Em seu primeiro discurso na China, nesta quinta-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o uso do dólar como moeda global.
"Toda noite me pergunto por que todos os países estão obrigados a fazer o seu comércio lastreado no dólar. Por que não podemos fazer nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que não temos o compromisso de inovar? Quem decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade?", questionou o petista.
Lula ainda sugeriu que os países usassem suas próprias moedas nas relações comerciais, indicando que os "bancos centrais certamente poderiam cuidar disso". "Porque que um banco como o Brics não pode ter uma moeda que pode financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre Brasil e outros países do Brics?". O presidente disse que a mudança de moeda seria difícil, "porque tem gente mal acostumada”, mas enfatizou a necessidade da medida.
As declarações foram feitas durante a cerimônia de posse da ex-presidente Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics, em Xangai, nesta quinta-feira (13).
Para Lula, o banco "reúne todas as condições para se tornar o grande banco do Sul Global", além de ser "capaz de gerar mudanças sociais e econômicas relevantes para o mundo". E ainda ressaltou: "o tempo em que o Brasil esteve ausente das grandes decisões mundiais ficou no passado. Estamos de volta ao cenário internacional, após uma inexplicável ausência".
O petista também disse que o Brics precisa "continuar trabalhando pela reforma da ONU, FMI e Banco Mundial, e pela mudança das regras comerciais, precisamos utilizar de maneira criativa o G-20 e o Brics".
Dilma no Brics
Ao discursar no evento, a ex-presidente Dilma Rousseff declarou que pretende buscar "modelos de financiamento inovadores", além de garantir o apoio às comunidades mais pobres e a necessidade de ajudá-las a garantir moradia e condições mais dignas. “Captaremos recursos nos mais diversos mercados mundiais, em diferentes moedas como o renminbi [moeda chinesa], o dólar e o euro”, declarou em seu discurso.
“Buscaremos ainda financiar nossos projetos em moedas locais, privilegiando os mercados domésticos. Nosso objetivo é construir alternativas financeiras robustas para os países membros", disse.
Dilma foi indicada à presidência do banco dos Brics pelo próprio Lula e assumiu o posto no fim de março. Seu mandato vai até julho de 2025. A ex-presidente vai se mudar para Xangai e ganhará um salário em torno de US$ 500 mil ao ano (R$ 2,6 milhões), entre outros benefícios.
O banco – composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai – foi criado após reunião de cúpula dos chefes de Estado, realizada em Fortaleza, em 2014, durante o mandato de Dilma como presidente. Uma das intenções era ampliar fontes de empréstimos e fazer um contraponto ao sistema financeiro e instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Atualmente, a carteira de investimentos é da ordem de US$ 33 bilhões.
Agenda na China
Além da cerimônia de posse da ex-presidente no Brics, Lula visitou em Xangai um showroom da empresa Huawei no início da tarde de quinta-feira, conforme fuso horário local com diferença de 11h no Brasil. O petista foi recebido pelo presidente da empresa, Liang Hua, e o assunto a ser tratado na reunião era referente a tecnologia 5G e sobre projetos para o 6G.
"Visitei o centro de desenvolvimento de tecnologias da Huawei. A empresa fez uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade. Um investimento muito forte em pesquisa e inovação", escreveu Lula.
No ano passado, a empresa chinesa foi proibida de vender equipamentos de comunicação nos Estados Unidos, porque, segundo a Comissão Federal de Comunicações do país (FCC), eles apresentam "riscos inaceitáveis para a segurança nacional". A Huawei é investigada por espionagem no país e a preocupação das autoridades americanas é que torres de celular dos EUA equipadas com aparelhos da empresa chinesa possam capturar informações confidenciais de bases militares e silos de mísseis e transmiti-las para a China.
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha resistências sobre a participação da Huawei nas redes de 5G do Brasil, citando as mesmas preocupações dos Estados Unidos. Porém, as diretrizes para a implementação da tecnologia, aprovadas em 2021, não contêm restrições à empresa chinesa, que fornece equipamentos para as três maiores operadoras de telefonia do país.
Na agenda do petista, também está previsto uma reunião com o CEO da BYD - considerada a maior vendedora de veículos elétricos do mundo em 2022, Wang Chuanfu. E ele ainda tem um encontro com o chefe do Partido Comunista da China em Xangai, Chen Jining.
Após um jantar com Chen, o presidente segue em viagem para Pequim, onde se reunirá com o secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, na sexta-feira (14). No mesmo dia, também consta na agenda presidencial uma reunião, com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji, no Grande Palácio do Povo. Depois, Lula irá depositar flores em uma cerimônia na Praça da Paz Celestial.
Agro gaúcho escapou de efeito ainda mais catastrófico; entenda por quê
Prazo da declaração do Imposto de Renda 2024 está no fim; o que acontece se não declarar?
Rombo do governo se aproxima dos recordes da pandemia – e deve piorar com socorro ao RS
“Desenrola” de Lula cumpre parte das metas, mas número de inadimplentes bate recorde
Deixe sua opinião