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Em países como Turquia e Argentina, as pessoas já compram bitcoin  como alternativa ao dólar | Bigstock/
Em países como Turquia e Argentina, as pessoas já compram bitcoin como alternativa ao dólar| Foto: Bigstock/

As incertezas que têm impulsionado a elevação da cotação do dólar nas últimas semanas também afetam o mercado de criptomoedas ao menos de duas formas. Por um lado ficou mais caro para os brasileiros adquirir bitcoins, já que a moeda digital, internacionalmente, é cotada pela norte-americana. Por outro, para alguns analistas, frente à instabilidade política e do câmbio, o bitcoin acabaria se posicionando como uma alternativa de reserva de valor para investidores que acreditam na criptomoeda a longo prazo.

O cenário externo e as incertezas domésticas estão pressionando o câmbio, avalia Gerson Mazer, diretor de risco e compliance da Hashinvest Capital Gestora de Recursos. Mas esses mesmos fundamentos, segundo ele, justificam o investimento em bitcoin, que é independente da situação econômica interna, não é confiscável e é aceito em todo o mundo.

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“O bitcoin é uma nova alternativa ao dólar e ao ouro, como porto seguro. O amadurecimento, tanto técnico quanto regulatório, das criptomoedas vai ditar o seu ritmo de valorização”, prevê Mazer. Essa é uma posição polêmica e contestada por vários economistas, que afirmam que a alta volatilidade do bitcoin e o fato de ele não estar atrelado a nenhuma atividade ou valor da economia real o desqualificariam como reserva de valor.

Mas para Mazer, em momentos de crises internacionais, a segurança que a moeda digital traz vai acabar mudando o patamar de preço de algumas criptomoedas.

“Na Turquia, o volume das exchanges aumentou muito com a desvalorização da moeda local, que, em apenas três dias, se desvalorizou 20% na semana passada, enquanto a inflação atingiu 16%. Somente a exchange Koinim cresceu 66% durante essa crise. Isso mostra que o bitcoin vem sendo mais uma alternativa de ativo seguro”, analisa Luiz Calado, economista-chefe do Mercado Bitcoin. No mês passado, o país enfrentou forte crise atrelada à especulação do câmbio.

Ele explica que existe uma relação de preço entre o bitcoin e o dólar, mas não há uma relação direta de câmbio. Na semana passada, o dólar atingiu o pico de R$ 4,21 elevando, por tabela, o preço do bitcoin. Quando o real desvaloriza, o bitcoin valoriza, mas é preciso lembrar que a criptomoeda também oscila em dólar.

“Diferentemente de outros investimentos, em que, quanto mais você investe, melhor será o seu rendimento, com as criptomoedas independentemente do seu volume financeiro o rendimento será o mesmo. Todos os investidores são tratados de forma igual”, distingue Calado.

Ele ressalta, ainda, que o investidor pode comprar frações de bitcoin. Isso não quer dizer que, passadas as eleições, se o dólar voltar a cair, haverá uma corrida de compras da moeda digital. Tudo vai depender da estratégia de cada investidor. Para quem tem uma visão de longo prazo, pode ser um bom momento para investir. Calado destaca que, nos últimos cinco anos, o bitcoin teve uma valorização de 10.958%.

Em 2017, o Mercado Bitcoin transacionou R$ 4,5 bilhões. De julho do ano passado até agosto de 2018, o ganho foi de 186%. Em 30 de agosto do ano passado, o bitcoin custava US$ 4.581,98 (R$ 17.197). Em 30 agosto deste ano, a moeda era cotada a US$ 6.983, o equivalente a R$ 28.560.

Corrida pelo Bitcoin em 2018 é imprevisível

Calado diz que não há como prever o volume de bitcoin que a empresa irá transacionar em 2018 devido à volatilidade tanto do dólar quanto do bitcoin.

“Tudo vai depender do preço. No ano passado, foi mais ou menos nesta época que o preço do bitcoin começou a disparar e, quanto mais ele mais sobe, maior o volume. Ainda em setembro, a moeda chegou a US$ 6 mil; em novembro, a US$ 9 mil; e fechou, em dezembro, em US$ 19 mil. Acompanhando a subida, o volume foi crescente”, diz Calado.

