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Trabalho

Denúncias de assédio moral se multiplicam no Paraná

Número ainda é considerado baixo, mas Ministério Público o classifica como preocupante, porque apenas uma minoria chega a ser revelado

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Nos últimos cinco anos, o número de processos de investigação sobre denúncias de assédio moral cresceu mais de 5 vezes no Paraná, saltando de 24 registros em 2004 para 128 em 2009, segundo dados do Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR). O número de processos ainda é considerado baixo, em função da disparidade entre as denúncias que chegam ao órgão e a realidade dentro das empresas. Mesmo assim, a alta de mais de 430% mostra que a cada ano cresce a atenção em torno do problema.

Curitiba concentrou mais da metade dos procedimentos de todo o estado, com 80 inquéritos abertos em 2009, englobando cerca de 60% dos processos no Paraná. Os números contemplam apenas os registros de procedimentos, e não de reclamações, já que uma mesma empresa pode ser alvo de mais de uma denúncia, que será apurada pelo mesmo procedimento já instaurado.

"O número de denúncias ainda é pequeno. Isso porque as pessoas que sofrem com o assédio temem perder seus empregos. Geralmente, quando existe a denúncia é porque a situação já tornou-se insuportável ou o funcionário deixou a empresa", explica a procuradora do Tra­­balho Viviane Weffort.

Este foi o caso da bancária Rita Linhares (nome fictício), que fez a denúncia depois que se afastou para tratamento psiquiátrico por causa de uma depressão, desenvolvida em razão do assédio sofrido no ambiente de trabalho. "Traba­­ lhei por três anos na central de cartões de crédito de um banco, lidando com atendimento aos clientes. Por si só, essa função gera pressão psicológica, já que é a porta de entrada de problemas e reclamações. Além disso, havia um esforço muito forte para o cumprimento de metas de vendas, com cobrança contante do supervisor. Quem não atingia a meta – que poderia subir arbitrariamente no meio do mês – era tratado como um ‘pária’, e cobrado diante dos colegas nas reuniões por ter prejudicado a equipe", relata.

Segundo Rita, havia até mesmo horários determinados para que os funcionários pudessem ir ao banheiro e o tempo de uso não poderia ultrapassar três minutos. "Caso contrário, recebíamos uma ‘carta de orientação’. Com três dessas advertências, corria-se o risco de ser demitido", diz.

A bancária Janaína Torres (nome fictício) também deu início a um processo por assédio moral contra o banco em que trabalha. Funcionária da tesouraria da empresa, ela conta que a onda de assédio teve início quando o departamento em que trabalhava foi transferido para São Paulo. "A intenção era transferir os funcionários para lá ou demiti-los. No meu caso, como não aceitei a transferência e tenho estabilidade por fazer parte da Cipa [Comissão In­­terna de Prevenção de Acidentes], começou a pressão para que eu pedisse demissão", diz. Janaína afirma que passou a receber um grande volume de tarefas excessivamente trabalhosas e a ser cobrada pelo cumprimento de metas que considera impossíveis. Ela conta que também enfrenta tentativas de dificultar a execução do seu trabalho e cita como exemplo o caso em que sua superior imediata não autorizou a liberação de sua senha de acesso ao sistema. "Tra­­balhar virou um pesadelo. Co­­mecei a não dormir e a sentir medo na hora de chegar ao banco. Sem­­pre ouvia casos de colegas com depressão e achava bobeira, mas só quem passa por isso, quem vive essa angústia, sabe o quanto o assédio prejudica a qualidade de vida do trabalhador. Agora estou to­­mando antidepressivo e fazendo terapia", conta.

Sônia Mascaro Nascimento, doutora em Direito do Trabalho pela USP, explica que nos últimos anos o tema vem sendo trabalhado dentro das empresa com programas preventivos. "Ainda é difícil perceber os resultados, mas este é o caminho. A partir do momento em que a conscientização é levada para dentro das empresas, a tendência é de queda no número de ocorrências", diz. Segundo a especialista, para ter efeito, este processo de educação deve envolver não apenas o trabalhador, mas também os executivos, as chefias e a própria direção da empresa.

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