
Nos últimos cinco anos, as histórias que se contam sobre Tunas do Paraná são de uma cidade em conflito com o crescimento. O município cortado pela Estrada da Ribeira, a 87 quilômetros de Curitiba, viu o asfalto trazer o máximo que se poderia esperar em termos de exploração econômica e atração de novos moradores. E os efeitos foram quase todos inversos aos desejados: muita gente chegando para ficar e pouca estrutura para receber.
Tunas tem 84% de sua área cobertos por pinus plantados na década de 70, quando o governo federal promoveu incentivos fiscais para o reflorestamento. Todas as árvores que foram esquecidas na região estavam crescidas, prontas para o corte, quando o asfalto chegou. Bastou a pavimentação da BR-476 ligar Tunas a Curitiba para dezenas de reflorestadoras se instalarem na cidade e, com elas, milhares de pessoas em busca de emprego. "Saíam mais de 100 caminhões com madeira por dia daqui", comenta o assessor de gabinete da prefeitura, Levi Camargo. Até hoje, quem passa pela estrada no fim da tarde conta facilmente mais de dez caminhões carregados de toras de pinus pelo caminho.
Como o trabalho era farto e não exigia mão-de-obra especializada, a exploração da madeira trouxe a Tunas todo tipo de visitante. A cidade pacata teve de aprender não só a trancar a porta de casa e do carro, mas também a viver conviver com brigas de bar, que acabavam em morte.
Fora a violência, houve demanda exagerada por vagas na escola, atendimento médico e ligações de água e luz que a cidade não tinha como atender. A situação só melhorou há um ano, quando quem só queria explorar começou a ir embora e o orçamento do município passou a corresponder melhor ao crescimento populacional.
Hoje, segundo a prefeitura, 60% das empresas do ramo da madeira trabalham com reflorestamento e 40% na manufatura, principalmente fazendo lâminas. A cidade tem, ao todo, 22 empresas industriais de madeireiras. A população praticamente dobrou, mas em compensação o orçamento municipal passou de R$ 3 milhões anuais em 2002 para R$ 7 milhões este ano quase 2,5 vezes o que era antes.
Quem montou negócios na cidade quer aproveitar para minimizar os custos, já que a época de dólar baixo representa dificuldades para o setor madeireiro. Adhemar Vieira de Araújo Neto, diretor da F.V. de Araújo, diz que 80% do trabalho administrativo da empresa visa a redução de custos, já que 95% da produção é para exportação. "Tivemos de retirar dinheiro de outros investimentos para manter a produção", informa. A empresa, que emprega 135 pessoas, está instalada na cidade há três anos e, um mês atrás, abriu uma segunda sede.
"O complicado desta região sempre foi o escoamento. Agora este problema se limita às estradas vicinais, que ligam a floresta à fábrica", diz Araújo. A menos de um quilômetro dali, a Tunas Timber, de proprietário holandês, fabrica painéis de madeira que são enviados para a Europa. Carlos Alberto Farias, gerente de produção, garante que a empresa têm planos de longo prazo para a região. "Compramos uma área de 220 alqueires nesta semana, em Adrianópolis, e temos planos de comprar mais duas fazendas, para atingir mil alqueires. É a área que a empresa precisa para fazer o manejo da plantação de pinus", explica. Para quem é da região, e não tinha perspectiva de emprego, trabalhar em uma das empresas instaladas nos últimos anos pelo menos é uma chance de melhorar de vida. Vanessa Nascimento Ribas, de 19 anos, vê no trabalho como classificadora de madeira uma oportunidade para pagar os estudos de enfermagem. "Vim de Adrianópolis para Tunas, porque lá não tinha onde trabalhar. O que eu quero mesmo é ser enfermeira", conta.



