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Aumento nas contas de água e esgoto da Sanepar está suspenso.
Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

É fácil supor que a água nunca vai acabar. Ela cai do céu, e, embora seja vital, às vezes a tratamos como se fosse inútil. A perspectiva de escassez em alguns anos, no entanto, poderá tornar a água uma mercadoria preciosa. E isto representa uma oportunidade para os investidores.

Um pequeno grupo de fundos mútuos tradicionais e fundos negociados na bolsa (ETF) já investe nela, principalmente em empresas que contribuem para a distribuição, o teste e a limpeza da água. Essas empresas podem crescer à medida que os governos em todo o mundo se esforçam para conter a esperada falta d'água.

"A escassez de água é um fenômeno global", disse Andreas M. Fruschki, gerente de portfólio do AllianzGI Global Water Fund. "E é mais acentuada em regiões com maior crescimento populacional", como o subcontinente indiano e o Oriente Médio.

O crescimento populacional, as alterações climáticas e a poluição afetam o fornecimento de água doce do mundo. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente previu que metade da população mundial pode enfrentar estresse hídrico severo até 2030. Os gastos anuais de US$ 200 bilhões, um aumento da média histórica de cerca de US$ 40 bilhões a US$ 45 bilhões, são necessários agora para manter as torneiras funcionando, disse um relatório de 2016 da ONU.

Mesmo os países desenvolvidos enfrentam custos crescentes para fornecer água, porque ela é pesada e difícil de transportar em longas distâncias. Além disso, a infraestrutura antiquada precisa ser substituída, lembra Fruschki. Isso gera a escassez e a perda de sete trilhões de litros de água potável por ano nos Estados Unidos, de acordo com a Sociedade Americana de Engenheiros Civis no Relatório de Infraestrutura de 2017.

Fundos contribuem para superar escassez

As 35 empresas controladas pelo fundo AllianzGI fornecem produtos ou serviços para ajudar a superar a escassez de água e remediar as deficiências da infraestrutura, conta Fruschki. A maior holding do fundo, a American Water Works, é uma empresa de abastecimento que opera em 16 estados dos EUA, incluindo Nova York e Nova Jersey. Outra grande holding, a Xylem, fornece tecnologias de água tão diversas quanto bombas e medidores inteligentes.

Um problema desse setor é que, embora a água seja uma mercadoria, ela não pode ser comprada diretamente, como acontece com muitas outras commodities. "Não é um bem negociável como o petróleo", lembra Fruschki.

A Austrália tem um mercado de água chamado Waterfind. Já nos Estados Unidos, por exemplo, apostar no preço da água exige a compra de terrenos que tenham direitos hídricos associados a eles. A Universidade de Harvard comprou vinhedos na Califórnia e assim adquiriu o controle de seus direitos sobre a água, para citar um exemplo.

Criado em 2008, o fundo AllianzGI obteve uma média anual de 9,83% ao longo dos 10 anos findados em junho, em comparação com os 5,37% da Morningstar, uma concorrente. O fundo é incomum nesse nicho, pois é ativamente administrado. A maior parte dos fundos mútuos de água e ETFs disponíveis para os investidores rastreiam índices e não são ativamente administrados.

O Calvert Global Water Fund, por exemplo, se baseia em um índice que a patrocinadora do fundo, a Calvert Research and Management, criou para incluir não apenas as empresas que ajudam a fornecer água potável, mas também as grandes usuárias com práticas exemplares, explica Jade S. Huang, vice-presidente e gerente de carteira de governança ambiental e social da companhia. O fundo possui a American Water Works e a Xylem, mas também conta com a Taiwan Semiconductor Manufacturing entre suas 111 holdings.

"Taiwan é uma área com escassez de água, por isso a Taiwan Semiconductor desenvolveu práticas inovadoras. Ela recolhe, refiltra e reutiliza sua água três vezes", conta Huang.

As instalações da Semiconductor recebem quantidades enormes de água, e, embora Taiwan apresente altos índices de precipitação, há poucos recursos para armazená-la. Huang disse que a Calvert vê a manipulação inteligente da água como gestão de risco prudente para empresas como a Taiwan Semiconductor. "Isso a coloca em uma posição mais competitiva, e ela é um líder de mercado no setor de semicondutores", aponta.

As empresas do índice Calvert são divididas em quatro subgrupos – distribuidoras, equipamentos de infraestrutura, provedores de tecnologia e usuários eficientes, como a Taiwan Semiconductor. Segundo Huang, cada grupo responde por um quarto dos ativos do fundo, que teve um retorno médio anual de 8,56% ao longo dos últimos dez anos, tendo o mês de junho como referência.

Entre os ETFs da água, o Invesco é o principal, com três ofertas. Dois de seus fundos – o Invesco Water Resources ETF e o Invesco Global Water ETF – são construídos em torno de índices Nasdaq. Os recursos hídricos são focados nos Estados Unidos, enquanto os da Global Water estão espalhados pelo mundo, embora as empresas listadas nos EUA respondam por cerca de metade de seus ativos. A Water Resources teve um retorno médio anual de 9,89% ao longo da década que terminou em junho, enquanto a Global Water obteve 8,1% no período.

O Invesco adquiriu sua terceira oferta, a S&P Global Water Index ETF, quando comprou a linha de ETFs do Guggenheim no ano passado. Como recursos hídricos, esse fundo também investe principalmente nos Estados Unidos, mas os dois não são gêmeos, explica J. Jason Bloom, diretor sênior do Global Macro ETF Strategy da Invesco. Recursos hídricos têm "mais foco em empresas que desenvolvem tecnologia em torno da entrega de água limpa", enquanto o fundo indexado S&P tende mais para distribuidoras, que compõem cerca de metade de seus ativos, diz ele. O fundo S&P Global Water Index retornou uma média anual de 11,05% nos últimos dez anos. Dois outros ETFs são o First Trust Water ETF e o Tortoise Global Water ESG Fund.

Privatização da água?

Alguns investidores evitam o setor porque "um monte de gente vê as distribuidoras negociadas publicamente como privatização da água", explica Julie K. Gorte, vice-presidente de investimento sustentável na Impax Asset Management. De acordo com esta visão, a água deve ser propriedade pública - como ocorre no Brasil - e controlada para garantir que todos tenham acesso a ela.

Robert Glennon, especialista em direito da água na Faculdade de Direito Rogers da Universidade do Arizona, disse que parte da desconfiança do controle do setor privado em relação ao abastecimento de água pode ser proveniente de mal-entendidos sobre o que os clientes pagam e para onde a maioria da água vai. "A água pode ser um presente de Deus, mas Deus não nos dá canos, e os canos são caros", avalia.

A água doméstica responde por apenas uma pequena porção do consumo total – nos Estados Unidos, ele é de cerca de 7%, diz Glennon. O restante é usado pela agropecuária e pela indústria. E há pouco incentivo para usar a água prudentemente, porque quase todo mundo paga pouco por ela, afirma citando como exemplo os Estados Unidos.

"Nosso abastecimento de água é como um milkshake gigante, e cada irregularidade é mais um canudo no copo. As pessoas veem nosso abastecimento como eterno, mas, na realidade, ele é finito", resume.

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