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A disparada do dólar já provoca acúmulo de mercadorias importadas nos principais portos brasileiros. Em duas semanas, aumentou 50% o tempo de permanência de produtos nos armazéns e nos pátios dos terminais do Porto de Santos, segundo a presidente da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), Agnes Barbeito.

No Porto de Salvador, a história se repete. Há máquinas avaliadas em até 100 mil euros aguardando o sinal verde do importador para passar pela alfândega, conta o diretor do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), Dagoberto Lemos.

Para escapar da alta do dólar, de 31,7% só este mês - fechou ontem valendo R$ 2,30 -, o importador prefere deixar as mercadorias no armazém a arcar com os custos de nacionalização, como impostos e taxas, que levam em conta o valor do dólar do dia. Hoje, por exemplo, o dólar bateu nos R$ 2,5 e, no fim do dia, recuou 3,15%.

"A capacidade operacional nos terminais de carga do Porto de Santos está acima do nível considerado ideal", diz Agnes, que também preside o Tecondi, um dos maiores terminais para contêineres em Santos.

Segundo ela, a capacidade de utilização dos armazéns e dos pátios supera 100%, com empilhamento de produtos e redução das áreas disponíveis para manobras. "Se continuar nesse ritmo, dentro de duas semanas teremos um gargalo. Daí, vão colocar a culpa no porto."

O empresário Omar Abu Jamra Junior, diretor da Nutri.com, importadora de nutrientes usados por indústrias alimentícias, como Sadia e Perdigão, está com 80 toneladas de matérias-primas importadas no Porto de Santos.

"Não vou nacionalizar esses produtos até que o dólar se estabilize num patamar de pelo menos R$2,00", diz. O prazo para desembaraço da mercadoria é de até 120 dias a partir da data de chegada ao País. Vencido o prazo, cabe à Receita decidir o destino da mercadoria.

A opção de empresários como Jamra Junior de deixar o produto no porto se justifica pelas elevadas despesas com a nacionalização dos produtos. Entre ICMS, PIS/Cofins, IPI e Imposto Importação, o desembolso do importador chega a 40% do valor CIF em dólar, isto é, que inclui gastos com frete, seguro e o custo do produto. Isso significa que uma mercadoria com valor de importação de US$ 100 pode chegar a custar até US$ 140 depois de nacionalizada.

Depois da modernização dos portos, Agnes diz que o custo de armazenagem ficou competitivo. Nas suas contas, gasta-se o equivalente a 0,65% do valor da mercadoria em dólar para manter o produto no porto por um período de 15 dias. O despachante aduaneiro Orlando Francini, da agência de comércio exterior Magnitude, alerta que o custo de estocagem dobra a partir da segunda semana, mas, mesmo assim, é vantajoso reter a mercadoria no porto diante do dólar nos níveis atuais.

"A situação é preocupante. Os importadores estão aguardando vencer o limite do prazo de desembaraço da mercadoria no porto para ver se o câmbio recua", diz Lemos, da Unafisco. Ele observa que o quadro se agravou no Porto de Salvador nas duas últimas semanas.

Segundo Agnes, o acúmulo de mercadorias ocorre na maioria dos portos e inclui não apenas matérias-primas e componentes para indústrias, mas também bens de capital e itens de consumo, especialmente da cesta de Natal.

"Se a questão do câmbio não for resolvida rapidamente, teremos produtos mais caros para as festas de fim de ano e até corremos o risco de desabastecimento", diz Lemos, da Unafisco.

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