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O mercado financeiro brasileiro voltou a sofrer abalos, o dólar subiu forte e a Bolsa de São Paulo teve a maior queda do ano nesta quarta-feira, refletindo a instabilidade internacional diante das dúvidas sobre a economia dos Estados Unidos e o aumento da aversão ao risco por parte dos investidores globais e domésticos.

Em meio a fortes especulações envolvendo o noticiário econômico, a quarta-feira promete, aqui e lá fora. O IBGE anunciará o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, o Fed (banco central americano) divulgará a ata de sua última reunião - que pode indicar novas altas de juros nos EUA - e um dia depois de entrar no mercado para conter a alta acentuada do dólar - o que não acontecia desde 2004 - o Banco Central brasileiro decide à noite o rumo da taxa básica de juros.

A maioria dos agentes do mercado acredita em redução de 0,50 ponto percentual na taxa básica, a Selic, que deverá passar de 15,75% para 15,25% ao ano. Porém, os índice de inflação no atacado começam a dar sinais de alta, já com alguma pressão por causa da alta do dólar este mês, e a forte instabilidade do mercado - especialmente do câmbio - poderia levar o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) a ser mais prudente. E já há quem acredite que, se a turbulência nos mercados continuar, esta poderá ser a última queda do juro básico no ano.

A especulação em torno de novas altas nos juros dos Estados Unidos fez subir mais a temperatura no mercado financeiro brasileiro nesta terça-feira, que registrou perdas generalizadas, refletindo o efeito dominó que atingiu os principais mercados globais. O nível de especulação era tamanho que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu cerca de 3% e o dólar subiu mais de 4% em apenas três horas de negócios, levando o Banco Central (BC) a lançar mão de um instrumento que não era usado há quase dois anos: os leilões de swap cambial, que funcionam como uma venda de dólares no mercado futuro. O BC anunciou a venda de oito mil contratos de swap cambial, equivalentes a US$ 399 milhões. A estratégia surtiu efeito e o dólar, que avançava mais de 4%, cotado a R$ 2,37, amenizou o ritmo de alta, fechando com variação de 1,63%, a R$ 2,312.

O último leilão de swap cambial do BC havia sido em 4 de agosto de 2004. Com esse instrumento, a autoridade monetária é remunerada pela variação dos juros e paga aos investidores a variação do câmbio. Na prática, ajuda a evitar altas mais intensas do dólar. O BC já anunciou que fará hoje outro leilão, negociando oito mil contratos.

Já a Bovespa fechou em queda de 4,54% (36.413 pontos), a maior desde 10 de maio de 2004, acompanhando o movimento de venda de ações registrado no mundo todo, um dia antes da divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), quando elevou os juros de 4,75% para 5% ao ano.

Outra influência veio do índice de confiança do consumidor americano, divulgado ontem, que indicou forte queda para 103,2, abaixo dos 109,8 em abril, interrompendo os bons resultados desde novembro de 2005. A preocupação geral é com o curto prazo da economia, o mercado de trabalho e a renda do consumidor. Com isso, o índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, caiu 1,63% e o Nasdaq, 2,06%. O risco-Brasil subiu 3,35%, para 278 pontos centesimais.

Contribuiu para o nervosismo a expectativa em relação à decisão do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), hoje, em relação aos juros básicos (Selic), atualmente em 15,75% ao ano. A previsão dos analistas, que apostavam em redução de 0,75 ponto percentual, agora é de queda de 0,5 ponto, devido à turbulência que vem abalando o mercado mundial desde o último dia 10, com as especulações em torno dos juros americanos.

Para Alexandre Maia, economista da GAP Asset Management, o BC deve continuar garantindo a liquidez no mercado de câmbio:

- Com os leilões de swap, o BC reduz a volatilidade nas cotações do dólar. Foi a medida adequada, na hora certa. Afinal, chegou a hora de usar os dólares que foram comprados nos últimos meses - diz Maia.

Ronaldo Guimarães, sócio da Cenário Investimentos, explica que, ao atuar no câmbio, o BC evita um impacto maior na inflação das recentes altas do dólar, o que poderia aumentar o conservadorismo na política monetária. Mas para Sandra Utsumi, economista-chefe do BES, a valorização do dólar não deve gerar, a curto prazo, maiores pressões inflacionárias:

- Um dólar nestes níveis geraria uma pressão de 10% no IPCA ao longo de 12 meses, ou seja, uma contaminação ainda historicamente muito baixa.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu com naturalidade à decisão do BC. Na semana passada, Mantega lamentou o recuo do dólar, após forte valorização da moeda.

- Eu acho que tanto o Banco Central quanto o Tesouro Nacional estão atuando corretamente nessas turbulências. Atuaram muito bem na semana passada, tanto que estamos no caminho para uma situação de calma - afirmou.

O ministro disse que um eventual aumento dos juros nos EUA terá um efeito suave no Brasil porque o país está em condições confortáveis, com reservas altas, superávit em conta corrente e pouco capital especulativo. Mantega comentou a reunião do Copom que termina hoje.

- Eu confio no Banco Central e acho que eles têm sensibilidade para avaliar a situação, o andamento da inflação no país e decidir por uma redução adequada da taxa de juros.

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