O presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou neste domingo (9) que a preocupação com a inflação não deve ser esquecida em razão dos esforços para aquecer a economia e combater a crise financeira.
Em entrevista concedida em São Paulo, onde participou da reunião do G20, Strauss-Kahn disse que o uso de ferramentas de apoio fiscal contra a desaceleração da economia, como ampliação de gastos, deve ser pensado cautelosamente em países que têm histórico recente de problemas inflacionários, como o Brasil.
"Eu não culpo de maneira alguma que o governo brasileiro e o banco central estejam preocupados (com a inflação)", disse, referindo-se às ações recentes do BC brasileiro que, diante da crise, optou por interromper o ciclo de altas na taxa Selic que vinha mantendo desde abril. A taxa de juros oficial do país é de 13,75% ao ano.
"Não é porque estamos em um período em que a inflação está melhor do que há seis meses que poderemos nos livrar de qualquer preocupação sobre isso", afirmou. "A preocupação hoje globalmente é provavalmente mais sobre crescimento do que inflação. Mas não significa que não há preocupação com inflação."
Mais gastos
Strauss-Kahn afirmou ainda ter defendido durante as discussões do G20 a aplicação de políticas de expansão fiscal para estimular o crescimento da economia. Ele afirmou, no entanto, que a receita não serve igualmente para todos os países. Segundo ele, as políticas fiscais e monetárias devem levar em conta o cenário específico de cada economia.
"Pode parecer surpreendente que FMI está argumentando por apoio fiscal (ajuda governamental), onde é possível, e ainda mais surpreendente que todos do G20 concordaram com isso. Onde é possível, não em todo lugar, este tipo de apoio tem que se materializar", disse o presidente da instituição.
Como exemplo de auxílio bem-sucedido, Strauss-Kahn citou o pacote econômico anunciado neste domingo pela China. Segundo ele, as medidas estão em linha com o que o Fundo havia pedido ao país há cerca de dois meses.
Além disso, ele disse acreditar que ações coordenadas sejam mais eficazes do que medidas tomadas isoladamente por um ou outro país.
O presidente do Fundo se disse satisfeito com o comunicado apresentado no final do encontro, e disse esperar que as propostas sirvam de base às discussões da cúpula realizada em Washington no dia 15 de novembro.
Cenário de crise
Na avaliação de Strauss-Kahn, o panorama atual da economia mundial é "cinza". Ele destacou que, pela primeira vez no período pós-guerra, o Fundo tem uma previsão negativa para as economias dos países avançados.
"(Pode haver) até uma larga revisão no crescimento dos emergentes, se é que eles ficarão positivos", disse, acrescentando que todo o crescimento mundial em 2009 deve vir de países emergentes.
O presidente do FMI classificou como "natural" a posição expressada em discursos recentes do Ministro Guido Mantega, que pediu reformulação do Fundo e disse que os países emergentes são pouco retratados na instituição.
"É uma visão tradicional", afirmou, lembrando, porém, que Mantega tem o direito de reivindicar mais espaço. "Todo membro do FMI pode dizer que ele dizer que ele não é representado o suficiente, o que pode ser verdade em alguns casos", disse Strauus-Kahn.



