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Setor de embarque do Terminal 3, em Guarulhos: falta de bancos na área pública é criticada por usuários | Anna Paula Franco / Gazeta do Povo
Setor de embarque do Terminal 3, em Guarulhos: falta de bancos na área pública é criticada por usuários| Foto: Anna Paula Franco / Gazeta do Povo

Teste

Aeroporto novo de Natal abre com problemas

Agências O Globo e Estado

Concedido em 2012 para construção total, o Aeroporto Internacional Aluízio Alves, na Região Metropolitana de Natal, falhou no seu primeiro teste. O terminal iniciou suas operações no sábado pela manhã sem um documento da Receita Federal necessário para receber voos internacionais. Com isso, os voos que vêm do exterior nos primeiros dias de operação terão de pousar no antigo terminal da cidade, o Augusto Severo. O Termo de Alfandegamento deve ser emitido ainda esta semana.

De acordo com o Ministério Público Federal no estado, as instalações sanitárias do aeroporto também necessitam de diversas melhorias. Além disso, uma considerável quantidade de máquinas e tapumes revelam que a obra foi entregue ao público inacabada. Lojas de produtos diversos e até mesmo restaurantes ainda estavam fechados. Um único restaurante aberto funcionou parcialmente, pois o fornecimento de água não estava regular. E o aeroporto não tem sequer uma caixa eletrônico 24 horas.

Do lado de fora, o único acesso liberado ainda está em obras. O acesso Norte, pela BR-406, não está duplicado, e a sinalização é deficitária. O lado Sul não ficará pronto até o início da Copa. Ainda assim, a expectativa é receber mais de 170 mil turistas para o Mundial.

Pool de empresas

Para garantir um melhor atendimento às companhias aéreas durante a Copa, as empresas responsáveis pela restituição de bagagem e oferta de escadas para embarque e desembarque das aeronaves vão formar um pool para operar em 22 aeroportos durante o período de 1º de junho a 31 de julho. Um dos motivos para a união das empresas é o temor de que paralisações de seus funcionários prejudiquem a operação durante os jogos.

A Associação Brasileira das Empresas de Serviços Auxiliares de Transporte Aéreo (Abesata) organizou o pool, que terá a adesão das suas oito associadas, como Swissport, Orbital e Vit Solo, um grupo de empresas que responde por 80% dos negócios no segmento.

Novas concessões

Em 2013, o governo federal leiloou o Galeão, no RJ, e Confins, em Belo Horizonte. Os contratos foram assinados no início de maio. O consórcio Aeroportos do Futuro, formado pela Odebrecht e a operadora Changi, arrematou o Galeão por R$ 19 bilhões, por 25 anos. Confins será administrado por 30 anos pela Aero Brasil, composto pela Cia de Participações em Concessões CCR e operadores dos aeroportos de Munique e Zurique, que deu o lance vencedor de R$ 1,8 bilhão.

Opinião

Orgulho, só depois da Copa

Anna Paula Franco, editora

Ainda não vai ser na Copa que os aeroportos brasileiros vão encher a nação de orgulho. As concessões estão em atividade em apenas três das 12 cidades-sede. Além de São Paulo e Brasília, Natal começou a operar no fim de semana, ainda sem definição sobre voos internacionais. Nas demais, inclusive o Galeão, os passageiros verão tapumes, poeira e andaimes.

A abertura do Terminal 3 de Guarulhos só evidencia aos usuários o quão foram – e são – maltratados até agora. Nem a maquiagem aplicada no andar escuro de embarque dos terminais 1 e 2 em Cumbica foi suficiente para minimizar a diferença em serviços e infraestrutura.

O T3 atrai curiosos que cruzam as esteiras rolantes para dar uma espiadinha no novo espaço. Até porque é no final do Terminal 2 onde estão algumas das novidades gastronômicas trazidas pela concessão. No mais, poucas mudanças depois de encarar o raio X nos velhos terminais, o que torna a reforma no local, planejada para começar em outubro, ainda mais necessária e desejada.

O setor aeroportuário brasileiro recebeu 79% mais investimentos em 2013, comparado ao ano anterior, de acordo com levantamento realizado pela consultoria Inter B., especializada na análise na área de infraestrutura. O aumento ainda é reflexo dos leilões dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos, Brasília e Natal, realizados no fim de 2012.

INFOGRÁFICO: Veja a situação atual dos aeroportos em funcionamento, leiloados para a administração privada

As concessões aceleraram obras e reformas há muito necessárias nos aeroportos brasileiros. Depois de 18 meses, os primeiros resultados começam a aparecer, ainda que velhos problemas façam parte do dia a dia dos passageiros. "Tivemos obras gigantescas em uma velocidade inesperada para o setor, resultado da agilidade da iniciativa privada. A Infraero não faria o que foi feito com a mesma qualidade e no mesmo período", avalia Martha Seillier, diretora do departamento de regulação e concorrência da Secretaria de Aviação Civil (SAC).

O edifício garagem do Terminal 3 em Guarulhos é um exemplo da agilidade das obras. Construído em tempo recorde, tem 2.644 vagas e oito andares. O Terminal 3 também cumpriu o cronograma. De acordo com a GRU Airport, empresa responsável pela concessão, o projeto original foi adaptado para ficar pronto a tempo da Copa do Mundo. Oito companhias aéreas operam no local. As demais serão transferidas depois do evento. Até setembro, 21 companhias vão usar o novo terminal, que vai absorver 80% dos voos internacionais de Guarulhos.

