
Apesar de a Petrobras garantir que praticamente não há risco exploratório no pré-sal, representantes do setor privado disseram ontem que a exploração na camada ultra-profunda envolve problemas inerentes ao segmento. Membro do comitê de Exploração e Produção do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) e presidente da Devon Energy, Murilo Marroquim frisou que a exploração no pré-sal pode ter custos além do previsto, além de os reservatórios não terem a performance esperada. "O pré-sal não tem risco? Há risco, sempre há. Especialmente em reservatórios pouco conhecidos. Já houve exemplos no país, de se esperar algo e não ser tudo aquilo que se pensava", afirmou.
O alardeado baixo risco do pré-sal é uma das alegações dos defensores de mudanças no modelo regulatório. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) foi a voz dissonante no seminário "Os desafios do pré-sal, realizado ontem, no Rio de Janeiro, e comentou que o risco na área não é tão alto. Mercadante reconheceu que há desafios logísticos, em função de o óleo estar em áreas situadas a quase 300 quilômetros da costa. "Se alguns riscos que foram apresentados aqui forem levados a sério, podemos terminar o debate e as empresas devolvem seus blocos", ironizou.
O parlamentar defendeu que os blocos do pré-sal e no entorno da área continuem fora das licitações promovidas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Mercadante criticou ainda os preços pagos pelos blocos do pré-sal nas rodadas passadas, classificando-os de irrisórios e insignificantes.
De acordo com o senador, todos os blocos do pré-sal que já tiveram descobertas foram adquiridos por R$ 345 milhões. Por Tupi e Iara, a Petrobras e parceiros pagaram R$ 15 milhões. "Todo mundo fala do bônus como uma coisa absolutamente fantástica que o Estado brasileiro teria recebido nessas concessões. Não foi o que aconteceu no pré-sal. Evidente que não se imaginava que era o que é ou quem imaginava não contou. Mas os bônus são absolutamente insignificantes", observou.
A posição de Mercadante foi contestada pelo seu companheiro de partido, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que avaliou que os riscos na época em que os blocos foram adquiridos eram altos, já que não se tinha certeza sobre a ocorrência de óleo na camada pré-sal. "Não concordo com o que foi colocado aqui. O bônus é baixo porque o risco é grande. Quando o risco diminui sensivelmente, o papel do bônus é extremamente relevante no negócio em si", retrucou.