Um dos fatores foi o fato de os mercados futuros norte-americanos aceitarem o bitcoin. Outro foi a corrida das pessoas físicas para começarem a investir. Quanto mais gente querendo comprar, mais o preço aumenta. Este ano, fatos positivos, como a regulação da criptoeconomia por parte dos governos, são fatores que gerariam motivos para uma nova onda de valorização da moeda.

Crises políticas e econômicas aceleram compra de bitcoin

As crises, por outro lado, levam as pessoas a comprarem as moedas digitais para se protegerem.“Em períodos de instabilidade como durante as crises da Turquia e da Argentina, as pessoas estão comprando bitcoin, e esse é um movimento novo que ainda não chegou ao Brasil. O que as pessoas têm de ter consciência é de que este é um investimento volátil e é preciso ter uma visão de longo prazo. Se a pessoa acredita que o dólar vai subir e confia no bitcoin, pode ser uma boa alternativa de investimento”, aconselha.

João Canhada, CEO da Foxbit, diz que, para entender a formação do preço da moeda, é preciso levar em conta que o Brasil representa 0,3% do volume de negociação global de bitcoin. E assim, como a cotação do dólar aqui está volátil, o investidor vai ter a cotação do dólar no Brasil multiplicado pelo preço do bitcoin em dólar, somado à taxa de remuneração do vendedor.

Alternativa para quem já tem reserva em dólar

Para quem já tem reservas em dólar (e não em reais) a compra de bitcoin pode ser uma forma de se proteger seus investimentos. “O fato de o dólar estar alto não é tão relevante porque quem está comprando a moeda digital já usa o bitcoin como reserva de valor, e aumenta o interesse em algum grau”, diz Canhada. Isso porque não é simples comprar dólar; enquanto que, na sua avaliação, o bitcoin acaba tendo o mesmo efeito na carteira do investidor e não tem a mesma regulamentação que o dólar e o ouro têm.

Ele admite que, com o dólar alto, o investidor brasileiro que só tem reais adquire menos bitcoins. Mas, para quem tem capacidade financeira compatível, a cotação da moeda americana é indiferente.

“Se a pessoa tem o equivalente em reais a US$ 100 mil e quer proteger essa quantia atrelada ao dólar, o preço do bitcoin não é relevante. Ele está usando a moeda para se proteger da volatilidade cambial”, explica Canhada.

No ano primeiro semestre do ano passado, a Fox Bit transacionou R$ 1 bilhão. Neste ano, em igual período, o volume transacionado mais do que dobrou para R$ 2,1 bilhões. Para Canhada, a elevação do dólar eleva o preço e o interesse pelo ativo.

“Há um conjunto de variáveis, como o dólar elevado e o preço do bitcoin em dólar caindo. Uma pessoa que está se expondo ao bitcoin agora tem preocupação em relação ao preço do ativo (em dólar). Mas quem tem o objetivo de se expor a dólar não está preocupado com o preço do ativo, porque provavelmente, em algum momento, vai converter os bitcoins em dólar”, esclarece Canhada.

Riscos para quem pretende fazer remessas para o exterior

Ele alerta, porém, que há implicações legais para quem compra bitcoins para trocar por dólar, contando com a elevação da moeda americana. Esse tipo de transação pode ser entendido à luz da legislação cambial do Brasil como uma remessa ilegal de câmbio. Outro ponto de atenção é que a moeda digital tem uma demanda maior do que a oferta disponível por um ativo que já é escasso. Por essa situação, há um spread, que faz com que um “dólar bitcoin” seja bem mais elevado do que o dólar comercial.

“Esse é um problema de liquidez do mercado, que deve ser corrigido com o tempo. Mas acaba que ele não é tão eficiente para quem busca obter dólar com bitcoin. O investidor pode até se expor ao dólar usando bitcoin, mas, se o seu objetivo é fazer uma remessa usando o bitcoin, isso não é eficiente porque o bitcoin no Brasil é de 4 a 5% mais caro do que no cenário internacional. É mais barato pagar o IOF da maneira tradicional”, recomenda Canhada.

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