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Estudo

Desigualdade de renda cai com menos força

A queda da desigualdade na renda do trabalhador perdeu ritmo em 2005 e 2006, apesar dos ganhos reais do salário mínimo nos dois anos – de 9% e 13%, respectivamente. A conclusão é do estudo "Redistribuição Trabalhista Recente" do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que mostra forte avanço na distribuição de renda no país entre março de 2002 e junho de 2006. Esse aumento ficou concentrado, contudo, no primeiro semestre de 2004, período em que não houve ganho real do mínimo.

O coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, economista-chefe do Centro, acredita que o Brasil, talvez pela primeira vez na sua história recente, esteja mudando a característica do bolo de distribuição de renda com sustentabilidade. A segunda conclusão é que o caminho para a redução da desigualdade não está apoiado sobre aumentos no salário.

De acordo com o estudo, de 2002 a 2006, a participação dos 50% mais pobres no total da renda aumentou de 10,11% para 12,2%, enquanto a parcela apropriada pelos 10% mais ricos caiu de 49,12% para 46,89%. O indicador que mede a desigualdade da renda do trabalho (índice de Gini) caiu de 0,633 em 2002 para 0,609 em julho de 2004 e alcançou 0,600 em junho deste ano – a taxa varia de 0 a 1, e ponto zero indica a distribuição de renda ideal).

Paralelamente, a fatia da população que se encontra abaixo da linha de pobreza – com renda domiciliar per capita abaixo de R$ 120 ao mês – encolheu de 23,95% em março de 2002 para 18,57% em junho de 2006.

Contudo, esse avanço na distribuição da renda ficou concentrado no primeiro semestre de 2004. Apenas entre abril e julho daquele ano, a participação saltou de 10,5% para 11,62% no caso da metade mais pobre da população. Neste período, o avanço do mercado de trabalho foi o principal responsável pelo crescimento entre os pobres. "Um crescimento à chinesa", compara Neri. "Os pobres, nesta época, conseguiram trabalhos melhores. Foi uma espécie de espetáculo do crescimento, mas só a preços populares."

Já no período entre julho de 2004 a junho de 2006, os mais pobres praticamente não ganharam espaço – o aumento na participação é de 11,62% para 12,2%. Mesmo assim, a participação dos mais ricos no bolo da renda continua caindo, de 47,65% para 46,89%. Este período é considerado pelo coordenador como "ligeiramente pró-pobre e anti-elite". "Eu diria que pelo menos a queda (na desigualdade) que houve está mantida. A redução em 2004 foi maior que no Plano Cruzado, mas desta vez ela foi sustentável e se manteve, ainda que tenha perdido ritmo."

A explicação para a desigualdade social seguir estável, segundo o economista, nos efeitos negativos do aumento do salário mínimo (como demissões e informalidade), que acabam compensando os efeitos positivos. Por outro lado, a transferência de recursos do Estado para a população, em programas como o Bolsa Família, contribui para que a desigualdade siga em queda. "O salário mínimo figura como a principal política de combate à pobreza, mas agora os dados mostram que pode não ser bem assim."

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