• Carregando...
Moeda está cotada em R$ 4,30, em média, nas casas de câmbio, pesando no bolso de quem tem viagem marcada. | Marcelo AndradeGazeta do Povo
Moeda está cotada em R$ 4,30, em média, nas casas de câmbio, pesando no bolso de quem tem viagem marcada.| Foto: Marcelo AndradeGazeta do Povo

A tensão nos mercados provocada pela incerteza eleitoral começa a ser sentida por todos os brasileiros nos preços de produtos que são influenciados pela alta do dólar. Na semana passada, a cotação da moeda americana rompeu a barreira dos R$ 4 e deve continuar sob pressão – além das eleições aqui, fatores externos, como a alta gradual dos juros nos EUA e a guerra comercial do país com a China, devem deixar a cotação do dólar mais volátil.

Produtos que têm o trigo como matéria-prima são os que mais sentirão o impacto, pois metade do consumo do cereal no Brasil depende da produção de outros países, como a Argentina e o Canadá. Mas o aumento de preços não se resume ao pão de cada dia. Na esteira da alta do dólar, estão também produtos de limpeza, gasolina, alimentos e bebidas importados, como vinhos, assim como eletrônicos e outras mercadorias importadas da China. 

O professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marcelo Kfoury explica que cerca de 10% dos produtos da cesta básica contêm matéria-prima cotada no mercado internacional. “Arroz, feijão e petróleo, por exemplo, são influenciados por cotações no exterior”, afirma ele. 

LEIA TAMBÉM: 4 saídas para amenizar a alta do dólar na viagem

O dólar forte e o real fraco, avalia o economista-chefe da Spinelli Corretora, André Perfeito, mostra que o poder de compra do brasileiro está diminuindo e isso em algum momento vai bater no conjunto da inflação. “O câmbio acaba entrando no IPCA pela porta do fundo do IGP-M, que é um índice muito sensível à variação cambial. A gente vive num país que acha razoável reajustar o aluguel de uma casa com índice que oscila em função do valor do trigo, então tem complicações desse tipo.” 

Para ele, o conjunto de preços ao consumidor não deve explodir, mas tende a ficar mais pressionado. Perfeito pondera que, embora o mercado em geral projete o IPCA em 4,17% e o IGP-M em 7,40% até o fim de 2018, sua empresa, a Spinelli, já trabalha com previsões acima disso, de 4,30% para o IPCA e 8% para o IGP-M.

Tendências

Para especialistas, a indefinição do cenário eleitoral fará com que o dólar oscile bastante nas próximas semanas. A moeda poderá variar para baixo com um avanço nas pesquisas de um candidato que defenda a realização de reformas, ou para cima com a perspectiva de um governo que prometa mais gastos públicos. “A preocupação não é o Lula avançar, a preocupação é que Alckmin não consiga o mesmo”, diz Perfeito, referindo-se ao fato de que o candidato do PSDB é à favor das reformas, ponto importante para os investidores. 

A tendência, porém, é de que o piso de R$ 4 se mantenha se não houver atuação do Banco Central. “Assumindo que o Banco Central não deverá atuar, enxergamos a possibilidade de chegar a até R$ 4,50 em uma leitura econômica dos gráficos. Por outro lado, não sobe tão forte, por conta de outros fatores, como reserva e fluxo comercial”, avalia Perfeito.

“O Banco Central pode fazer muito pouco [neste cenário], como aumentar a taxa de juros. Além do desequilíbrio das finanças públicas, temos esta indefinição eleitoral, o que pressiona ainda mais [o câmbio]. Os investidores estão mais avessos ao risco”, avalia o economista-chefe da Modalmais, Álvaro Bandeira. 

Ao mesmo tempo, os economistas não acreditam que a tensão no mercado será maior agora do que em 2002, à vésperas do pleito que elegeu Lula pela primeira vez. "A fragilidade do Brasil hoje é fiscal, e não externa. Então ela não deve se expressar tanto no câmbio", disse em entrevista recente o economista-chefe no país do banco suíço UBS, Tony Volpon.

Ele destaca que a principal diferença entre 2002 e 2018 é o nível das reservas internacionais, hoje quase dez vezes maiores do que as de 16 anos atrás. "O Banco Central não tinha capacidade de sinalizar que poderia conter (a volatilidade)", acrescenta.

À época, a relação entre reservas e dívida externa total brasileira era de 17%. Em 2018, essa proporção deve ficar em 67%, segundo estimativa do Credit Suisse. "O cenário de que a dívida não vai ser paga é muito menos provável. O país pode ter de pagar juro mais caro, mas tem grande capacidade de financiamento", diz o economista Lucas Vilela, do Credit.

Para a cotação real (incluindo inflação) chegar ao patamar de 2002, o dólar teria de ultrapassar a casa dos R$ 7 — algo improvável, segundo os economistas. Na comparação com as corridas eleitorais de 2006, 2010 e 2014, no entanto, a volatilidade registrada até agora é maior.

Vai viajar? Comprar metade dos dólares antes das eleições pode ser bom

Com o cenário, o dólar turismo é comercializado a R$ 4,30 em média. O valor é nada animador para quem está com viagem marcada para os Estados Unidos. Quem pretende embarcar antes das eleições deve ficar muito atento ao noticiário, recomenda o diretor de estratégia e inovação da MeuCâmbio.com.br, Mathias Fischer. Assim, é possível aproveitar para pagar menos no caso de uma possível queda na cotação. 

LEIA TAMBÉM: Por que o dólar turismo é mais caro que o comercial; e como pesquisar o menor custo

E quando estiver por lá, a dica é cuidar com os gastos no cartão de crédito. “Pela dinâmica de cobrança, os gastos serão convertidos em real no dia do fechamento da fatura. Se o dólar continuar a subir, como o cenário político sugere, a tendência é pagar cada vez mais”, orienta Fischer. Quem está em meio aos planos da viagem de fim de ano tem ainda um fôlego. A sugestão de Fischer é comprar metade do dólar antes das eleições e a outra metade depois. 

Mesmo quem tem viagem marcada para destinos que não operam com dólar, como países da Europa, deve ficar atento, caso a intenção seja usar o cartão de crédito para pagar as contas. “O valor em euro de um jantar na Itália será primeiro convertido para o dólar e sobre ele incidirá a taxa de câmbio. Depois, será convertido para real, com mais uma taxa em cima.” 

Para evitar os gastos maiores com a dupla conversão e não ter de levar tanto dinheiro em espécie, a recomendação é optar também pelos cartões pré-pagos. “Assim é possível congelar a taxa de conversão.”

Vai viajar? Euro tb subiu: //bit.ly/2Na1x45😮

Publicado por Vida Financeira e Emprego em Quarta-feira, 22 de agosto de 2018
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]