O jogador ainda poderá receber $ 200 quando passa pelo "Ponto de partida", mas não mais em cédulas de brinquedo. No novo Banco Imobiliário, o clássico dinheirinho em tons pastéis e a figura do banqueiro foram abolidos, juntamente com outros elementos "ultrapassados" do jogo. No lugar deles, entra em cena um computador que gerencia toda a partida.
A fabricante Hasbro apresentou um protótipo da nova versão do passatempo, batizada de Monopoly Live nos Estados Unidos, durante a Feira de Brinquedos de Nova York. O entorno do tabuleiro é o mesmo, com os tradicionais bairros e companhias, e a possibilidade de construir casas e hotéis. Mas, no centro, em vez dos dados e das cartas de sorte/revés, uma torre equipada com sensor infravermelho e uma caixa de som dá as instruções, controla a circulação de dinheiro e obriga todos os jogadores a seguir as regras. Essa torre monitora inclusive se cada um dos participantes avançou o número correto de casas.
Com os negócios cada vez mais complicados graças à concorrência dos videogames, a Hasbro espera que o Banco Imobiliário computadorizado seja uma forma de atrair a atenção dos mais jovens para os jogos de tabuleiro, um segmento cujas vendas caíram 9% em 2010, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado NPD Group.
"Como poderíamos oferecer uma mistura de videogame com jogo de tabuleiro sem deixar a convivência social de lado? É aí que surgiu a ideia do Monopoly Live", explica a diretora mundial da marca Monopoly (o título original do Banco Imobiliário), Jane Ritson-Parsons.
Em meio a uma infinidade de games gratuitos, a Hasbro tenta reavivar o interesse de crianças pequenas e pré-adolescentes por jogos pagos. O novo Banco Imobiliário, que será lançado no segundo semestre, custará US$ 50 nos EUA. O Batalha Naval deverá passar por uma modernização digital ainda este ano e outros títulos da fabricante também serão redesenhados em 2012 e 2013, conta a executiva.
As famílias que costumavam discutir as regras do Banco Imobiliário, os jogadores que escondiam a nota de $ 100 embaixo do tabuleiro e os amigos que recorriam a um "posso ficar devendo?" na hora de pagar aluguel uns aos outros, no entanto, podem ter dificuldade para se adaptar à presença de um computador à mesa.
"Parece que uma máquina tomará as decisões no lugar dos jogadores. Isso muda muito as regras e tira boa parte da habilidade necessária ao jogo", acredita Ken Koury, que participa de competições oficiais de Banco Imobiliário e é uma espécie de treinador informal que resolve impasses sobre as regras do brinquedo. "O que sobra para os jogadores decidirem? Eles vão ficar apenas apertando botões e esperando para ver quem ganha?"
Público-alvo
Com a novidade, a Hasbro quer atrair crianças de 8 a 12 anos de idade. Os executivos dizem que essa faixa etária, acostumada a videogames, quer jogos rápidos e que requeiram o uso de gestos físicos. Para saber quanto se deve avançar no tabuleiro do novo Banco Imobiliário, os jogadores devem cobrir o peão com as próprias mãos. Os participantes também precisam manter as mãos sobre ilustrações para indicar que querem comprar ou vender propriedades, inserir "cartões de débito" na máquina para verificar suas próprias contas e mover um carrinho de plástico ao redor de uma pista para ganhar dinheiro ou outras vantagens (apenas quando a torre instruí-los a fazer isso, é claro).
Tempos modernos - Consumidores querem partidas mais curtas
A fabricante de brinquedos Hasbro está simplificando vários títulos populares, como o Scrabble (antigo Palavras Cruzadas, no Brasil) e o Cranium, para que eles possam ser jogados em partidas de 5 minutos. Concorrentes estão fazendo o mesmo, como a Mattel em relação ao Apples to Apples (que já teve uma edição similar no país, batizada de Ponto de Vista). Até mesmo os videogames começaram a ser lançados em tamanhos reduzidos, como o popular Angry Birds. "A atenção das pessoas está mais fugaz do que no passado. Ou talvez elas simplesmente não tenham mais tanto tempo para se dedicar ao entretenimento", diz Sean McGowan, analista de brinquedos da Needham & Co.
A executiva da Hasbro Jane Ritson-Parsons afirma que, apesar de alguns aspectos do jogo original terem sido alterados, o Monopoly Live continua a promover a interação social. "Acabar com o manual de instruções incentiva ainda mais a interação direta. Se você não precisa ler, acaba conversando mais", defende. De fato, a fabricante manteve alguns elementos sociais no novo Banco Imobiliário, como a possibilidade de negociar as propriedades.
Para ela, o cumprimento total das regras também acelera o jogo e torna a partida mais interessante. Caso, por exemplo, um jogador caia na Vieira Souto, mas decida não comprá-la, as regras o obrigam a leiloar a propriedade imediatamente uma instrução que muitos desconheciam ou simplesmente ignoravam. "As pessoas costumavam reclamar: Demora demais até eu possuir propriedades. Bem, isso ocorre se você não fizer os leilões", explica Jane.
Intervenções
A nova versão do brinquedo tenta combater o tédio dos participantes de diversas maneiras. Ela contém uma série de eventos aleatórios, como uma corrida de cavalos na qual os jogadores precisam apostar em quem vai vencer. O computador também monitora a velocidade da partida e pode intervir para torná-la mais interessante. Se, por exemplo, poucas propriedades estão sendo vendidas, a máquina anuncia um leilão no meio da rodada.
Os executivos da Hasbro garantem que o Monopoly clássico continuará a ser vendido mesmo depois da estreia da nova edição. No Brasil, o Banco Imobiliário é comercializado pela fabricante Estrela, mas existe também a versão em português do Monopoly original, um produto lançado no país pela empresa norte-americana. "O Monopoly Live é apenas uma extensão da marca, não uma destruição das edições anteriores", diz o diretor de marketing, John Frascotti.
Tradução: João Paulo Pimentel
