Embora seja apontada como maior responsável pelo aumento do preço do álcool, a entressafra da cana-de-açúcar não é a única culpada pela onda de reajustes. Adriano Rodrigues, diretor do CBIE, cita o crescimento do consumo de álcool no mercado doméstico, impulsionado pelo advento dos automóveis bicombustíveis, que podem ser abastecidos com álcool ou gasolina.
Desde 2003 o país fabricou 1,2 milhão de automóveis leves com essa tecnologia. No primeiro ano, apenas 3% dos carros produzidos tinham o chamado motor "flex". Mas o sucesso foi tal que, na média do ano passado, a proporção cresceu para 54% e atualmente ronda os 70%, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Isso significa que a própria euforia do consumidor com a possibilidade de usar álcool sempre que o preço compensar e estava compensando até pouco tempo atrás colaborou para os aumentos. Dependendo do carro, vale a pena encher o tanque com álcool (que é mais barato mas rende menos) quando seu preço corresponder de 60% a 70% do valor da gasolina. Em Curitiba, há um ano essa relação era de 65%, mas agora está em 73%. A diretora da MB Associados, Tereza Fernandez, lembra que a mesma possibilidade de escolha que elevou os preços pode agora ajudar a segurá-los, uma vez que, ao optar pela gasolina, o dono do veículo reduz a demanda pelo combustível vegetal.
Outra justificativa para a recente escalada é que em 2005 o maior consumo no país foi acompanhado por um bom desempenho das exportações, que atingiram 2,6 bilhões de litros. Na comparação com o ano anterior, houve crescimento de 8% em volume e 42% em valores, limitando ainda mais a oferta interna. Tiago Davino, da consultoria GRC Visão, comenta que a forte subida dos preços do açúcar no mercado internacional, de 77% nos últimos 12 meses, também influenciou. Segundo o Ministério da Agricultura, as usinas brasileiras destinaram 55% do volume de cana da última safra para a produção de açúcar.
Além da combinação entre oferta e demanda, o combate à adulteração tornou-se um ingrediente importante da composição dos preços do álcool. No fim do ano passado, a ANP determinou a adição de um corante laranja ao álcool anidro (aquele que é misturado à gasolina). O anidro, que é isento de ICMS, vinha sendo utilizado por distribuidoras desonestas para fazer álcool hidratado, usado como combustível principal. A prática, chamada de "molhar o álcool", barateava os preços de maneira ilegal. Com o corante, fica fácil identificar quando o álcool hidratado é, na verdade, um anidro "molhado".
O detalhe é que, antes que a obrigatoriedade do corante entrasse em vigor, 40 distribuidoras que detêm 15% do mercado nacional compraram em dois meses mais álcool anidro do que tinham adquirido nos seis meses anteriores. O volume superou até as compras das seis grandes distribuidoras que controlam 80% do mercado, diz o presidente do Sindicombustíveis-PR, Roberto Fregonese. Essa demanda inesperada, comenta ele, também teve efeito sobre o preço nas usinas.
Como se não bastassem todos esses fatores determinantes para a escalada de preço do álcool, o pesquisador Sérgio Alves Torquato, do Instituto de Economia Agrícola (IEA) de São Paulo publicou no site do IEA um texto que menciona um suposto oligopólio do setor sucroalcooleiro. Os produtores, segundo ele, estariam concentrados em três grandes grupos, que detêm de 30% a 40% da produção brasileira de álcool e, portanto, possuem maior poder de barganha junto às distribuidoras. A hipótese é refutada por Rodrigues, do CBIE. "Não se trata de um mercado cartelizado. São 320 usinas produtoras, o que mantém a indústria altamente competitiva."



