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Poder de compra inflação
Inflação alta e persistente puxou recorde de inadimplência. Previsão de queda nos preços é boa notícia para os consumidores.| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O governo federal reviu para baixo a estimativa de inflação do ano, com movimento seguido pelo mercado, conforme expectativa apontada no Boletim Focus mais recente, que aponta para um IPCA de 7,54% ante 8,27%, há quatro semanas. A baixa deve servir de alívio para o bolso do brasileiro em 2022. A corrosão no poder de compra, porém, provocada pela inflação alta e persistente, só terá compensação a mais longo prazo.

Até lá, o segundo semestre deve ser, sim, de algum fôlego, mas não de folga. A expectativa é de que a inflação caia em decorrência da redução de preços importantes, como combustíveis e energia (puxados para baixo, principalmente, pela limitação na alíquota do ICMS). O barateamento já pode ser sentido pelo consumidor, mas será insuficiente para cobrir o rombo deixado pelos muitos meses de inflação superior a 10% – registrada no país desde outubro do ano passado.

O economista-chefe da Serasa Experian, Luiz Rabi, destaca o atual recorde de inadimplência como consequência dessa inflação corrosiva. Em maio, eram 66,6 milhões de inadimplentes, o número mais alto desde 2016. "Já estamos com mais de seis meses de crescimento praticamente ininterrupto da inadimplência e foi justamente quando a inflação ultrapassou os 10%. É justamente essa inflação elevada e persistente que tem feito crescer a inadimplência. Porque os salários são todos corroídos", completou.

Rabi destaca que a situação atual é muito diversa, por exemplo, de superendividamentos observados no passado. "A gente não está com um problema de inadimplência porque as pessoas se endividaram demais ou porque teve um boom de crédito. Foi o efeito devastador que a inflação nesse nível – e persistentemente nesse nível – faz sobre a capacidade de pagamento de milhões de brasileiros: o bolso ficando mais curto".

Uma medida do achatamento no poder de compra e das consequências do ambiente inflacionário, segundo Rabi, está no tamanho da inadimplência relacionada a gastos básicos. O primeiro setor em concentração de inadimplência, segundo a Serasa Experian, é o de bancos e cartões, com 28,2%, mas é seguido de perto pelas chamadas utilities. São as contas de água, luz, gás. "São basicamente gastos essenciais e representam o segundo maior contingente de inadimplência", com 22,7%.

Outros sintomas das dificuldades no bolso são percebidos no carrinho de compras e nos hábitos de consumo.

Dados divulgados nesta segunda-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre) demonstram que o consumo das famílias retraiu 2,1% em maio comparado com abril e que gastos menos essenciais foram evitados. Segundo Juliana Trece, coordenadora da pesquisa Monitor do PIB-FGV, "na atual conjuntura, a inflação e juros em patamares elevados reduzem o poder de compra das famílias. Isso se reflete no consumo de produtos menos essenciais, como é o caso de semiduráveis e de duráveis, que perderam força e retraíram em maio".

Os bens não duráveis (aqueles de consumo imediato, de primeira necessidade) tiveram crescimento de 1% em maio e os serviços ficaram estáveis no consumo das famílias. Já o consumo de bens duráveis e semiduráveis recuaram em maio na comparação com abril, 0,5% e 1,2%, respectivamente.

Inadimplência e inflação andam de mãos dadas

A redução nos preços da gasolina e dos demais combustíveis vai desacelerar a inflação, mas não deve ser suficiente para devolver poder de compra ao brasileiro ou reverter os índices de inadimplência. Na avaliação do economista-chefe da Serasa Experian, isso deve ocorrer apenas na medida em que a subida na taxa básica de juros, implementada pelo Banco Central, provoque os efeitos esperados, não antes de o ano acabar.

Para Luiz Rabi o cenário trará algum alívio, mas restrito e temporário, uma vez que não ataca a "raiz do problema"."Vamos ter uma queda de inflação por causa do impacto dessa queda do ICMS em alguns preços, pode ter até deflação agora para junho, ou julho, mas reverter essa alta da inadimplência depende de uma queda consistente e permanente da inflação".

Nesse sentido, o economista reforça que o processo é lento, com expectativa de juros altos ao menos até parte do primeiro semestre de 2023 e, por fim, compara: "inflação e inadimplência andam de mãos dadas, têm mais ou menos o mesmo comportamento, elas sobem de elevador, mas descem de escada".

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