
A economia brasileira encerrou 2010 com um recorde no número de novos empregos com carteira assinada, ao gerar 2,524 milhões de postos de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Com esse resultado, o governo atingiu sua meta de geração de 2,5 milhões de empregos, garantindo também o melhor resultado da série histórica (iniciada em 1992) e superando com folga o recorde anterior, de 1,62 milhões de vagas criadas em 2007.
Apesar do bom resultado, a meta do governo só foi atingida graças ao uso de uma manobra estatística. Ele antecipou os números da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que contabiliza empregos declarados pelas empresas fora do prazo e normalmente é divulgada apenas no segundo semestre de cada ano.
Sem considerar essa mudança na metodologia de cálculo, o número de empregos gerados em 2010 foi de 2,13 milhões de vagas um recorde histórico de qualquer forma, mas abaixo da meta estabelecida pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, para o ano.
Segundo o MTE, essa antecipação será mantida nos próximos anos, com o fim de aprimorar as estatísticas do Caged e retratar com "maior fidedignidade e realidade o mercado de trabalho formal". O objetivo, segundo nota divulgada pelo ministério, é reduzir a defasagem entre os dados divulgados pelo Caged e aqueles com base na Rais.
Grandes empregadores
O setor de serviços foi o maior gerador de empregos, sendo responsável por quase 40% do total de vagas com carteira assinada criadas no ano, com a abertura de 1,008 milhão de postos de trabalho.
O gerente comercial Sabino de Oliveira foi contratado no mês de julho para trabalhar em uma imobiliária da capital que contratou, apenas no segundo semestre, 143 novos funcionários, a maioria nas áreas de administração e de serviços.
"Mudei para o ramo imobiliário porque as condições de trabalho são melhores e a remuneração é maior. O crescimento da área é muito rápido. Tudo acontece com muita velocidade", afirma ele, que atuava na área comercial da indústria gráfica.
A vendedora Rubiara Gomes dos Santos foi uma das 110 funcionárias contratadas por uma rede de lojas de calçados apenas em novembro. Após trabalhar dois anos sem registro, ela trocou o estágio em uma escola de educação infantil por um emprego formal. "Aqui ganho mais. Na mesma semana que procurei já encontrei emprego. Existem muitas vagas na área", diz.
Segundo o ministro Carlos Lupi, o bom desempenho do setor de serviços deve continuar impulsionando a geração de vagas em 2011. A meta do ministério é criar 3 milhões de empregos formais neste ano. Para isso, o ministro conta também com o impulso do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2), do programa Minha Casa Minha Vida e da preparação para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Para o professor Fabiano Abranches Silva Dalto, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a meta é factível, mas depende de uma série de fatores que têm perspectivas não tão favoráveis para 2011. "As medidas de ajuste fiscal anunciadas pelo governo, a intenção de reduzir os gastos públicos e a perspectiva de aumento nas taxas de juros nos próximos meses, que podem inibir os investimentos privados, podem levar ao não cumprimento da meta", avalia. "Outro fator que pode pesar é que a crise na Europa e nos EUA ainda não está resolvida. Se a demanda externa cair, o nível de geração de empregos também tende a diminuir", ressalta.



