Mentira: um mal de pernas curtas

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Você já conheceu alguém, no seu meio social, que mentisse para conseguir as coisas? Pense em qualquer situação: uma mentirinha para justificar a ausência numa festa; a desculpa para não ter que pagar os juros da conta atrasada; ou a calúnia sobre a morte do parente para poder faltar ao trabalho. Infelizmente, algumas pessoas mentem com tanta facilidade e frequência que, às vezes, nem percebem que estão embalados por mais uma mentira.

Caio era assim. Funcionário de uma grande amiga minha, o rapaz ingressou em sua empresa através de um processo conturbado e aprontou poucas e boas antes de ser desmascarado. Lilia até hoje lamenta ter sido enganada pelo rapaz, pois algumas de suas mentiras eram tão óbvias que ela não admitia sua própria inocência diante de um profissional tão imaturo.

Tudo começou no próprio processo de seleção (só mais tarde ficou sabendo disso). Para se dar bem no processo, o rapaz inventou alguns trabalhos pelos quais ele nunca havia estado. Como referência, indicou familiares e amigos que toparam se passar por ex chefes e colegas de trabalho. Com um currículo tão exemplar e indicações tão representativas, logo Caio se viu contrato.

Dentro da empresa, porém, ele precisava mostrar os resultados daquela experiência que ele mesmo inventara. Para mascarar sua defasagem, mentia sobre impossibilidade de executar as tarefas nos tempos pedidos, ou, simplesmente, culpava a falta de recursos para a não execução de algum afazer. No começo, as pessoas encaravam suas considerações como pertinentes. Achavam que por ele ser no­­vo na empresa, conseguia ver al­­guns defeitos que eles mesmos não viam. E, enquanto desviava a atenção das pessoas para coisas me­­nos importantes, deixava de fa­­zer seu próprio trabalho, sobrando tem­­po para estudar e, mais tarde, conseguir entregá-lo a contento.

Com o passar do tempo, porém, as pessoas foram o conhecendo melhor e descobrindo que ele possuía um papo muito bom. Com carisma, chegava a qualquer um e sempre tinha uma história mirabolante para contar. O problema é que esse excelente papo era permeado de mentiras deslavadas e, aos poucos, todos começaram a perceber isso.

Sua credibilidade dentro da empresa foi por água abaixo no dia em que, pego de surpresa por uma cobrança de Lilia, Caio precisou incluir um colega de trabalho em mais uma de suas mentiras. Lilia, porém, sabia exatamente como haviam ocorrido aquelas situações que ele relatava e sabia que cada palavra dele não era verdadeira. Mas ela foi dando corda para ver até onde ele ia, e não é que ele acabou se enforcando? Após todas as suas explicações, minha amiga chamou o outro profissional que ele havia incluído na história para que ele mesmo pudesse se defender. E, durante a acareação, constatou que Caio não se avexava nenhum pouco por mentir tanto.

Mas, ainda não tinha sido dessa vez que ela decidia por demiti-lo. Todos merecem uma segunda chance. Mas, no caso dele, já passava da décima, ela que ainda não tinha percebido isso. Não demorou muito para que ela fosse pega de surpresa mais uma vez pelas mentiras do rapaz. Dessa vez, porém, o abusado colocou a própria Lilia em suas mentiras e, pior, diante de um cliente.

Quando a moça ficou sabendo das coisas que ele havia inventado a seu respeito, acabou perdendo a cabeça. Lilia me contou que, impulsivamente, esbravejou com o rapaz durante um acesso de raiva. A empresa inteira presenciou a cena, o que fez com que algumas pessoas tomassem coragem de relatar algumas coisas que sabiam. Uma delas, inclusive, contou à Lilia sobre as situações que ele havia forjado para entrar lá. Foi assim que minha amiga decidiu, de uma vez por todas, demitir o rapaz. Ponderou sobre sua decisão antes de anunciá-la, mas chegou à conclusão de que não havia muito a ser feito, já que isso vinha da personalidade doente do rapaz.

Infelizmente, algumas dessas pessoas cruzam nosso caminho e fazem um estrago muito grande. Seja no campo profissional ou pessoal. Independentemente disso, a lição é que podemos sim confiar nas pessoas que trabalhamos e convivemos, mas não custa nada checar.