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Com o dólar forte, a trajetória de alta da inflação pode levar o Banco Central a antecipar um aumento da taxa básica de juros da economia, a Selic. | Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Com o dólar forte, a trajetória de alta da inflação pode levar o Banco Central a antecipar um aumento da taxa básica de juros da economia, a Selic.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Apesar da artilharia pesada do Banco Central para conter a alta do dólar, a moeda americana voltou na quinta-feira (14), para a casa dos R$ 3,80. O BC chegou a vender US$ 5 bilhões no mercado futuro – volume recorde de recursos para um único dia –, mas a intervenção não foi suficiente para segurar a cotação do dólar. A pressão do cenário externo acabou forçando o BC a anunciar a oferta de mais US$ 10 bilhões na semana que vem.

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O avanço do dólar no dia seguinte ao sinal do banco central americano de que deve subir os juros quatro vezes neste ano já era esperado, mas foi potencializado pelas notícias sobre a guerra comercial entre China e EUA. O governo Donald Trump vai impor, nesta sexta-feira (15), tarifas para a entrada de produtos chineses que podem chegar a US$ 50 bilhões. O anúncio de que o Banco Central Europeu vai encerrar seu programa de compras de títulos no fim do ano também afetou o mercado de câmbio.

A perspectiva de que os juros devem subir mais nos Estados Unidos faz com que investidores realoquem recursos em busca do retorno oferecido pela moeda da maior economia do mundo. Como consequência, todas as demais perdem valor. Moedas emergentes sofrem ainda mais porque muitas economias têm fragilidades por questões políticas ou problemas fiscais.

No Brasil, dólar forte deve pressionar inflação e fazer Selic subir

No Brasil, o dólar mais forte pode provocar uma pressão inflacionária no país, uma vez que muitos insumos são cotados na moeda americana. A trajetória de alta da inflação pode levar o Banco Central a antecipar um aumento da taxa básica de juros da economia, a Selic – possibilidade que já começa a entrar no radar de analistas.

Uma pesquisa do Projeções Broadcast com profissionais do mercado financeiro mostra que cinco deles, de um total de 49, preveem que a taxa vai chegar ao fim do ano acima dos atuais 6,50%. No levantamento anterior, feito em maio, após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nenhuma instituição previa alta dos juros neste ano.

Mesmo entre os economistas que acreditam em manutenção da Selic em 2018, alguns admitem que o cenário ficou mais arriscado com o novo nível do câmbio – que na quinta-feira (14) fechou em R$ 3,80, apesar das intervenções do Banco Central – e a forte volatilidade dos mercados, que passa também pelo aumento dos riscos fiscal e eleitoral no Brasil.

Na pesquisa do Projeções Broadcast, entre as cinco instituições que preveem antecipação do processo de aperto monetário para este ano, apenas uma acredita que isso ocorrerá antes das eleições. As previsões vão de 6,50% a 8,50%.

Eleições preocupam

No Brasil, a principal preocupação é a eleição. O temor dos investidores é que um candidato não reformista seja eleito – o que afasta a perspectiva de mudanças estruturais defendidas pelos economistas.

Para tentar amenizar o enfraquecimento do real, o BC tem agido fortemente. O órgão tem ofertado contratos de swap cambial – que funcionam como uma venda futura de dólar. Há uma semana, o BC informou que colocaria no sistema US$ 20 bilhões em contratos novos de swap, para além da oferta diária de US$ 750 milhões. Com isso, até hoje, o montante total dos leilões chegaria a US$ 24,5 bilhões. De lá para cá, foram vendidos US$ 17,75 bilhões em contratos de swap.

Só na quinta-feira, foram US$ 5 bilhões. Desde 2002, quando o BC começou a usar esse instrumento, nunca haviam sido ofertados tantos contratos: foram 100 mil em três leilões ao longo do dia. Mesmo assim, o dólar subiu mais de 2%.

No início da noite, o BC anunciou que seguirá com a oferta desses contratos para amenizar a volatilidade e oferecer liquidez ao mercado. Em nota, a instituição informou que “estima oferecer montante em torno de US$ 10 bilhões” na próxima semana. O valor citado é menos da metade dos US$ 24,5 bilhões prometidos para a semana que termina nesta sexta-feira. O BC nota, contudo, que o valor “poderá ser ajustado para cima ou para baixo, dependendo do mercado”.

Efeito Fed fez todas as moedas perderem valor

O aperto nos juros dos EUA fez com que moedas em todo o mundo perdessem valor. Levantamento do jornal O Estado de São Paulo e do Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) mostrou que todas as 47 moedas cotadas perderam valor. Até as consideradas “porto seguro”, como dos países nórdicos, caíram.

Na Argentina, a pressão dos investidores foi ainda mais forte e derrubou, além da moeda (queda de 6,54%), o presidente do BC. Na quinta-feira (14), o peso argentino foi a divisa que mais perdeu valor em relação à americana e já são necessários 27,70 pesos para comprar um único dólar. No início da noite, o jornal La Nación informou a queda do presidente do BC argentino, Federico Sturzenegger. Luis Caputo, que ocupava o Ministério de Finanças, será o substituto.

A queda de Sturzenegger e o derretimento do peso aconteceram mesmo após o anúncio da equipe econômica do presidente Maurício Macri de que serão oferecidos US$ 7,5 bilhões nos próximos dias para tentar amenizar a fraqueza do peso. O dinheiro virá do acordo de US$ 50 bilhões do país vizinho com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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