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Organização e disciplina são fundamentais para freelancers. | Negative Space/Pexels
Organização e disciplina são fundamentais para freelancers.| Foto: Negative Space/Pexels

Por conta das altas taxas de desemprego ou pela vontade de mudar o ritmo de vida profissional, muitos trabalhadores estão tomando as rédeas da própria carreira longe do ambiente corporativo. Uma pesquisa da 99Jobs, Rock Content e WeDoLogos, divulgada no final do ano passado, apontou que o número de profissionais autônomos ou freelancers no país deve aumentar em torno de 20% em 2018.

Entre as principais aspirações de quem aposta na vida de freela é não estar sob o guarda-chuva de um gestor e ter mais tempo livre. O problema é que essa liberdade exige organização para que a equação entre dedicação ao trabalho e momentos de lazer seja saudável.

“O profissional pensa que não terá um chefe, mas nem sempre ele será o chefe de que ele precisa”, diz Luciane Costa, freelancer em Marketing e fundadora do blog Vivendo de Freela.

A jornalista Raphaela Donaduce Flores, 30 anos, após anos como funcionária em empresas, enxergou na vida de freelancer um caminho para dar diversidade aos trabalhos. Fez a transição contando com uma qualidade: disciplina.

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Primeiro, ela passou a trabalhar em empresa por meio turno. Os trabalhos avulsos foram aumentando e, alguns anos depois, o marido dela, o publicitário Caetano Sá Teles, 35 anos, juntou-se à empreitada. Hoje, os dois tocam juntos a Dona Flor Comunicação. Raphaela atuou por pouco tempo como freelancer. O mercado logo exigiu que ela se tornasse uma empresa.

“Muitos clientes, empresas grandes, pediam nota fiscal. Como autônoma, eu acabava pagando mais imposto. Então, abri minha empresa”, conta a jornalista.

Raphaela e Caetano buscaram cursos para entender daquilo que, antes, ficava sob a responsabilidade das empresas em que trabalhavam, como pagamento de INSS e descontos de férias. Prestes a dar à luz o primeiro filho, o casal sabe que poderá contar com o auxílio-maternidade. Eles também desistiram de bancar uma sala comercial e agora trabalham no Catalise Coworking, um escritório coletivo que supriu outra demanda do casal-sócio: queriam trabalhar juntos, mas sem se ver a toda hora.

Cuidado com a gestão do tempo

É na falta de aparar todas essas arestas que muitos dos que almejam uma vida profissional sem chefes pecam. Psicóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP), a coach Bia Nóbrega, da Associação Brasileira de Treinamento & Desenvolvimento (ABTD), explica que a falta de planejamento, aliada à indisciplina, é um dos principais obstáculos ao sucesso dessas carreiras.

“Isso faz o profissional tomar decisões erradas, se posicionar mal. Quem vai para o mercado sozinho precisa conhecer seu perfil, saber o produto que vai trabalhar e estar informado sobre o mercado. Tem de saber qual seu diferencial, quais suas deficiências e, antes de tudo, se programar, porque não terá um salário fixo. Precisa organizar a vida financeira de sua pessoa física e de sua pessoa jurídica”, diz Bia.

A especialista ressalta que essa desordem acaba afetando dois dos principais atrativos de uma vida sem bater ponto. O tão almejado “mais tempo para mim” pode se tornar um tempo mal aproveitado e noites sem dormir para cumprir prazos, e o salário maior, talvez, na prática, seja resumido em mais trabalho e menos remuneração.

“Por que isso? Porque as pessoas não sabem previamente quantas horas vão demandar em um projeto, acabam cobrando errado e trabalhando mais para alcançar determinada renda. Então, é preciso organizar tudo para não perder dinheiro. Outro erro é entrar no mercado cobrando menos para usar o preço como diferencial. Não é bom para o mercado, nem para o profissional, que vai acabar conhecido pelo preço baixo e terá dificuldade em cobrar mais”, alerta.

