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Unidade produtora de etanol celulósico da Granbio: superação de desafios para  o produto se consolidar no país já começou. | Granbio/Divulgação
Unidade produtora de etanol celulósico da Granbio: superação de desafios para o produto se consolidar no país já começou.| Foto: Granbio/Divulgação

Passada uma década desde as primeiras pesquisas com o etanol de segunda geração (E2G), a euforia em torno do biocombustível não se concretizou no Brasil.

O E2G tem como diferencial o fato de que sua produção pode ocorrer a partir de uma gama maior de biomassas. Por meio da decomposição da lignina (macromolécula) das plantas por enzimas combinadas industrialmente, pode ser fabricado a partir do bagaço da cana já utilizada na produção do etanol tradicional, mas também de madeiras, palhas de cana e milho, cascas de soja e até gramíneas ou partes não comestíveis de plantas.

Tradicional

Hoje, o Brasil é vice-líder na produção do etanol tradicional, com 30 bilhões de litros fabricados anualmente a partir da fermentação de plantas ricas em açúcar ou amido, como a cana-de-açúcar. O país só fica atrás dos Estados Unidos, que também utiliza o milho para a fabricação do composto, e produz, por ano, mais de 50 bilhões de litros. As informações são da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Para se ter uma ideia, o novo composto (também chamado de celulósico) poderia aumentar em 50% a produção do biocombustível no país. Suas possibilidades de uso são idênticas às do biocombustível tradicional – de maquiagens à gasolina.

Algumas dificuldades, no entanto, atrasam o desenvolvimento e o ganho de escala do E2G: necessidade de aprimoramento tecnológico, custos elevados da produção e carência de apoio público nacional estão entre elas.

177,3 milhões de litros

É a capacidade instalada de produção do Brasil para produção de etanol de segunda geração, segundo estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). O país é o quarto com mais potencial no setor, atrás somente dos Estados Unidos, China e Canadá. A porção representa 12% do total instalado no mundo.

Projeções da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) indicam que o Brasil tem potencial para produzir, pelo menos, 10 bilhões de litros de etanol de segunda geração até 2025. Segundo a instituição, a capacidade instalada do país atualmente para a produção de E2G é de 177,3 milhões de litros, mas o alto custo da tecnologia que faz a quebra da lignina ainda dificulta o alcance da marca. Hoje, apenas duas empresas – Granbio e Raízen – têm usinas de etanol celulósico em funcionamento no Brasil.

“A etapa de pré-tratamento, que remove a lignina da biomassa, é responsável por cerca de 30% dos custos de produção do etanol de segunda geração. Outro fator que encarece o processo é o custo das enzimas usadas na etapa de transformação dos polissacarídeos em açúcares simples, como os do etanol de primeira geração”, explica Patrícia Raquel Silva, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Florestas.

A instituição trabalha desde 2008 no desenvolvimento do E2G a partir da madeira e outros resíduos florestais, como lodos gerados nas estações de tratamento da indústria de papel e celulose. A entidade quer ofertar a tecnologia às empresas, mas ainda lida com certa insegurança das companhias, receosas em aportar os recursos necessários para dominar o conhecimento.

Pesquisas estimam que, desde 2000, o desenvolvimento tecnológico do E2G já reduziu o preço do produto em 15%. “Para que os custos da produção diminuam, é necessário incentivar a pesquisa e baratear a produção. Políticas públicas que estimulem a fabricação do composto por aqui são fundamentais, mas ainda discretas”, diz Patrícia.

Menos emissões

Além de favorecer um menor desperdício de matérias-primas, o etanol de segunda geração contribui com a redução das emissões de gases nocivos à atmosfera, como gás carbônico (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (NO2). A emissão desses compostos é 89% superior na produção da gasolina, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA).

País tem apenas duas companhias produzindo etanol celulósico

Apenas duas empresas têm usinas de etanol celulósico em funcionamento no Brasil. A Granbio foi a primeira a inaugurar uma unidade produtora de etanol E2G em escala comercial do país. A Bioflex 1 começou a operar em setembro de 2014, em São Miguel dos Campos (AL), e tem capacidade anual de produção de 82 milhões de litros. No ano passado, a fábrica produziu 4 milhões de litros do biocombustível. O volume foi comercializado no Nordeste e com a Usina Caeté, vizinha da Bioflex 1. A fábrica produz o etanol celulósico a partir da palha da cana, costumeiramente queimada ou descartada nos canaviais. Ela é comprada da Usina Caeté, que mantém parcerias com propriedades produtoras de cana-de-açúcar da região.

Desde abril, a produtora não opera por precisar fazer ajustes na etapa de pré-tratamento da biomassa. “Ao migrar da etapa experimental para a industrial, esses alinhamentos são naturais, mas, até o fim do ano, voltamos à operação para logo produzir em larga escala”, diz Celso Fiori, gerente de Relações Institucionais e Negócios da empresa.

Além de atender o Nordeste, a fábrica quer investir no mercado norte-americano. Em 2014, a Granbio foi classificada pelo Padrão de Combustíveis de Baixa Emissão de Carbono (LCFS) como produtora do etanol celulósico mais limpo do mundo, ou seja, que emite menor quantidade de CO2 para ser produzido e consumido. “Lá fora, existem mecanismos de apoio ao etanol com baixa pegada de carbono. Em relação ao preço do mercado internacional, o valor pago pelo nosso produto pode ser o dobro”, diz Fiori. Para ele, o Brasil precisa encontrar estratégias semelhantes para fomentar o cenário nacional. “A atenção ainda está voltada aos setores de óleo e gás, mas, com o tempo, isso deve mudar”.

A empresa também trabalha na criação da “cana-energia”. Com mais conteúdo energético, ela é produzida em laboratório e promete uma produtividade quase duas vezes superior à fornecida pela cana tradicional.

Raízen

A Raízen inaugurou a primeira unidade em novembro de 2014, em Piracicaba (SP). A fábrica tem capacidade para produzir 42 milhões de litros por ano e fica ao lado da usina de etanol tradicional, que também pertence ao grupo e fabrica 100 milhões de litros anuais. A matéria-prima vem de plantações de propriedade da companhia, a 30 Km da unidade produtora. No ano passado, a nova fábrica de E2G gerou um milhão de litros a partir do bagaço e da palha da cana.

Depois de algumas paradas para ajustes, desde abril, a fábrica trabalha em regime contínuo. “Hoje, o custo do etanol de segunda geração é mais alto, mas, assim que atingirmos escala, as chances de praticarmos o mesmo valor de mercado do etanol tradicional é muito grande”, indica Antonio Stuchi, diretor executivo de tecnologias e projetos na Raízen.

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