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Todo mês, eles se reúnem para falar sobre os seus problemas. Durante os momentos de desabafo, os participantes resumem desafios nas finanças, mostram como estão reduzindo despesas e tentam entender o que está acontecendo ao seu redor. No vale-tudo para buscar um conselho em momentos difíceis, procuram inspiração até em palestras motivacionais. As sessões, típicas de grupos de apoio, vêm fazendo cada vez mais parte da rotina de presidentes de conselhos de administração, de empresas multinacionais e de capital aberto.

Para enfrentar a crise atual, de baixo crescimento e inflação alta, executivos vêm recorrendo a iniciativas que eles próprios classificam de “aconselhamento mútuo”. O presidente do Conselho de Administração da Marcopolo, Mauro Bellini, e filho do fundador da empresa, participa de um desses grupos: o “Conselho de Presidentes”, fundado há quatro ano no Rio Grande do Sul e que chega este mês ao Rio de Janeiro e a Campinas.

“O presidente de uma empresa tem a síndrome da solidão. Numa empresa, só há um presidente. Então, é importante se reunir com outros presidentes uma vez por mês para trocar ideias e buscar aconselhamentos. A gente ainda tem palestras sobre vários temas de interesse. E, num momento como o atual, de desafio econômico, esses encontros se tornam mais relevantes. Recentemente, por exemplo, falamos sobre a melhor estratégia para atuar na Argentina”, disse Bellini, que comanda uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo e com ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Mas, para participar desses encontros, é preciso seguir várias regras. O primeiro é a confidencialidade: tudo que é conversado fica guardado a sete chaves. Não é permitido gravar áudios, por exemplo. É proibido ter empresas do mesmo setor na mesma sala. Assim, os grupos acabam tendo perfil heterogêneo, com representantes de indústria, comércio e serviços. Quem também investe nesse tipo de iniciativa é a Randon, fabricante de autopeças e vagões, com presença em toda a América Latina e ações na Bovespa. David Abramo Randon, presidente das empresas Randon, lembra que uma companhia, por ser “um organismo dinâmico”, precisa da troca de experiência com outras corporações.

“Uma empresa requer monitoramento constante e precisa do compartilhamento de experiências. Uma empresa moderna precisa ter o olhar 360 graus. Já me ajudaram na troca de informações por meio de contatos entre gestores de áreas como recursos humanos, governança, financeiro e tecnologia da informação (TI). Uma das minhas contribuições (que serviram de inspiração a outras empresas) foi o modelo de sucessão que tivemos nas empresas Randon, um processo sem traumas, orientado por consultorias”, disse.

Dernizo Pagnoncelli, que criou o Conselho de Presidentes e é membro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), diz que o objetivo das reuniões - realizadas em hotéis próximos a algum aeroporto - é trocar experiências e debater as expectativas da economia. Além disso, lembra que são feitas visitas técnicas a fábricas de companhias.

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“Recentemente, falou-se muito sobre aumento na produtividade dos equipamentos. A palavra-chave para o momento da economia é inovação. E a melhor forma é buscar conhecimento. Estou ampliando para Rio e Campinas”, disse Pagnoncelli, lembrando que no Rio já há cinco interessadas em participar.

Arthur Lima Motta, presidente da D’Or Soluções, da Rede D’Or, vai fazer parte do projeto de Pagnoncelli no Rio. Para ele, a participação é vital para que a companhia “possa tomar decisões após análise minuciosa das tendências da economia nacional e internacional”.

“É fundamental a troca de percepções entre líderes, normalmente isolados no poder e sem interlocução ou contraponto”, disse Motta.

Outras ações são conhecidas, como a do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), que reúne periodicamente presidentes de empresas em todo o país. Para Diogo Rossi, gerente-geral da Kidde do Brasil, empresa que pertence à UTC Building and Industrial Systems, uma das maiores empresas de proteção contra incêndio do mundo, isso ajuda a conhecer e comparar serviços e práticas empresariais de vários setores.

“Durante as reuniões mensais, há sempre uma palestra que nos traz informações como cenários econômicos, de mercado, de legislação, tributação”, disse Rossi.

O psicólogo e consultor de RH da Top Quality Carlos Eduardo Pereira lembra que o interessante é colocar lado a lado executivos do mesmo porte: “Esses encontros não devem ser usados para brilhar e sim para dividir conhecimento e adaptá-lo a sua empresa. É na crise que se pensa diferente”, disse Pereira.

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