
São Paulo - A taxa de câmbio caiu ontem pelo sexto dia consecutivo, para R$ 1,970, o que significa um decréscimo de 1,94% sobre a cotação de quinta-feira. Bilhões de dólares aplicados no país trouxeram o preço da moeda americana para menos de R$ 2 pela primeira vez em oito meses. Desde o dia 21, a taxa se desvalorizou 3,29% enquanto no mês a queda chega a 9,67%.
Contra o fluxo não há argumentos, eis a nova máxima do mercado cambial brasileiro. "A oferta de divisas é intensa tanto pelo lado financeiro quanto pelo comercial. Acontece o óbvio: a cotação cai mesmo", diz Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez.
Os grandes investidores externos são atraídos para o Brasil pelas perspectivas de ganhos que o país oferece no momento. O juro básico (10,25% ao ano) é um dos maiores do mundo. Isso estimula a chamada arbitragem: pegar dinheiro emprestado em países onde a taxa é pequena e aplicar nos ativos locais para ganhar a diferença.
Além disso, a economia brasileira não está se desacelerando tanto como outras, daí a aposta de que sairá da crise antes e melhor do que o resto do planeta. As empresas do país devem se beneficiar de tal panorama, então os investidores também compram ações dessas companhias na bolsa. Até o dia 26, o saldo de aplicação dos estrangeiros (compras de papéis menos vendas) estava positivo em R$ 5,059 bilhões.
Viagens e varejo
Fonte de preocupação para exportadores, a valorização do real pode trazer alívio ao bolso do brasileiro. No varejo e no setor de turismo, a perspectiva é que o novo patamar da moeda, se sustentado, resulte em queda de preços ao consumidor.
A Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav) afirma que, desde fevereiro, o setor tem oferecido tarifas promocionais para tentar reaquecer o mercado política que ganha força no novo cenário cambial. A entidade diz já sentir sinais de recuperação das vendas dos pacotes internacionais.
Já no varejo os efeitos da queda do dólar devem demorar um pouco mais para serem sentidos, segundo o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele afirma que, normalmente, a queda do dólar afeta não apenas os preços dos importados, que ficam mais baratos, mas os de itens nacionais, que sofrem efeito da concorrência externa. Dessa vez, porém, ele vê risco de que a valorização cambial seja neutralizada pela alta dos preços das commodities.
Eletroeletrônicos
Para ele, produtos como computadores e tevês de LCD, que têm muitos componentes importados, devem ficar mais baratos. O repasse ao consumidor, porém, não é imediato, uma vez que muitos varejistas ainda têm estoques.



