conta de sua rotina, Mendonça criou alguns hábitos curiosos. Um deles era acordar bem cedo para conseguir tomar café em padarias diferentes e, com isso, conhecer diariamente várias pessoas novas. Após sua network matinal, Mendonça ia para o escritório, onde checava sua agenda, programava-se de acordo com as reuniões marcadas por seu chefe e traçava uma rota onde pudesse aproveitar cada quilômetro que percorria.

Ele era tão metódico com suas organizações de tempo que não conseguia relaxar em momento algum. Pelo contrário, cobrava-se a si mesmo com um rigor digno de um chefe. Aliás, essa definição lhe cabia muito bem. Ele mais parecia seu próprio chefe, punindo severamente suas falhas e cobrando de si mais dedicação a cada dia. Talvez seja por isso que, alguns anos seguindo aquela rotina intensa, Mendonça começou a se sentir fatigado. Sentia que não dava mais conta de trabalhar com tamanha eficiência e que nem mesmo suas próprias rotinas eram possíveis de seguir. Precisou, então, adquirir novos hábitos para tentar, enfim, descansar o corpo e a mente.

A primeira coisa que estipulou para si mesmo foi a obrigação de tirar férias rigorosamente por 15 dias duas vezes ao ano. E, durante suas férias, dava-se o direito de desligar-se totalmente do trabalho. Viajava com a família, dedicava-se a coisas que não conseguia se dedicar durante os dias de trabalho e, principalmente, descansava bastante.

Além disso, quando não estava de férias, tirava os fins de semana para fazer coisas prazerosas. O que mais gostava era fazer churrasco para receber os amigos. Sempre que podia, levava os filhos para parques ou até cidades próximas para conhecer o turismo do seu Estado. Dessa forma, sentia-se sempre renovado para retornar ao trabalho na segunda-feira.

E, para completar suas artimanhas para se manter firme durante a semana, estipulou pequenos hábitos diários para descansar um pouco. Um desses costumes foi uma sesta religiosamente executada dia após dia. Começou a almoçar sempre em casa, para que logo após o almoço pudesse tirar um cochilo de 15 ou 20 minutos. Com isso, conseguia voltar ao trabalho sempre bem disposto e humorado.

O problema dessa última atitude é que o corpo de Mendonça se adaptou muito rapidamente e fortemente ao cochilo no início da tarde e, com isso, sentia-se impossi­­bilitado de marcar qualquer compromisso nesse horário. Inventava desculpas e fazia questão de reagendar todos os seus compromissos daquele horário. Até que um dia, o inimaginável aconteceu.

Seu chefe, na tentativa de aproximar mais a sua equipe que andava muito dispersa, convocou a todos para um almoço, seguido de uma rápida palestra motivacional e uma reunião para discussão de estratégias de vendas. Como era um dia especial, resolveram comer uma feijoada, que, para piorar a situação de Mendonça, causou-lhe uma sensação de cansaço instantâneo e além do normal.

Ao iniciarem a palestra motivacional, Mendonça já estava com os olhos praticamente pregados. Ele não conseguia dominar o seu cansaço. Seu corpo pedia um arrego de pelo menos 15 minutos. Mas era impensável sair da sala naquele momento. Como forma de burlar a situação, Mendonça colocou seus óculos escuros e deixou-se embalar num sono profundo.

Dizem as más línguas que em menos de dez minutos após a palestra se iniciar, os roncos dele podiam ser ouvidos por todos da sala. Seu chefe, como forma de puni-lo e mostrá-lo seu erro, convidou a todos para terminarem a reunião numa sala ao lado. Ao acordar, e constatar que havia sido deixado para trás, Mendonça tentou se desculpar e consertar a situação. Mas já era tarde. Na hora, foi motivo de chacota. Mas, em seguida foi chamado pelos seus superiores para receber uma advertência sobre má conduta. Mendonça nunca mais cometeu deslize parecido, porém, precisou buscar outros recursos para impedir que coisa semelhante acontecesse novamente.

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