O saguão espaçoso e iluminado é radicalmente diferente dos outros terminais do aeroporto, construído em 1985. Totens de auto check-in, estações compartilhadas e leitura ótica dos bilhetes de embarque são alguns dos exemplos das mudanças na área pública. "Tá bonito, mas parece inacabado. Faltam bancos nessa área", reclama a estudante Amanda Velkof, de 27 anos, acompanhada pela família no embarque para temporada de estudos em Berlim. Neste quesito, o ambiente briga com um comportamento típico do brasileiro, que tem o hábito de levar o viajante para o aeroporto e fazer do programa um passeio familiar.

Para atender a essa demanda, o projeto incluiu uma área de alimentação maior, no piso intermediário entre embarque e desembarque.

Mas as maiores diferenças entre o novo e os velhos terminais estão mesmo após o raio X. São mais de cem locações para lojas de conveniência, e o passageiro encontra ainda um espaço onde estão sendo instaladas grifes de luxo, para começar a gastar antes mesmo de entrar no avião. No desembarque, sete esteiras eletrônicas para restituição de bagagem estão disponíveis em um amplo salão. O desafio agora é estimular a eficiência na prestação de serviços, sob responsabilidade das companhias aéreas, que também começam a sentir os primeiros efeitos das concessões.

As empresas estão otimistas com a entrada da iniciativa privada, principalmente pelos prazos recordes de conclusão de obras e a possibilidade de discutir novos modelos de atendimento ao passageiro. "Operações distintas geram competitividade entre os aeroportos e também impactam nos custos operacionais. Temos registrado altas no aluguel de áreas e na confecção de crachás de funcionários, por exemplo. A expectativa é ganharmos em eficiência", explica o consultor técnico Adalberto Febeliano, da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).

Obra atrasada rende multa

Nem todos os cronogramas foram cumpridos à risca. Viracopos não conseguiu concluir o novo terminal, com capacidade para 14 milhões de passageiros por ano e 28 pontes de embarque em três píeres, além de um edifício garagem com quatro mil vagas e a nova torre de controle. O atraso vai render uma multa inédita que pode chegar a R$ 170 milhões, aplicada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A concessionária garante que mais de 95% das obras estão concluídas, mas não informa novo prazo de entrega.

Para a Copa do Mundo, as seis delegações que desembarcam em Campinas – Costa do Marfim, Japão, Rússia, Argélia, Honduras, Nigéria e Portugal – vão usar o píer A, no terminal em obras. Os demais passageiros ainda estarão restritos aos serviços do atual terminal, que recebeu reformas no valor de R$ 69 milhões, como ampliação da área de embarque, novos banheiros e mais opções na praça de alimentação.

Futuro

Os investimentos da concessionária estão concentrados nas obras das novas estruturas, que vão transformar o aspecto atual do aeroporto. A expectativa é atrair mais companhias aéreas e cobrir a demanda da região.

Para o engenheiro Leonardo Lefkovits, especialista em segurança da aviação, as concessões vão mudar as características dos aeroportos, que devem ganhar em competitividade. Aos poucos, o equilíbrio financeiro com os resultados vai gerar investimentos também em outras áreas, como novas pistas e obras na área operacional. "Concessionárias e operadores terão de andar juntos para prestar melhores serviços e atrair mais voos. E isso pode gerar a demanda pela terceira pista em Guarulhos, por exemplo", diz.

Modelo não é o ideal

Os resultados das concessões aeroportuárias mostram que a Infraero, estatal que respondia pela administração das unidades concedidas e ainda domina o mercado aeroportuário nacional, não tem condições de cumprir as exigências do setor nos últimos anos. A falta de recursos para investimento e o modelo público de contratação de obras são amarras na eficiência da empresa.

Mesmo com os benefícios alcançados até agora, o modelo de concessão poderia ser ainda mais adequado. Para o economista Cláudio Frischtak, presidente da Inter B. Consultoria, a concessão custa ao contribuinte mais do que o necessário, por causa da participação da Infraero como acionista minoritária nas concessões de Guarulhos, Brasília e Viracopos. A estatal detém 49% das ações das unidades. "Essa sociedade gera gastos compulsivos, que oneram ainda mais o Tesouro", aponta.

Além do subsídio cruzado, as concessionárias têm amplo acesso a financiamentos pelo BNDES com taxas mais amigáveis. "Aeroportos são excelentes ativos. Bancos privados e mesmo o mercado de capitais teriam condições e interesse de assumir esses investimentos", pondera.

A participação acionária da Infraero nas concessionárias chamou a atenção do Tribunal de Contas da União. O ministro Aroldo Cedraz de Oliveira recomendou à Anac a fiscalização dos contratos, como as regras de contratação de empresas correlatas às administradoras para execução das obras. Oliveira também solicitou que sejam estabelecidas estruturas de gestão acionária na Infraero. A empresa tem representantes nos Conselhos de Administração e Fiscal, proporcionais à sua participação acionária. E esclarece que tem poder de veto em matérias específicas.

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