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Barragem da hidrelétrica tem quase oito quilômetros de extensão: cada uma das 20 unidades geradoras de Itaipu pesa 6.600 toneladas. Na foto, o engenheiro Julio Dreher contempla o gigantismo da usina | Kiko Sierich/ Gazeta do Povo
Barragem da hidrelétrica tem quase oito quilômetros de extensão: cada uma das 20 unidades geradoras de Itaipu pesa 6.600 toneladas. Na foto, o engenheiro Julio Dreher contempla o gigantismo da usina| Foto: Kiko Sierich/ Gazeta do Povo

Gigante pela própria natureza

Menor que rival chinesa, Itaipu ostenta recorde mundial de produção de energia

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US$ 27 bilhões é quanto custou a materialização do sonho de Itaipu, montante captado junto a órgãos financeiros nacionais e internacionais. Somente a construção custou US$ 11,9 bilhões. Por não visar lucro, Itaipu deve ter as receitas iguais aos custos. O faturamento da usina gira em torno de US$ 3,8 bilhões por ano. Pelo menos 60% do orçamento é destinado para pagar a dívida de construção. A binacional fechará 2014 com uma dívida estimada em US$ 12,4 bilhões, que será paga até 2023. As parcelas quitadas a cada ano somam cerca US$ 2,3 bilhões.

  • Quantidade de concreto usado em Itaipu construiria 210 Maracanãs
  • Operários removeram enormes quantidades de terra e rochas nas obras de fundação
  • Vista aérea do canteiro no auge da obra no final da década de 70
  • Engenheiros e barrageiros em plena atividade na construção da hidrelétrica
  • Quantidade de ferro e aço utilizados permitiriam a construção de 380 Torres Eiffel
  • Atração turística de Guaíra, Sete Quedas sumiu do mapa com a formação do Lago de Itaipu
  • Construção do canal que desviaria o leito do Rio Paraná
  • Explosão de rochas nas margens do Rio Paraná para construção da usina
  • O mineiro Domingos Ramos, de 69 anos, foi um dos 40 mil operários da obra: hoje atua no centro de recepção a turistas

Uma máquina colossal de 6.600 toneladas mudou, há 30 anos, o destino de toda a população do Oeste do Paraná. Era 5 de maio de 1984 quando a primeira das 20 unidades geradoras da usina de Itaipu entrou em operação. Acoplada ao equipamento, uma turbina movida pelas águas do Rio Paraná, com capacidade de girar 90 vezes por minuto, forneceu muito mais que energia elétrica ao Brasil. Ela também redesenhou o ciclo de desenvolvimento econômico do Paraná.

INFOGRÁFICO: Conheça a história da usina de Itaipiu através da linha do tempo

VÍDEO: Enchimento do lago de Itaipu causou o desaparecimento das Sete Quedas

A maior hidrelétrica do mundo em geração de energia começou a ser construída em 1974. Exatamente dez anos depois, passou a atender o Brasil e o Paraguai – sócio no empreendimento. No primeiro ano de operação, a produção era pequena, 0,27 milhão de megawatts/hora (MWh), o equivalente a 0,28% da média gerada pela usina nos últimos cinco anos – 95,5 milhões de MWh. Porém, foi estratégica para um país cuja população crescia rapidamente.

Importância

Superintendente de Operação de Itaipu, Celso Torino está na usina desde o início das primeiras ações para geração de energia. Ele conta que Itaipu foi planejada em um momento fundamental. "Na época, nosso país estava em desenvolvimento e com uma grande população jovem. Isto significava que deveríamos estar preparados para um aumento anual de 5% ou até mais no consumo de energia. Itaipu foi essa garantia", afirma.

A usina hoje é de vital importância para o sistema elétrico nacional. O Brasil, explica Torino, tem mais de 3 mil plantas de energia e Itaipu, sozinha, fornece 17,3% dos quase 530 milhões de MWh que o país consome, além de atender o Paraguai. Em 2013, a usina binacional estabeleceu o recorde mundial de produção, com a marca de 98,6 milhões de MWh.

Em 30 anos de geração, não houve falha na usina que repercutisse na interrupção do fornecimento de energia. O apagão que atingiu o país em 2009 foi resultado de problemas ocorridos no sistema de transmissão de energia. Quando ocorrem episódios desse tipo, as 20 unidades geradoras giram no vazio até o restabelecimento do sistema.