Impostos e Previdência, você vai topar com eles

Freelas também têm responsabilidades tributárias. Quem prefere a informalidade perde chances de se expandir e ainda pode se complicar com a Receita Federal se receber valores acima de R$ 28.559,70 anuais e não declará-los corretamente. Vice-presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, o contador Celso Luft explica que um dos primeiros passos para atuar como autônomo (considerando aqueles com cursos técnicos profissionalizantes ou graduação superior) é garantir registro no conselho ou órgão de classe.

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O profissional também terá de providenciar um registro no cadastro fiscal da prefeitura do município onde estará atuando. Isso permitirá o recolhimento do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN).

Os profissionais liberais precisam solicitar um alvará de localização, para abrir as portas em determinado endereço ou ao menos informar à prefeitura um ponto de referência. Com isso, mensalmente, o autônomo terá de emitir o Recibo de Pagamento de Autônomo (RPA) e contribuir para Previdência Social, para ter benefícios como auxílio-doença e auxílio-maternidade.

O autônomo também não está livre do Imposto de Renda. Ele terá de declarar seus rendimentos por meio do programa Livro Caixa, no site da Receita Federal. Se obtiver uma renda líquida acima de R$ 1.903,98, terá de pagar imposto conforme a alíquota estipulada pela Receita.

O profissional liberal poderá avançar nessa independência registrando uma empresa. Para grande parte das profissões de Ensino Médio, o caminho mais aconselhado é o registro como Microempreendedor Individual (MEI), criado exatamente para formalizar profissionais que não têm uma atividade regulamentada.

Segundo Luft, para quem atua em áreas que exigem curso técnico ou superior e quer abrir uma empresa de forma mais simples e menos tributada, há opções via Simples Nacional ou pelo Lucro Presumido. Pelo simples, há a opção como Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli), quando é constituída de uma só pessoa como titular do capital social, e a Empresa de Responsabilidade Limitada, a conhecida Ltda, quando há sócios.

Cinco passos para a vida de autônomo

1. Avalie seu perfil

Conhecer-se é fundamental. Avalie o que você gosta de fazer, suas dificuldades no planejamento e na execução dos trabalhos. Assim, você consegue organizar sua rotina e identificar possíveis suportes e apoios de que vai precisar. Uma das questões que mais aparecem nas reclamações de quem opta pela carreira autônoma é a solidão. Considere dividir uma sala ou apostar em um coworking antes de abrir seu escritório pessoal.

2. Faça reservas

A professora Luciana Costa sugere que você guarde algum dinheiro para se manter ao menos oito meses a partir da abertura do negócio ou projeto individual. Depois, com conhecimentos de planejamento financeiro, sempre é importante ter reservas para eventualidades e até para que você possa usufruir de férias e folgas. Lembre-se de que, sozinho, você é quem vai arcar com questões previdenciárias, imprevistos de equipamentos e custos operacionais. Tem de ter dinheiro para isso todos os meses. Não subestime a ajuda de um contador.

3. Faça networking

Participe de fóruns, grupos na internet de profissionais da sua área. Nesses ambientes, você pode dividir dúvidas, trocar boas práticas e ainda aprender com o erro dos outros e fazer boas parcerias.

4. Qualifique-se

Não basta fazer todos os cursos possíveis sobre empreendedorismo, finanças e sobre novidades na sua área somente antes de abrir a empresa ou encarar o mercado como freela. É aconselhável manter-se apoiado em uma boa consultoria de negócios, pelo menos nos dois primeiros anos. É preciso manter o olho nas inovações e aproveitá-las para melhorar seu diferencial. Também observe o que está rolando na sua área em outros países.

5. Crie sua marca

Os profissionais que saem de grande empresas para carreiras solo têm nas mãos, via de regra, um currículo chancelado por corporações consolidadas. Muitos, inclusive, enfrentam dificuldades de largar “o sobrenome” de onde trabalharam. Tome cuidado com isso. Vale mencionar essa experiência na sua apresentação ao mercado, mas não sufoque seu projeto atual com o passado. Esqueça o “sou o fulano da empresa X”, pois agora você é apenas “fulano”. Crie a sua marca e a fortaleça com divulgação e eficiência.

Fontes: Descola – Escola de Inovação Online; Coach Bia Nogueira e Luciane Costa, fundadora do Blog Vivendo de Freela.

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