![A rentabilidade é apertada [do trigo], mas acredito que a margem ainda será positiva.Modesto Daga, produtor e consultor. | Edson MAzzetto/Gazeta do Povo](https://media.gazetadopovo.com.br/2008/08/b5d88f439fe77ff6beef81bcaeb15ad2-full.jpg)
Dos três grãos mais cultivados no Paraná, o trigo pode precisar de apoio governamental à comercialização, enquanto soja e milho terão sua rentabilidade comprometida. O problema está na alta dos custos dos fertilizantes, aponta um levantamento realizado pelo Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). O estudo mostra que a participação desses insumos no custo de produção aumentou significativamente nos últimos cinco anos no Paraná e pode comprometer o resultado de algumas dos principais grãos cultivados no estado. "No geral, os gastos todos aumentaram, mas o grande vilão é mesmo o fertilizante", avalia Flávio Turra, gerente técnico da Ocepar. Apenas na última safra, alguns formulados foram reajustados em mais de 100%, calcula.
No caso do trigo que está sendo colhido, a participação dos fertilizantes no desembolso total subiu de 18% na safra de 2002 para 26,5% em 2008. Conforme os cálculos da Ocepar, para cultivar um hectare, o triticultor paranaense gastou com esses produtos quase R$ 380. Com relação à safra passada, o custo total por hectare aumentou 26,8%, para R$ 2.104. Fazendo as contas, a margem deve ser negativa. O custo de produção por saca é de R$ 37,40 por saca, enquanto o preço médio ao produtor projetado pelo levantamento deve ficar entre R$ 30 e R$ 36.
"Se o preço de mercado ficar mesmo abaixo do custo de produção, talvez o governo precise auxiliar o escoamento da produção do Paraná para as regiões Norte e Nordeste do país via PEP [Prêmio de Escoamento de Produto]", afirma Turra. Ele ressalta, entretanto, que esses mercados não são consumidores tradicionais do grão paranaense. "Para eles, muitas vezes fica mais barato importar trigo do que buscar no Sul do país", diz.
Outro problema é que para ter direito a uma fatia do R$ 1,5 bilhão disponibilizado pelo governo federal para a equalização de preços, a cotação de mercado teria que não somente ser inferior ao custo de produção, mas também cair abaixo do preço mínimo de garantia da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para o trigo tipo 1 (pão melhorador), variedade cultivada no Paraná, o preço de referência do governo é de R$ 28,80 por saca. Isso já contabilizando o reajuste de 20% anunciado no Plano Safra 2008/09.
As quedas de preços que costumam ocorrer a partir de agosto, quando se inicia a colheita nacional, preocupam agrônomo e produtor Modesto Felix Daga, da Dagaplan, empresa de consultoria de Cascavel, no Oeste do estado. Para ele, a saca do cereal, que estava cotada entre R$ 43 e R$ 45 na época do plantio, não deve passar de R$ 33 durante o pico da colheita. "A rentabilidade é apertada, mas acredito que a margem ainda será positiva", avalia. Daga aposta no volume de produção para minimizar a elevação do custo de produção. Ele diz que a expectativa é de uma safra boa, apesar de problemas com pragas e doenças. As geadas de junho, afirma, não comprometeram a produção. Na sua região, a colheita deve ser iniciada na segunda quinzena de agosto.