Construção da usina

Nova fronteira econômica atraiu milhares para a região

Foz do Iguaçu foi a primeira cidade transformada pelo "efeito Itaipu". Na década de 1970, o município tinha 33.966 habitantes. Em 1980, a população quadruplicou, passando para 136.355. No pico da obra, entre 1977 e 1981, a usina atraiu 40 mil trabalhadores que ficaram conhecidos como barrageiros.

Um deles foi o mineiro Domingos Ramos Sobrinho, 69 anos. Ele deixou Brasília, em 1977, para ajudar a erguer a gigante de concreto. A decisão foi tomada logo depois que viu um anúncio de jornal. Quando chegou em Foz, ficou impressionado com a obra. "Logo que vi aquele tamanho todo, pensei que o projeto não fosse sair do papel, de tão grande que era", conta.

Trinta e sete anos depois, Ramos ainda trabalha em Itaipu. Atua no Centro de Recepção de Visitantes, mas não esquece as lições que aprendeu durante a construção. "Itaipu foi para mim uma escola e representou uma mudança de vida."

O ex-barrageiro, que agora conta parte de suas memórias aos turistas que visitam a usina, não esquece do corre-corre da obra e como nordestinos, paulistas, mineiros, mato-grossenses, goianos e sulistas se entendiam. Tinha apelido para tudo: vertedouro era "escorregador de sogra"; arroz com feijão, "Tonico e Tinoco"; macarrão chamavam de "fio de telefone"; e carne moída, "boi ralado". Mas o léxico mais em voga era "bombril". "Era o atestado médico. Com ele a gente limpava a barra com o chefe. 'O cara lá pegou o bombril com o homem do sapato branco [o médico]'", brinca.

Trabalhadores

Após o fim da obra, um contingente de trabalhadores deixou Foz do Iguaçu. Dos que ficaram, muitos acabaram sem emprego e migraram para atividades informais no Paraguai, que crescia no final da década de 80. A presença dos ex-operários da hidrelétrica em Foz incentivou o surgimento de bairros. Um deles é o Morumbi, um dos mais populosos da cidade.

Hoje, Itaipu reúne 3.240 funcionários, dos quais 1.440 brasileiros e 1.800 paraguaios.

Sete Quedas desapareceu e deixou órfã uma cidade inteira

Nem só boas lembranças constam na trajetória da construção de Itaipu. Sete Quedas, a maior cachoeira do mundo em volume de água, começou a morrer no dia 13 de outubro de 1982, quando foram fechadas as comportas da usina para a formação do reservatório. Em 14 dias, o grupo de sete saltos estava embaixo d´água.

Os reflexos econômicos da perda da atração turística estão latentes no município de Guaíra, no Oeste do Paraná, até hoje. O empresário Nei José Neotte, 55 anos, é testemunha dessa história. Ainda na época das cachoeiras gigantes, começou a trabalhar como guia no extinto Parque Nacional de Sete Quedas. Com o aumento do fluxo de visitantes diante do anúncio do fim das quedas, abriu um restaurante no antigo Hotel Guarujá II.

Mas, depois do desaparecimento da atração, a cidade ficou órfã. Os turistas sumiram e Neotte teve de fechar o negócio e procurar outro emprego. Trabalhou por um ano como porteiro para sobreviver. Com o tempo, se recuperou e hoje tem um bufê. "Nós, de Guaíra, não acreditávamos que o homem era capaz de cobrir Sete Quedas", lembra.

Reivindicação

Hoje, Guaíra volta a respirar um pouco do movimento turístico em razão do aquecimento do comércio de importados na vizinha Salto del Guairá, Paraguai. O atrativo é que traz garantia de ocupação nos hotéis do município de 30.704 habitantes.

O prefeito de Guaíra, Fabian Vendruscolo (PT), diz que a compensação pela perda das Sete Quedas precisa ser revista. O critério usado, por terras alagadas, segundo ele, prejudicou o município. Guaíra recebe 1,85% de royalties – Santa Helena, a cidade mais beneficiada, 9,7%. "Guaíra foi convocada compulsoriamente pela União a perder seu grande potencial turístico. Hoje, a cidade seria no mínimo metade do que é Foz, ou seja, teria pelo menos 150 mil habitantes."

Salto del Guairá, que também teve parte das quedas alagadas, conseguiu, junto ao governo paraguaio, uma compensação. O dinheiro, repassado em três parcelas de US$ 10 milhões, será usado para investir em aparatos turísticos.

A arrecadação de Guaíra é de R$ 85 milhões ao ano. Desse total, R$ 10 milhões se referem aos royalties de Itaipu. Cerca de R$ 31 milhões são destinados à folha de pagamento.

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