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Quando os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) se sentarem à mesa a partir desta terça-feira (28) para debater os rumos da taxa de juros brasileira, a Selic, estarão "entre a cruz e a espada" diante do atual cenário econômico mundial.

Com os recentes cortes de juros adotados por países como EUA e Inglaterra para tentar impedir uma recessão global e estimular a economia, o Banco Central de Henrique Meirelles terá que se questionar frente a dois caminhos divergentes: baixar a taxa de juros para combater a crise ou elevar a Selic para controlar a inflação?

"Fazia tempo que a gente não tinha uma reunião tão difícil de adivinhar o que eles vão fazer", admite o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Fábio Kanczuk. Ele, porém, arrisca um palpite: dificilmente o Copom vai aumentar os juros.

Kanczuk acredita que o receio de sinalizar uma tendência excessivamente contrária aos principais bancos centrais do mundo deve prevalecer sobre o ímpeto de controlar a inflação – fortemente alardeado pelo presidente da instituição, Henrique Meirelles.

"Tem esse receio de fazer papel de idiota em uma situação grave. As pessoas podem pensar que o BC está biruta: o mundo acabando e ele elevando juros? (...) É importante que o BC não pareça maluco. Isso deve pesar forte", afirma Kanczuk, da USP.

É a mesma opinião de Paulo Francine, do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Fiesp, para quem "aumentar a Selic agora seria entrar no campo da loucura, e reduzir seria o campo da ousadia. A prudência recomenda ficar quieto".

"Na reunião de outubro, o Copom está atento a muita incerteza. A gente acha que eles ficam parados agora para ter mais informação. Em dezembro, tomam outra decisão", concorda Marcela Prada, da consultoria Tendências.

Aposta de alta

Apesar da tendência mundial de cortes, alguns analistas enxergam a possibilidade de novo aumento na taxa, que teve quatro elevações consecutivas nos últimos meses e hoje está em 13,75% ao ano. É o caso de Cristiano Souza, economista do Banco Real. Para ele, a elevação da taxa – mesmo que na contramão do executado por outros países – é coerente com a lógica da realidade econômica nacional.

"É contramão, mas o Brasil só andou na contramão da crise até agora. A crise não veio dos países emergentes, então eles entraram nela com a economia aquecida. Estão em um ciclo diferente dos países desenvolvidos. Pode até parecer contramão numa foto global, mas faz sentido para o Brasil", diz o economista, que aposta em alta de 0,5 ponto na taxa.

Além disso, ele considera a possibilidade de as inúmeras medidas tomadas pelo BC para regularizar a oferta de crédito no país surtirem efeito, tornando o cenário econômico menos sombrio - o que poderia acelerar o consumo.

Essa linha também é defendida por André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Acredito que o Copom vai continuar com sua meta de priorizar o combate à inflação. Mas os movimentos da Selic devem ser mais discretos, talvez um aumento de 0,50 ponto agora e mais 0,25 para o final do ano".

Para Souza, do Real, uma elevação se justificaria porque a alta recente do dólar já se reflete nos índices de preços. "As últimas divulgações dos IGPs têm mostrado que os produtos industriais no atacado já aparecem contaminados pelo câmbio. Isso é um efeito que vai contaminar também a inflação do ano que vem", disse. Olho no PIB

Para alguns economistas, no entanto, a saída mais provável para o BC é mesmo manter a Selic inalterada na semana que vem, já que as ameaças de inflação já são menores do que antes em razão da desaceleração econômica e da queda nos preços das matérias-primas. Nesse cenário, garantir a expansão do PIB pode ser mais relevante.

"Para 2009, a tendência é que, como resultado dos aumentos anteriores e do próprio desaquecimento econômico, haja uma menor pressão sobre os preços", diz Alcides Leite, professor de mercados financeiros da Trevisan Escola de Negócios.

"Além disso, a desaceleração global enfraquece o preço das commodities. Isso mostra que, para 2009, a inflação deve ser menor que esse ano, dentro do centro da meta de 4,5%, sem que haja aumento de juros. Um eventual aumento dos preços fica na dependência do comportamento do câmbio", completa.

Para Kanczuk, o ciclo de elevação de juros no Brasil já vai além do necessário e deveria ter parado nos 13,25% ao ano. Ele prevê uma queda no ritmo de crescimento na economia no ano que vem, para cerca de 3% no ano, e resultados trimestrais de expansão zero.

Segundo Braz, da FGV, a pressão do câmbio nos preços ainda é discreta, pelo menos no varejo. Na opinião de Leite, o aumento no câmbio demora pelo menos dois meses para gerar repasses nos preços.

"As commodities que dão origem a alguns tipos de produtos vulneráveis a esse tipo de aumento, como derivados de trigo e soja (pães, biscoitos, macarrão e óleo de soja), estão em queda no mercado internacional. No entanto, uma seqüencia do dólar em um patamar alto vai acelerar a contaminação dos preços", explica o economista da FGV.

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