
Mais uma vez, o consumo das famílias evitou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrasse uma queda no segundo trimestre deste ano, com alta de 0,6% na comparação com o primeiro trimestre. O resultado, porém, sofreu uma desaceleração frente aos três primeiros meses do ano, quando o indicador havia crescido 0,5%.
Principal componente do cálculo do PIB sob a ótica da demanda (segmentos e tipos de consumo que absorvem os itens produzidos por serviços, indústria e agropecuária), o consumo das famílias completou 35 trimestres consecutivos (desde o último de 2003) de crescimento em relação ao mesmo período do ano anterior.
Apesar da freada, a inflação em níveis controlados, o crédito ao consumo ainda farto em alguns segmentos e o estímulo de redução do IPI para artigos como eletrodomésticos da linha branca animaram as famílias às compras. Por sua vez, o freio que fez os gastos das famílias perderem ritmo do primeiro para o segundo trimestres veio da inadimplência e do endividamento maiores. "O consumo está desacelerando nos últimos trimestres porque o crédito cresce num ritmo mais baixo, a inadimplência aumenta e demanda é menor", confirmou Rebeca Palis, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.
Pelo indicador de quatro trimestres acumulados, o consumo das famílias teria crescido 2,5%, mais do que o dobro da da taxa do PIB nesse período (1,2%). O consumo das famílias tem peso de 60% do PIB e mais do que compensou o fraco desempenho dos investimentos.
Pacotes
O governo vem se esforçando para recuperar a economia brasileira, afetada pela crise internacional, com contínuas medidas de estímulo, que vão desde desonerações fiscais a melhores condições de financiamento aos investimentos. O objetivo é garantir crescimento de 4,5% no próximo ano, número que está sendo encarado como uma meta "ousada" pelo governo.
Há três dias, o governo anunciou um novo pacote de incentivos que envolveu a prorrogação das alíquotas menores do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a alguns setores, como o automotivo e de linha branca, e reduções dos juros cobrados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Algumas dessas ações valem até o fim de 2013.
Analistas revisam projeções para baixo
Agência O Globo
O resultado do PIB do segundo trimestre, mesmo tendo crescido em relação ao primeiro trimestre, foi considerado fraco por economistas de corretoras, consultorias e bancos. Após um crescimento de 0,5% ou 0,4%, na comparação com o trimestre imediatamente anterior , eles já estão revisando para baixo suas previsões para o desempenho da economia brasileira este ano.
Relatório do banco Itaú Unibanco assinado pela equipe do economista-chefe Ilan Goldfajn informa que a previsão de crescimento do país para este ano será revisada para baixo dos atuais 1,9%. A expectativa do Itaú Unibanco era de que o PIB crescesse 0,5% no segundo trimestre. Para a equipe do Itaú Unibanco, o declínio de 0,7% no investimento surpreendeu negativamente. Os economistas do banco esperavam um crescimento de 0,9% neste indicador. O crescimento do consumo, de 0,6%, também ficou abaixo do que o Itaú Unibanco esperava: 1%.
Para o economista Luciano Rostagno, do banco WestLB, o resultado do segundo trimestre confirmou a percepção do mercado e do governo de que a economia vinha operando também em ritmo lento no segundo trimestre. O crescimento do primeiro trimestre do ano foi revisado para baixo, de 0,2% para 0,1%. O economista do WestLB avalia que o crescimento do país ficará abaixo de 2% este ano, contra previsão de crescimento de 3% do governo e de 2,5% do Banco Central. O banco WestLB irá revisar sua projeção de crescimento para este ano, após a divulgação do PIB do segundo trimestre. Segundo Rostagno, a expansão da economia deverá ficar mais próxima de 1,6%, ante os 1,9% esperados anteriormente. "O resultado é fraco. Os entraves à expansão continuam os mesmos mostrados no primeiro trimestre. O investimento continua caindo, embora a um ritmo mais lento. A indústria apresentou um resultado ruim e o setor de serviços continua dando respaldo ao crescimento, com destaque para o consumo das famílias e do governo. Acredito que o ritmo de crescimento ganhe força no terceiro e quarto trimestre, mas ainda assim vamos fechar com crescimento baixo", disse.



