O dólar fechou o dia de ontem com leve valorização, mas continua na casa de R$ 1,90, nível equivalente ao de setembro de 2008, no início da turbulência econômica. Ainda que os analistas de mercado indiquem que a tendência da moeda norte-americana é de baixa, ainda é cedo para falar em mudanças e promoções no mercado de produtos importados. Segundo executivos do setor, para que essa queda se reflita no varejo, é necessário que o câmbio pare de oscilar e fique em um patamar "confiável" durante alguns meses.
No entanto, é difícil que ocorra essa estabilidade, segundo o diretor comercial da importadora de alimentos e bebidas Porto a Porto, Alceu Bobato. Como as importadoras trabalham com tabelas de câmbio que só são revisadas a partir de mudanças concretas no valor da moeda, ele avalia que não haverá mudança significativa nos valores dos importados até o fim do ano. "A tendência é que o câmbio continue flutuando de acordo com a economia internacional, portanto não se repassa nada para os lojistas. O preço não vai subir nem descer", diz.
O motivo para o tratamento de médio prazo nos valores de câmbio é simples: "A partir do momento que eu planejo a compra de um contêiner da Europa, são 60 dias de espera. De outros pontos das Américas, a demora é de 35, 40 dias. Então a conta é sempre uma surpresa, porque vou ter de pagar o câmbio do dia da chegada", diz. Os patamares para a revisão dessas tabelas seriam os "marcos psicológicos" de cada R$ 0,10 na cotação, ou seja, estabilidade em R$ 1,90, R$ 1,80 ou R$ 1,70.
Bobato destaca que, em 12 meses, o dólar permanece valorizado em cerca de 18%, e que nesse caso houve um repasse parcial de custos ao mercado. "Hoje estamos trabalhando com defasagem de 3%, o que não é nenhum absurdo de acordo com o nosso negócio. Posso dizer que é bem sustentável durante um bom período", diz. Apenas na última semana, o dólar chegou a se desvalorizar quase 5%.
O prestador de serviços em logística Alejandro Bouret, mesmo trabalhando frequentemente com importação de roupas dos Estados Unidos, não está muito satisfeito com os valores do dólar. Isso porque ele também trabalha com exportação de carne de aves, setor que depende de um dólar valorizado para ter mais lucro especialmente em dias de crise. "É claro que existe vantagem no dólar baixo para trazer roupas, mas elas têm um valor tão baixo que R$ 0,20 no câmbio não fazem muita diferença. São fabricadas na Ásia", destaca. Questionado se o mercado está errado em prever novas quedas no câmbio, ele desdenha. "As previsões mudam o tempo todo."
Sem viagens
Assim como há fatores externos para definir a presença maior ou menor de importados no fim do ano, o segmento de agências de viagem também não está conseguindo aproveitar o dólar baixo porque aguarda sinais de melhora da pandemia de gripe suína. Levantamento informal feito pela Associação Brasileira de Agentes de Viagem (Abav-PR) aponta que o mercado, até então aquecido especialmente pelas promoções de passagens para destinos do Mercosul, hoje está esfriando e migrando mais uma vez para as praias do Nordeste.




