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Internacionalização

Cultura e pirataria inibem investida na China

Apesar do potencial de mercado, país asiático atraiu, até agora, poucas empresas brasileiras – apenas dez têm operações industriais em terras chinesas

Para muitos, China ainda é vista como o país das “quinquilharias” | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Para muitos, China ainda é vista como o país das “quinquilharias” (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Nenhum país reúne hoje tantos atrativos para grandes empresas quanto a China. A mão-de-obra é barata, exportar é fácil e o mercado interno cresceu em ritmo frenético nos últimos anos – combinação que tornou o país um alvo quase inevitável de investimentos. Mas, apesar de todo esse potencial, as empresas brasileiras ainda têm uma presença tímida no país. Embora nove entre dez companhias tupiniquins assegurem que querem investir na terra dos chineses, poucas têm partido para a prática e investido em fábricas lá. Cerca de 30 empresas brasileiras têm algum tipo de atuação e apenas dez têm operações industriais na China, segundo levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). É pouco se comparado às 600 mil companhias que se instalaram por lá na última década, com investimentos de US$ 720 bilhões.

Uma pesquisa inédita começou a ser feita pela entidade para tentar descobrir a causa do desinteresse das brasileiras. O primeiro levantamento teve início no segmento de máquinas e motores. Já foram ouvidas 250 empresas, de um total de 400 que serão entrevistadas, e os resultados apontam para um quase total desconhecimento sobre o mercado chinês.

A China é vista como um país basicamente comprador de commmodities, apesar de adquirir 70% dos bens industriais do mundo. "Hoje é feio falar que não está nos planos investir na China, mas, na prática, poucas empresas têm realmente planos para aquele país", diz Rodrigo Maciel, secretário executivo do CEBC.

Primeiras

O time de brasileiras na China é formado hoje por empresas como a Vale, Embraco, Weg, Embraer, Votorantim e Aços Villares. Outras, como Sadia e Gerdau, procuram formas de produzir por lá por meio de parceiros. Do Paraná, a Bematech, fabricante de produtos de automação comercial, começa a dar os primeiros passos na China e a BS Colway tem planos de investir no país até 2010.

Para o consultor Elias Antunes, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), que participou do processo de instalação da Vale no oriente, "falta visão às empresas brasileiras". De acordo com ele, as empresas nacionais ainda vêem a China como o "país das quinquilharias, da pirataria e da burocracia". "A China fez, em 30 anos, muito mais do que o Brasil no comércio internacional. Corremos o risco de não aproveitar oportunidades por desconhecimento. Hoje é mais rápido abrir uma empresa na China do que no Brasil."

Cautela

Entre as empresas brasileiras, no entanto, ainda prevalece a cautela em relação ao jeito chinês de fazer negócios. A principal dificuldade está em entender a burocracia chinesa, o modo de agir do governo local e as peculiaridades da mão-de-obra. "As barreiras cultural e de comunicação são outro desafio, além da falta de regras claras e de um arcabouço jurídico que garanta, por exemplo, a propriedade intelectual", diz o analista da GO4! Consultoria, Christian Majczak. Algumas multinacionais, como General Motors e Volkswagen, por exemplo, viram seus produtos serem copiados por montadoras chinesas.

Mas, apesar desses problemas, as grandes empresas persistem na investida, dispostas a atender a enorme demanda local ou a exportar com custos baixos. O mesmo não ocorre com as companhias de médio porte, que, segundo Majczak, contam com menos fôlego para esperar pelo retorno do investimento. "As grandes, mesmo com percalços, mantêm suas operações porque estão mais capitalizadas e sabem que, mais cedo ou mais tarde, o resultado virá", diz.

Apesar da timidez das empresas, o número de executivos brasileiros que são destacados para trabalhar na China cresce a cada dia. Segundo Antunes, consultor da Fiep, a versatilidade e a flexibilidade são características muito valorizadas no país. "Tanto é que grandes multinacionais têm levado executivos do Brasil para lá. "A Fiat montou toda sua estrutura na China com pessoal brasileiro. A Siemens e o Citibank também levaram talentos garimpados por aqui", afirma.

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