
Para ficar no jargão dos analistas financeiros, o dólar teve uma semana volátil. Numa trajetória de alta que há tempos não ocorria, a moeda norte-americana atingiu a segunda maior cotação do ano na quinta-feira, a R$ 1,81, ocasião em que também recuperou todas as perdas de 2008. A posição não se sustentou e logo na manhã de ontem a tendência se inverteu, com o dólar fechando a semana em R$ 1,78, com desvalorização de 2,03% num único dia.
Neste sobe e desce ao sabor da das incertezas do mercado internacional, investidores, importadores, exportadores e turistas ficam com a pergunta: esta é a hora certa de comprar dólar? Para a questão, ninguém arrisca uma resposta definitiva, mas entre os analistas há um consenso: a tal volatilidade tende a continuar. Com a migração da crise dos Estados Unidos para economias européias e asiáticas, investidores com recursos aplicados no exterior invertem o fluxo dos dólares para aproveitar as taxas de juros no mercado brasileiro aproveitando para cobrir as perdas em outras praias. A forte entrada de moeda estrangeira derruba a cotação do câmbio por aqui. Mas, ao primeiro sinal de estabilidade internacional, os dólares saem do país e a moeda volta a subir.
Prudência
"A grande pergunta é: quanto tempo isso dura? É difícil prever, já que o cenário e os fundamentos ainda não são consistentes para imaginar uma estabilidade", avalia o vice-presidente de relações institucionais do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (Ibef-PR), Nelson Luiz Paula de Oliveira. Uma dica que vale para tudo e para todos também se aplica neste caso: é preciso prudência. "Não se pode deixar de aproveitar a oportunidade, mas também não dá para cair de cabeça nela. É perigoso apostar todas as fichas num único ativo", recomenda Oliveira para aqueles que se animaram com o aumento do dólar nos últimos dias.
Para a indústria, antecipar as compras internacionais apostando na valorização do dólar pode causar prejuízos e corroer a margem de lucro caso a moeda volte a se desvalorizar tendência mais provável, segundo o coordenador do departamento econômico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Maurílio Schmitt. "É bom não se iludir pensando que o dólar permanecerá neste patamar alto. A taxa Selic em 13,75% tende a provocar um fluxo de dólares para o Brasil", alerta. De acordo com o economista, a moeda americana deve se estabilizar em um patamar em torno de R$ 1,60.
"O dólar valorizado pode favorecer algumas atividades industriais que deixaram de exportar com o câmbio desfavorável. Por outro lado, a moeda desvalorizada favorece a importação de máquinas, equipamentos e insumos industriais, que contribuem para o aumento da competitividade da indústria", ressalta Schmitt.
O professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, concorda e diz que é perigoso para qualquer empresa contar apenas com a desvalorização do câmbio para exportar mais. "A recuperação do dólar ainda é pequena e não será muito grande, de forma que não haverá influência significativa desta oscilação na corrente do comércio internacional", diz. "O segredo para exportar mais não é o real mais barato e sim melhorar a eficiência da produção, agregar valor ao produto, aliviar a carga tributária indireta e investir mais em pesquisa e tecnologia para produzir um volume grande e diversificado de produtos" salienta.



