
Um levantamento feito com exclusividade para a Gazeta do Povo pelo instituto Paraná Pesquisas mostra que cumprir resoluções de ano-novo é mais difícil do que parece. Na pesquisa, realizada em Curitiba entre 18 e 21 de dezembro, 81% dos entrevistados que planejavam fazer algum tipo de mudança na virada do ano disseram que conseguiriam atingir seus objetivos em 2009. É bastante otimismo diante do fato de que apenas 48% daqueles que fizeram resoluções para 2008 chegaram aonde queriam.
Esse contraste entre expectativas e resultados reais vem sendo estudado pela economia comportamental. Os cientistas têm apontado que os seres humanos não tomam decisões da maneira como a economia tradicional prevê: maximizando os ganhos individuais e pesando os riscos de cada operação. "Na verdade, nós adotamos o que chamamos de atalhos mentais ao tomar decisões. É uma maneira rápida e imprecisa que temos para avaliar os dados e que causa resultados enviesados", explica a psicóloga Vera Rita de Mello Ferreira, autora do livro Psicologia Econômica Estudo do Comportamento Econômico e da Tomada de Decisão.
No caso da resolução de ano-novo, as pessoas subdimensionam as dificuldades para atingir as metas. É uma tendência prever que o futuro será melhor do que o passado, enquanto no mundo da economia tradicional a melhor forma de antecipar o futuro é estudar padrões do passado. De fato, temos memória curta e, como mostram as bolhas financeiras, como a que levou à atual crise, os mercados são bem humanos nesse aspecto.
"É muito mais fácil dizer que vou economizar 15% da minha renda durante o ano que vem do que deixar de gastar em alguma coisa que quero hoje", diz o economista Jurandir Sell Macedo Jr., especialista em finanças comportamentais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em outras palavras, tendemos a cair em tentações no dia a dia que, vistas de longe, parecem facilmente evitáveis.
O efeito econômico dessas pequenas falhas no processo de tomada de decisão é que no mundo real as pessoas compram coisas das quais não precisam, pagam mais do que essas coisas valem e caem nas estratégias de marketing das empresas. Além disso, é comum que as pessoas economizem menos do que deveriam e se endividem mais do que gostariam.
Muitas das resoluções de ano-novo têm um perfil puramente econômico. Os principais objetivos dos curitibanos, segundo o Paraná Pesquisas, são comprar ou reformar a casa, economizar, pagar as contas e melhorar a situação financeira. Outras metas têm um perfil mais social, como passar mais tempo com a família e cuidar da saúde. Nos dois casos, porém, é possível aplicar os resultados dos estudos em economia comportamental.
Pesquisas feitas nos Estados Unidos, por exemplo, mostram que campanhas de trânsito são mais eficientes quando dizem que a maioria das pessoas respeita as regras. Assim, placas dizendo que só 1em cada 100 motoristas dirige com cinto de segurança são melhores do que sinais que lembram a obrigatoriedade de se usar o dispositivo. Gostamos de imitar uns aos outros.
Para quem quer economizar, é melhor andar com amigos poupadores do que com os endividados gastadores. Em um grupo onde economizar é um objetivo socialmente aceito e colocado em prática fica muito mais fácil trocar o restaurante caro por um mais barato.
Outra característica das decisões humanas é que achamos melhor não ter de decidir. Os planos de previdência, por exemplo, funcionam pensando nessa característica. O dinheiro para a aposentadoria é descontado do salário antes que se tenha tempo para gastá-lo. Conhecendo esse lado, muitas empresas montam estratégias de vendas que oferecem serviços grátis por algumas semanas, mas que passam a ser cobrados se o cliente não se manifestar. Por inércia, muita gente fica com assinaturas de internet e revistas que não são lá muito satisfatórias.
"O ponto-chave da economia comportamental é que agimos de forma automática em algumas situações, mesmo que isso contrarie nossa visão de longo prazo", comenta Jurandir Macedo. Como acabar com o automatismo é impossível, o ideal é aprender a conviver com ele.




