Juarez acabara de completar 57 anos quando foi informado de que tinha uma doença cerebral degenerativa. Arrasado com a notícia, solicitou sua aposentadoria por invalidez, pois sabia que sua contribuição para o mercado de trabalho estava chegando ao fim. Ao receber toda a documentação necessária para se afastar do emprego, sentiu um certo alívio. Não porque não gostava de seu serviço, da empresa onde trabalhava, dos colegas ou da rotina. Mas porque, de certa forma, ele aguardava uma resposta para sua situação havia muito tempo.
O profissional, nos últimos dez anos, percebera uma queda em sua produtividade e uma estagnação em sua carreira. Já não conseguia ser criativo nem trazer resultados satisfatórios para as empresas pelas quais passava. Por essa razão, foi demitido três vezes nesse período. Ele não teve dificuldade para se recolocar no mercado em nenhuma das ocasiões, mas não ascendeu dentro das organizações nas quais ingressou. Agora, acreditava ter encontrado a explicação para sua trajetória medíocre.
Juarez, então, achou adequado marcar uma reunião com seus ex-empregadores, para lhes esclarecer o motivo de sua atuação pífia o profissional, inconscientemente, precisava justificar a si mesmo os fracassos do passado. De empresa em empresa, levou os exames que comprovavam sua doença, bem como a documentação que lhe garantia a aposentadoria por invalidez. Em todas as visitas, sentiu-se bem com a expressão de pesar dos antigos chefes. Experimentou um estranho prazer, alimentado pela autopiedade. Esse sentimento desencadeou uma série de atitudes que Juarez adotou a partir daquele momento.
Tudo que lhe acontecia era fruto da doença. Se chegava atrasado a um compromisso social, enganava-se com alguma conta do mercado ou com o orçamento da casa, irritava-se com a esposa ou com os filhos, se não tinha apetite ou tinha fome demais... a justificativa estava na enfermidade. Até que chegou um ponto em que sua família, sempre paciente e compreensiva, começou a se cansar da postura passiva de Juarez e deixou de sentir pena dele. No lugar daquele sentimento, vieram o descaso e a decepção. A esposa de Juarez parou de enxergá-lo com admiração e respeito, pois descobriu, pelos relatos do próprio marido, que ele jamais havia feito alguma coisa, de fato, para aprimorar sua carreira.
Juarez sempre demorou a agir, tanto no âmbito profissional como no pessoal. Ele esperava a "bomba" estourar para tomar uma atitude e jamais se preparava para evitar que ela arrebentasse. Esse fraco de sua personalidade não havia se desenvolvido com a doença. Na verdade, Juarez sempre foi assim, desde que conheceu sua mulher, ainda muito jovem.
Mas ele continuou a romantizar seu passado, acreditando que antes da doença fora uma pessoa diferente, mais ativa e competente do que de fato havia sido. Aposentado, passava a maior parte do tempo relembrando situações vividas no mercado de trabalho. Quando eram negativas, convencia a si mesmo e sua família de que a causa estava atrelada à enfermidade. Assim foi apagando da memória todos os reais motivos do seu fracasso profissional, eliminando todo o aprendizado natural que os erros proporcionam.
Juarez, aos poucos, foi se tornando uma pessoa de difícil convívio. Sentia uma pena profunda de si mesmo, fazia vistas grossas aos seus erros e era demasiado complacente com suas falhas e defeitos. Transformou-se gradativamente em um fardo para a esposa, que o deixou alguns anos depois. Hoje, Juarez está só. Não se relaciona com ninguém a não ser com os filhos, que o visitam. No entanto, a solidão não foi suficiente para lhe ensinar outra lição, visto que ele também atribui sua sorte à doença. Ao pensar dessa forma sente-se seguro, como que escorado por uma muleta permanente.
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Doenças graves são capazes de redirecionar a vida das pessoas, tanto de forma negativa quanto positiva. Sim, porque nem sempre são motivo para o fim. Muitas vezes, uma enfermidade leva à reflexão, mostra os valores que realmente importam e, até mesmo, desperta os sentimentos mais nobres, como a humildade e a compaixão. Porém, para alguns indivíduos, de espírito frágil, uma doença é a explicação para todos os fracassos inerentes à existência. A perda de um amor, de um emprego ou de um sonho pode ser justificada assim. Entretanto, na maioria das circunstâncias, a enfermidade não é a causadora das derrotas de uma vida, e sim a desculpa necessária para aqueles que não têm coragem de encarar as dificuldades de frente, sem subterfúgios, sem muletas. Para essas pessoas, o mais indicado é procurar ajuda, seja de um psicólogo, de um coach ou, ainda, de um amigo. O importante é encontrar um estímulo para mudar de comportamento.
Saiba mais
Salva-Vida Mirim
Desde o começo de dezembro, a Brasil Telecom vem trabalhando em parceria com a Brigada Militar do Rio Grande do Sul, promovendo o projeto Salva-Vida Mirim, criado em 1997. A iniciativa pretende ensinar crianças de 7 a 11 anos a prevenir acidentes aquáticos e agrega aulas de alongamento, preservação ambiental e morfologia marítima, além de instruções sobre bandeiras, guaritas e cuidados com o mar. O Salva-Vida Mirim é desenvolvido durante os meses de férias de verão e este ano terá cem turmas com cerca de 30 jovens distribuídas em todo o litoral do estado e balneários de água doce. As aulas são ministradas por policiais militares e acontecem em um turno de quatro horas. Para participar, as crianças podem se inscrever nas guaritas localizadas nas praias com uma semana de antecedência, sem qualquer custo. Segundo a Brigada Militar, o projeto, que já envolveu 14 mil crianças, recebeu da Brasil Telecom 30 mil reais nesta temporada.
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Esta coluna é publicada todos os domingos. O espaço é destinado a empresas que queiram divulgar suas ações na gestão de pessoas e projetos na área social, bem como àquelas que queiram dividir suas experiências profissionais. A publicação é gratuita. As histórias publicadas são baseadas em fatos reais. O autor, no entanto, reserva-se o direito de acrescentar a elas elementos ficcionais com o intuito de enriquecê-las. Contato: coluna@debernt.com.br, ou (41)352-0110.



