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Acrópole, em Atenas, sob nuvens negras: o retrato da crise europeia | Louisa Gouliamaki/AFP
Acrópole, em Atenas, sob nuvens negras: o retrato da crise europeia| Foto: Louisa Gouliamaki/AFP

Reação

Governo deve reforçar medidas contra quadro internacional

O governo deve reforçar seu arsenal de medidas para tentar blindar a economia brasileira da piora do quadro internacional. Além da queda na taxa de juros, para tentar segurar o consumo interno, o governo pode, assim como em 2008 e 2009, diminuir o compulsório – dinheiro que os bancos são obrigados a deixar no Banco Central – para que as instituições possam liberar mais crédito no mercado.

Medidas de desoneração, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) também podem ser adotadas, mas há uma limitação, segundo Rafael Bistafa, economista da Rosenberg e Consultores Associados. "O crescimento real da arrecadação está caindo, o que é um limitador para novas desonerações". As desonerações previstas no pacote industrial lançado pelo governo devem ser sentidos no segundo semestre. De acordo com ele, o governo acredita que medidas de estímulo não devem pressionar a inflação, já que a crise internacional tem também como efeito frear a alta dos preços. (CR)

O mundo inicia a semana com os olhos voltados para os problemas na Europa que se acentuaram nos últimos dias, com temores de que a corrida bancária na Grécia se alastre também para outros países da zona do euro, como a Espanha. A deterioração do quadro internacional amplia a chance de contágio da crise sobre a economia brasileira, cuja recuperação pode ser mais lenta do que o esperado.

A prévia do Produto In­­terno Bruto (PIB) medida pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgada na última sexta-feira, apontou para uma contração de 0,35% na economia brasileira em março em relação a fevereiro. A retração foi maior do que a esperada pela maioria dos analistas de mercado.

Para eles, se a confiança internacional diminuir radicalmente, o crédito global pode secar, assim como durante a crise de 2008, prejudicando investimentos. Além disso, a queda na demanda internacional pode comprometer ainda mais as exportações brasileiras.

O cenário na Europa piorou consideravelmente na última semana, quando os bancos da Grécia sofreram grandes retiradas de dinheiro, que chegaram a mais de 1,2 bilhão de euros (R$ 3 bilhões), de acordo como jornal britânico Financial Times. O montante por enquanto representa menos de 1% do total de depósitos bancários, mas o movimento mostra a preocupação dos poupadores com a frágil situação do país e com a possível saída da Grécia da zona do euro. Quanto mais evidente a possibilidade de saída do país do bloco, maiores as chances de uma corrida bancária.

As preocupações se acentuaram com uma série de eventos que colocaram em teste a credibilidade dos bancos espanhóis. A percepção dos analistas é de que a Espanha aparece, depois da Grécia, como a "bola da vez" da crise europeia.

O Bankia, quarto maior banco do país, foi nacionalizado há pouco mais de uma semana. Suas ações chegaram a cair quase 30% na bolsa de Madri por causa de relatos não confirmados de que correntistas teriam retirado 1 bilhão de euros em depósitos.

Para completar, a agência Moody’s rebaixou a classificação de risco de 16 instituições financeiras do país – inclusive o Santander e o BBVA.

"Um problema mais grave na Espanha pode dar à crise internacional uma proporção muito maior do que a que vimos até agora. A Espanha não é a periferia da Europa. Isso aliado às incertezas aos acordos de cumprimento de políticas fiscais na região ainda vão gerar muito nervosismo ", diz José Guilherme da Silva Vieira, professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Segundo ele, a crise de confiança pode ser, dessa vez, ainda maior do que em 2008, com potencial para frear investimentos e aumentar o desemprego. "De certa forma, os Brics estão perdendo um pouco a aura de que eram menos vulneráveis. Basta ver a desaceleração do crescimento da China", diz.

Para Rafael Bistafa, economista da Rosenberg e Con­­sultores Associados, o cenário internacional mais hostil adia a recuperação da economia brasileira. Crescer 4% a 4,5%, como ambicionava o governo já está praticamente descartado pelo mercado. "Nós mantivemos nossa previsão de 3% para o PIB desse ano, mas com forte viés de baixa", acrescenta.

Segundo Luciano D´Agos­­­tini, economista do grupo de pesqui­­sa Macroeconomia Estru­­turalista do Desen­­­volvimento, o risco de contágio da crise internacional na economia brasileira passou de "moderado para médio". "A solução para a crise na Europa está longe do fim, com o crescimento das probabilidade de a Grécia sair da zona do euro e da piora do cenário para Espanha, Itália e Irlanda", diz. Segundo ele, mantidas as atuais condições a economia global caminha para um cenário muito parecido com o que se viu em 2008 e 2009. "No fim de 2008 houve o estancamento do crédito, que só foi retomado no início de 2009. A demanda internacional deve cair e afetar as exportações brasileiras. E o desemprego deve aumentar nos próximos meses", afirma ele. Para o economista, a economia brasileira deve crescer no máximo 2,7% em 2012.

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