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INDÚSTRIA

Eternit reduz dependência do amianto

Fabricante de telhas não pensa em abandonar a polêmica fibra mineral, mas reforça investimentos em outros produtos

Três das 16 fábricas de fibrocimento do país ficam no Paraná. Além da unidade da Eternit em Colombo (foto), estado também abriga a Isdralit, em Curitiba, e a Multilit, em São José dos Pinhais | Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Três das 16 fábricas de fibrocimento do país ficam no Paraná. Além da unidade da Eternit em Colombo (foto), estado também abriga a Isdralit, em Curitiba, e a Multilit, em São José dos Pinhais (Foto: Fotos: André Rodrigues/Gazeta do Povo)
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Enquanto a Justiça não define o futuro do amianto no Brasil, a fabricante de telhas de fibrocimento Eternit trabalha para reduzir a dependência de sua principal matéria-prima.

Dez anos atrás, a polêmica fibra mineral – que, se inalada, pode provocar graves doenças pulmonares – estava presente em tudo o que a empresa produzia. Hoje, quase 20% das receitas vêm de outros produtos, como telhas metálicas, sistemas construtivos e louças sanitárias. A meta é elevar a fatia "livre de amianto" a 50% em um prazo de cinco a dez anos.

INFOGRÁFICO: Eternit quer reduzir a participação do amianto em seu faturamento

"Isso não significa diminuir a atividade com o amianto, mas aumentar a participação e a entrada em outros negócios", explica o presidente da Eternit, Élio Martins. Segundo ele, a companhia – que tem uma de suas principais fábricas em Colombo, na Grande Curitiba – quer se tornar uma grande fornecedora de materiais de construção, algo raro no setor, dominado por empresas "monoproduto". "Queremos atender a todas as fases de uma construção, do piso ao teto", diz.

Dentro dessa estratégia, a Eternit está construindo uma fábrica de louças sanitárias no distrito industrial do Pecém, no Ceará, e vai instalar uma unidade de pesquisa, desenvolvimento e produção de insumos em Manaus. "Também vamos avaliar aquisições, com cautela", conta o executivo.

Martins garante que o plano de diversificação, em curso desde 2008, não nasceu com o objetivo de suavizar o impacto de uma eventual proibição do amianto. Mas admite que o projeto contribui para reduzir os riscos do negócio e tranquilizar acionistas e funcionários.

Julgamento

Embora uma lei federal de 1995 regule o uso, a produção e a venda da fibra, quatro estados (RS, SP, RJ e PE) baixaram normas em sentido contrário. A constitucionalidade dessas leis está em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF). O julgamento começou em outubro de 2012, mas foi interrompido após dois votos, e não tem previsão de retomada. O ministro Marco Aurélio Mello votou contra as leis estaduais e Carlos Ayres Britto, a favor.

"Não posso dizer que essa questão não nos preocupa. Mas toda empresa tem seu amianto, sua vulnerabilidade", diz Martins. "A Xerox, por exemplo, viu seu principal negócio acabar, a Kodak também. Isso é inerente ao desenvolvimento, ao progresso da ciência, e as empresas têm de aprender a lidar com essas dificuldades."

O que ocorre se a fibra for banida?

Não há consenso sobre a viabilidade econômica de proibir imediatamente o uso de amianto no país.

Um estudo da Fiesp e da FGV publicado em 2009 concluiu que a proibição repentina "irá cortar 69% da oferta das telhas utilizadas pela população de baixa renda", encarecendo em até 9% o custo de uma casa popular e provocando desabastecimento, pois as indústrias teriam dificuldade em adaptar as linhas de produção. Um trabalho divulgado em 2011 pelo Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit) da Unicamp diz o oposto: que as fábricas já têm a tecnologia necessária, e a custos competitivos.

Para a Eternit, o banimento vai provocar um sobrepreço de 30% a 50%. A empresa argumenta que a concorrente Brasilit só não cobra mais caro (hoje o preço seria de 10% a 12% maior) porque produz sua matéria-­prima, o polipropileno. A oferta mundial dessa fibra sintética, de 20 mil toneladas por ano, também seria insuficiente – apenas o Brasil precisaria do dobro disso para substituir o amianto, estima a Eternit.

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