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Temores sobre a saúde financeira da economia europeia espalharam pessimismo nos principais centros financeiros do mundo nesta semana. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a queda semanal foi de mais de 4%, enquanto os principais mercados da Europa perderam, em média, 3,7%.

O motivo de tanta preocupação é a dificuldade que alguns países europeus vêm enfrentando para conseguir empréstimos para refinanciar suas crescentes dívidas públicas. Isso acontece porque os países passam por um desequilíbrio fiscal devido à crise: com a arrecadação em baixa e os gastos em alta, eles gastam mais do que arrecadam.

Para analistas, no entanto, o risco de "calote" por parte desses países é pequeno. Na avaliação deles, embora o crédito restrito possa resultar em juros cada vez mais altos e tempos difíceis para a economia, as nações não devem parar de pagar suas dívidas.

O maior temor dos mercados é que os problemas desses países sejam um indicativo de que a recuperação da economia global depois da crise tenha formato de "W", ou seja, uma ligeira melhora seguida por nova queda e posterior recuperação definitiva.

Para Miguel Daoud, diretor da consultoria Global Financial Advisor, "não existe calote na Itália, muito menos na Espanha e em Portugal. O que existe é uma dificuldade desses países na rolagem de suas dívidas".

Ele explica que esses países estão enfrentando dificuldades com a relação entre dívida e PIB, considerada alta, mas há países em que ela é ainda maior, como no Japão, onde chega a 160%.

"O impacto que isso pode ter é encarecer o custo da divida. Isso aumenta o desemprego, encarece os investimentos e o país passa por um período difícil", explica Daoud. O especialista se diz mais preocupado com a situação econômica da Argentina e da Venezuela e com a questão do controle sobre os bancos nos Estados Unidos.

Grécia

A Grécia é o caso mais emblemático e mais preocupante do grupo: o país tem a maior dívida da zona do euro, que deve atingir 120% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010.

Nesta sexta (5), a União Europeia aprovou com ressalvas o plano fiscal de três anos da Grécia para reduzir seu déficit fiscal. O euro, moeda do bloco, poderia ter grande desvalorização se a Grécia der um calote, mas o país e a UE disseram que isso não acontecerá e que o país não precisará de ajuda financeira.

O plano da Grécia prevê que o déficit fiscal do país volte a menos de 3% do PIB em 2012. No ano passado, o déficit ficou em cerca de 13%. O déficit fiscal é a diferença entre a receita do país com tributos e outras fontes de arrecadação e os gastos. Sem dinheiro sobrando, o país tem mais dificuldades para pagar suas dívidas.

Portugal

No ano passado, Portugal registrou um déficit fiscal de 9,3% do PIB, maior do que o esperado. Enfrentando pressão para reparar suas finanças, o governo português prometeu reduzir o déficit para 8,3% do PIB neste ano. A União Europeia deu a Portugal até 2013 para reduzir o déficit para menos de 3% do PIB, o limite máximo aceito pelas regras do bloco.

O governo português disse que o déficit maior do que o esperado no ano passado resultou de um declínio da arrecadação. Em 2010, o governo tentará limitar os gastos por meio do congelamento de salários de empregados do setor público e da tentativa de reduzir a folha de pagamento do governo.

Em dezembro, as agências de classificação de risco Moody's e a Standard & Poor's alertaram para possíveis rebaixamentos na avaliação da dívida de Portugal. "Todo mundo tem se concentrado na Grécia, mas agora as pessoas estão acordando para o fato de que não se trata apenas da Grécia", disse o analista de câmbio Ian Stannard, do BNP Paribas.

Itália e Espanha

Outros dois países que preocupam os investidores são Espanha e Itália, economias bem maiores que a Grécia e Portugal, mas que também enfrentam dívidas altas e crescimento econômico fraco, que deixa pouca margem para os governos saírem da situação fiscal desfavorável.

A Espanha ainda não saiu da recessão, já que foi anunciado nesta sexta que o PIB do país se contraiu 0,1% no quarto trimestre. A preocupação dos analistas é de que a UE até poderia resgatar a Grécia e Portugal, mas não a Espanha e Itália, países bem maiores.

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