Mais de 3,7 mil pessoas se inscreveram no principal programa do Sebrae Paraná para empreendedores, o Próprio, entre os meses de janeiro e maio deste ano. O número representa um aumento de cerca de 80%, se comparado aos interessados no mesmo período do ano passado. Os índices da entidade são um bom termômetro da disposição dos paranaenses por empreender e, principalmente, um sinal de que muita gente está começando o negócio pelo caminho indicado pelos consultores: pelo planejamento.
"Este está sendo o ano do empreendedorismo", diz a consultora do Sebrae/PR em Curitiba, Clarice Fidalski. O número é ainda mais expressivo se comparado ao total do ano passado: durante todo o ano de 2008, cerca de 5 mil pessoas passaram pela regional Centro-Sul do Sebrae/PR interessadas no Próprio. A crise financeira internacional explica, em parte, essa disposição, já que tem levado muito gente que ficou desempregada a buscar uma forma nova ou complementar de renda, segundo a consultora.
Mas Clarice diz que o empreendedorismo por oportunidade também tem crescido. Segundo a última Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgada em março pelo Sebrae, para cada brasileiro que empreende por necessidade, há dois que o fazem por oportunidade.
A consultora destaca a importância de se preparar para o novo desafio. "Muita gente quer empreender, mas nem conhece o negócio, o que aumenta muito o risco", diz. "Planejamento é fundamental para qualquer empresa, independentemente do tamanho."
O consultor Kenzo Otsuka, da Trevisan Consultoria, também acredita que o planejamento é indispensável. "Essa é uma questão negligenciada pelo empresários de médio porte. E quando a gente pensa em micro e pequenos, o problema se agrava. Não há no Brasil uma cultura de planejamento."
Mais do que um amontoado de papéis, no entanto, Otsuka diz que o planejamento tem que ser uma ferramenta para tomada de decisões. "O exercício de refletir sobre o próprio negócio é importante para você saber para onde vai." Ele lembra ainda que o planejamento é um processo dinâmico: "Não tem fim. É algo que você está sempre aprimorando ao longo da vida da empresa."
Um primeiro passo, explica o consultor de negócios Luis Alberto Wille, professor do FAE Centro Universitário, é entender o mercado os concorrentes e os clientes. "Para o pequeno empresário, a melhor forma de fazer isso é ele mesmo fazer uma varredura, conversar com clientes e conhecer outras empresas que vendem o mesmo produto ou serviço", orienta. Mas os consultores alertam que é preciso prestar atenção a outros quesitos, como preços, financiamento e estrutura operacional.
Paixão
O empresário Flávio Alberto de Lima foi buscar orientação no Sebrae para responder essas perguntas antes de abrir a loja de auto-peças Grand Prix, no bairro Novo Mundo, em Curitiba. "A mecânica sempre foi a minha paixão. Mas eu sabia que não bastava ter a vontade e o dinheiro no bolso", lembra o antigo montador de móveis, empresário há poucos menos de três meses.
O planejamento lhe deu a clareza, por exemplo, da necessidade de investimentos constantes na primeira fase do projeto. "Hoje não tenho lucro. Apenas pago as contas e reinvisto o que ganho", diz. "Eu tinha o isqueiro e o estopim na mão. O Sebrae me mostrou: acende aqui que é mais fácil", compara.
Às vésperas de comemorar um ano à frente da loja de produtos naturais Terra Nativa, Alexandre Mitroskewski diz que o planejamento foi fundamental para ter uma visão mais ampla do negócio. Depois de ser mandado embora da escola onde trabalhava há 10 anos, o ex-professor de biologia comprou uma loja já em funcionamento. O estudo do mercado demorou cerca de 3 meses, com o auxílio do Sebrae. "Mas se fosse fazer hoje, investiria ainda mais no planejamento, para ter mais certeza do resultado."




