Há alguns anos, uma moça muito simpática e bonita que trabalhava comigo passou por um momento muito delicado. A jovem, que tinha cerca de 25 anos, vivia reclamando pelos cantos sobre a vida que levava. Impressionantemente, afinal ela era realmente muito bela, achava-se uma pessoa sem graça e não encarava seu trabalho com bons olhos. Eu, particularmente, achava seus projetos bem feitos e realmente acreditava que em pouco tempo ela teria capacidade de subir consideravelmente em sua carreira.
Jaqueline havia se formado há pouco mais de dois anos quando a contratei e, no princípio, não lhe dei um cargo muito significativo devido à sua pouca experiência e conhecimento relativamente limitado. Mesmo assim, mês após mês ela me surpreendia com ideias inovadoras e superiores à sua aparente capacidade. Como gestor, fazia questão de incentivá-la a desenvolver esse seu lado estratégico para, quem sabe, nomeá-la para um cargo mais interessante.
Porém, Jaqueline começou a faltar ao trabalho ou, quando ia, chegava sempre atrasada. Sua pele, que antes era bem cuidada e com uma maquiagem discreta, vinha agora com aparência desleixada. Para acompanhar seu descaso com a aparência, mal penteava seus cabelos e as roupas (quando não repetidas do dia anterior) estavam sempre amassadas, como se tivessem acabado de sair da máquina de lavar.
Para completar as atitudes estranhas da moça, seu desempenho no trabalho começou a cair drasticamente. Seus projetos não eram mais entregues no prazo certo e quando chegavam a minhas mãos, percebia que o zelo costumeiro já não era mais utilizado. Foi então que percebi que Jaqueline não só reclamava da própria vida pelos cantos, mas começou a boicotá-la com seus próprios atos.
Preocupado, chamei a moça para uma conversa e, na tentativa de ajudá-la, mostrei-me disposto a fazer qualquer coisa para mantê-la em minha equipe. No princípio da conversa, Jaqueline não se sentiu muito à vontade para falar, mas quando percebeu que eu só queria ajudar, desatou a chorar e, aos prantos, foi me explicando o que se passava em sua vida.
Contou-me sobre suas dificuldades financeiras e sua imensa vontade de crescer. Relatou seu problema em encontrar um namorado que a levasse a sério e dissertou sobre sua vida de solidão e desilusão. Disse-me que tinha a constante sensação de que a vida lhe pregava peças para ver se ela era capaz de ser resiliente, mas confessou, já não tinha tanta força para superar tais obstáculos. Nas palavras de Jaqueline pude observar que ela distorcia a imagem que via no espelho e menosprezava o belíssimo trabalho que vinha desempenhando. E, por fim, constatei que a jovem, apesar de sonhar com isso, não tinha esperanças reais de que conseguiria alcançar o sucesso pessoal e profissional.
Como início de minha ajuda, pedi que ela aproveitasse algumas horas extras que tinha em seu banco de horas para tirar um ou dois dias de folga para pensar no desenrolar da sua vida e, assim, tentar traçar metas para sair desse enorme buraco que ela mesma cavava. Em continuidade, eu estava disposto a lhe dar novos desafios dentro da empresa, aumentando, consequentemente, seu salário e, quem sabe, resolver parte de seus problemas financeiros. Aconselhei, inclusive, que ela procurasse uma distração, aulas de dança, talvez, para manter uma vida paralela à profissional, pois se ela queria mesmo encontrar alguém para dividir sua vida, precisava sair um pouco da rotina.
Jaqueline saiu da reunião animada e passou o resto da semana, mais o sábado e o domingo, refletindo sobre sua própria vida. Ao voltar segunda-feira, parecia disposta a mudar tudo e, por certo tempo, realmente agiu de forma diferente. Mas, infelizmente, suas tentativas foram em vão e pouco mais de 15 dias após nossa conversa, Jaqueline pediu demissão. Dessa vez, nem mesmo minhas tentativas foram suficientes para segurá-la na empresa.
Anos depois tive notícias de Jaqueline. Infelizmente, ela havia passado por uma longa e profunda depressão. Felizmente, antes que fosse tarde demais, procurou ajuda médica e se tratou. Porém, ao tentar voltar ao mercado de trabalho, não encontrava mais disponibilidade compatível com suas competências, até porque o tempo que "perdeu" se lamentando em casa foi suficiente para deixar obsoleta toda a sua formação e experiência profissional. Agora, o máximo que conseguia eram cargos muito aquém dos que ela havia ocupado anos atrás.
* * * * * * * *
Na próxima terça-feira, 11 de agosto, na coluna Talento em Pauta, comentarei um pouco mais sobre o que a baixa autoestima pode causar na vida profissional de uma pessoa.



