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Mercado de trabalho

Desigualdade da renda cresce, aponta Dieese

Curitiba – A desigualdade da renda no Brasil passou a ser uma das maiores preocupações do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), que está completando 50 anos de atividade. Quando foi criado em 22 de dezembro de 1955 e nas décadas seguintes, os estudos do órgão se voltavam para a inflação e as perdas que ela provocava nos salários dos trabalhadores. A partir da década de 90, as atenções se voltaram para as questões do emprego e desemprego.

Para falar sobre a desigualdade da renda, dentro das comemorações de aniversário, esteve ontem em Curitiba o economista e professor Márcio Prochman, da Universidade de Campinas (Unicamp). Segundo ele, em 1980 para cada R$ 2 que circulavam na economia, R$ 1 dizia respeito à renda do trabalhador. Em 2003 (que é o último dado disponível), de cada R$ 3 que circularam no país, apenas R$ 1 estava ligado ao trabalho. Isso significa que somente 36% da renda no Brasil é proveniente do trabalho, contra 50% das décadas anteriores. Em outras economias como as dos Estados Unidos, França e Canadá, entre 60% e 70% do dinheiro em circulação é proveniente do rendimento do trabalho.

Para Prochman, três motivos são responsáveis pelo agravamento da desigualdade da renda no país. O primeiro é a desestruturação do mercado de trabalho verificada nas duas últimas décadas diante da expansão do desemprego. O segundo motivo é o que ele chama de "desassalariamento", ou seja, o crescimento das ocupações não assalariadas, como o trabalho por conta própria, a maior contratação do número de estagiários ou a terceirização de serviços. O terceiro ponto é a geração de postos de trabalho precários e de baixa remuneração.

O economista alerta que o aumento da competição no mercado de trabalho tem reprimido os salários. "Temos hoje uma má distribuição do tempo de trabalho. O que se verifica é que as empresas estão aumentando o número de horas ao invés de fazer novas contratações. De cada dois trabalhadores, um tem uma jornada superior a 44 horas semanais. O uso abusivo de horas extras acaba deprimindo os salários", enfatiza. Prochman também informa que dos 21 milhões de aposentados, 6 milhões continuam no mercado de trabalho, já que a sua renda é tão baixa que se obrigam a trabalhar.

Na opinião de Prochman, o Brasil precisaria crescer entre 5% e 6% ao ano para oferecer emprego aos mais de 2 milhões de pessoas que ingressam anualmente no mercado.

O membro da direção técnica nacional do Dieese, Ademir Figueiredo, apresentou ontem o mapa da desigualdade no Paraná, mostrando que 1% dos mais ricos detém 17% da renda do estado, enquanto que 50% da população mais pobre responde por 14% da renda. Outra constatação é a nefasta concentração no campo. Os 5% maiores estabelecimentos do Paraná concentram 50% da área total das empresas agropecuárias analisadas no estado.

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