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Fachada de loja da Sicredi, em Curitiba: uma das maiores cooperativas de crédito. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Fachada de loja da Sicredi, em Curitiba: uma das maiores cooperativas de crédito.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Dobrando a esquina, rumo ao Morro da Igreja, em Urubici, um dos cartões postais da serra de Santa Catarina, chama a atenção o letreiro ‘O Bifão’, estampado na parede do bar e lanchonete que carrega o nome. Recentemente, os donos decidiram fazer uma reforma para melhorar o ambiente, mas precisavam de crédito. Ao contrário do que se imagina, essa foi a parte mais fácil da empreitada. “Sem burocracia. Nenhum empecilho. Contrato na hora. Dinheiro direto pra conta. Metade do preço”, resume um dos donos, Luiz Carlos Alves. O dinheiro veio de uma cooperativa de crédito chamada Sicoob, onde há 14 anos está a conta corrente d’O Bifão.

Cheque especial

Enquanto o cheque especial fica em média 11% ao mês nos grandes bancos, nas cooperativas esse valor é de 5,5%. O crédito pessoal é um terço do valor. Nas cooperativas, sai, na média, por 2,1% ao mês.

Casos como esse estão se proliferando país afora. Em busca de juros mais baixos, 7,8 milhões de pessoas e empresas se tornaram associados a cooperativas de crédito, segundo dados do Banco Central. E as cooperativas, que tiveram origem no setor agrícola - caso da Sicredi, que tem mais de 100 anos -, agora se espalham por todos os setores. Esse contingente tem feito as instituições crescerem a um ritmo acelerado. Na média, 20% ao ano - acima dos 16% que foram registrados pelos grandes bancos ou dos 11% de avanço dos bancos médios.

Juntas, as quatro maiores do país - Sicredi, Unicredi, Sicoob e Confesol - já seriam hoje o sexto maior banco de varejo, segundo estudo inédito feito pela consultoria alemã Roland Berger.

E não é exagero de Luiz Carlos, d’O Bifão. Os juros mais baixos são possíveis porque as cooperativas não têm fins lucrativos, já que emprestam basicamente para seus próprios associados, que são, portanto, os donos do negócio. Outro motivo é que os resultados dessas instituições, diferentemente dos bancos, possuem isenção fiscal, segundo conta o chefe adjunto da área de cooperativas do Banco Central, Rodrigo Pereira Braz.

Mas, como diz a máxima americana, “não existe almoço grátis”. Os juros mais baixos da cooperativa também trazem risco aos associados. Por serem donos, eles recebem o rateio dos resultados ao fim do ano, mas também são responsáveis por eventuais prejuízos, ou seja, são chamados a cobrir perdas com seu próprio capital. Braz, do BC, diz que são poucos os casos registrados, mas reforça que é um risco a que se deve ficar atento.

Concorrência

São nos momentos de crise que as cooperativas mais crescem, segundo o presidente da Roland Berger, Antonio Bernardo. Isso acontece porque o crédito se torna mais escasso nos bancos e também porque nas cooperativas o atendimento é de maior confiança entre as partes. Mas, apesar do crescimento acelerado, as cooperativas ainda representam apenas 3% do sistema financeiro e enfrentam o desafio de ganhar mais escala.

Segundo Bernardo, associação, fusão ou compartilhamento seria uma forma eficiente de cortar custos e crescer mais rápido. Ele lembra que em países da Europa, os sistemas cooperados são muito fortes. Na França, por exemplo, quase 50% do sistema financeiro é formado por cooperativas.

No Brasil, a fusão das quatro maiores já é um assunto discutido. O diretor financeiro da Confresol, Adriano Michelon, diz que o primeiro passo foi dado ao ser criado há dois anos o Fundo Garantidor para cooperativas, que cobre, em até R$ 250 mil por pessoa, as perdas em caso de quebra de uma instituição. O presidente da Unicredi, Léo Trombka, diz que o segundo passo está sendo dado neste ano com a exigência de auditorias especializadas em cooperativas.

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