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Eu adoro robôs assassinos

Robôs quadrirrotores são in­­críveis, fofos e provavelmente destruirão a todos nós.

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(Foto: Divulgação)
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Em maio de 2010, vi pela primeira vez os robôs voadores que dominarão o mundo. Eles estavam num vídeo que Daniel Mellinger, um dos criadores do robô, havia orgulhosamente postado no You­­Tube. O clipe, intitulado "manobras agressivas para voos de quadrirrotores autônomos", retrata uma cena num laboratório de ro­­bótica na University de Pensil­­vânia (apelidada de UPenn) – embora um nome melhor para o local talvez fosse "campo de treinamento para robôs".

No vídeo, um quadrirrotor do tamanho de um laptop e parecido com um inseto realiza uma série de truques cada vez mais complexos. Primeiro, ele voa para cima e para baixo, fazendo um único giro no ar. Depois, um giro triplo. Numa narração aparentemente sem consciência do poder com que está lidando, Mellinger diz: "Desenvolvemos um método para voar para qualquer posição no espaço, com qualquer velocidade ou ângulo de inclinação razoáveis." O que isso significa? Significa que o robô pode voar através ou ao redor de basicamente qualquer obstáculo. Vemos o quadrirrotor passar por uma janela aberta com menos de 7 centímetros de folga em cada lado. Em seguida, ele voa e pousa numa superfície invertida – e fica à espera.

Numa série de vídeos postados por Mellinger naquele verão, vemos o robô desenvolver habilidades ainda mais aterradoras. Ele faz piruetas em elipse. Ele recebe uma garra que lhe permite apanhar objetos, e então aprende a "cooperar" com outros robôs e levantar coisas em conjunto. Ele aprende a pousar em superfícies, e a se recuperar quando suas tentativas de pouso fracassam; isso, junto a uma câmera, lhe dá a ha­­bilidade de efetuar "vigilâncias autônomas". Ele descobre como voar através de inúmeros obstáculos consecutivos e então, incrivelmente, através de obstáculos em movimento – ele passa pelo meio de um bambolê que Mellinger arremessa ao ar. Cerca de um ano atrás, Mellinger postou um vídeo com uma equipe de três robôs cons­­truindo estruturas com grandes vigas metálicas. As máquinas voam num as­­sustador e coordenado balé, cada uma coletando uma viga, encontrando o local exato onde ela deve ser inserida e cuidadosamente encaixando o objeto em seu lugar.

Observando isso por tempo suficiente, seria possível confundir a cena com algo adorável – pássaros construindo um ninho. Mas, nesse ponto, você já parou de olhar. Em vez disso, você abre uma nova janela e começa a pesquisar por bons negócios em abrigos antibombas e suprimentos de emergência.

No total, os clipes de Mellinger no YouTube foram vistos 10 milhões de vezes. No último mês, os quadrirrotores da UPenn receberam seu público mais amplo e "nerd" até hoje: eles foram apresentados numa palestra na conferência TED pelo professor Vijay Kumar, que dirige o laboratório da UPenn (http://bit.ly/wlRXRU). No final da palestra da TED, a equipe exibiu um experimento aparentemente criado para provar que esses robôs não são assustadores – mas que acaba sendo a coisa mais aterrorizante de todas. Em conjunto, os robôs usam instrumentos musicais especialmente modificados para tocar o tema de James Bond (http://youtu.be/_sUeGC-8dyk).

O que torna esses drones autônomos tão irresistíveis e alarmantes? Para mim, é que es­­tamos testemu­nhan­do a evolução do que poderia ser a forma perfeita de locomoção. Os ro­­bôs mais re­­centes do laboratório da UPenn – criados por Mellinger e outro estudante de graduação, Alex Kushleyev – são chamados de "nanoquadrirrotores", pois possuem apenas 20 centímetros de diâmetro. Segun­­do a explicação de Kumar na TED, as equações físicas que regem a inércia angular dos objetos favorecem os ta­­manhos pequenos – quanto me­­nor é um pássaro, mais rápido ele pode girar en­­quanto voa. Isso significa que os nanodrones são incrivelmente ágeis.

Além disso, eles são criados para colaborar automática e instantaneamente no ar. O comportamento é modelado seguindo insetos como as formigas – ele ocorre sem um coordenador central, através da habilidade dos drones para detectar a distância um do outro enquanto voam. Num vídeo postado em janeiro – o mais popular até agora –, 16 nanoquadrirrotores passeiam numa série de incríveis formações. Algo como na­­dadores sincronizados, mas maior agilidade.

Nos últimos meses, conforme os robôs se tornavam mais fáceis de fazer e comprar, surgiram alertas de privacidade. Pessoas os estão usando para monitorar o trânsito, espionar celebridades, tirar fotos aéreas de imóveis e – graças a uma nova lei federal que legalizou seu uso – quase certamente numa variedade de missões policiais. As duas principais características dos nanodrones – extrema agilidade e formação instantânea em grupos – parecem elevar as apos­­tas nesse debate.

Há algumas semanas, após ler que o cientista político Fran­­cis Fukuyama, de Stanford, havia construído seu próprio drone, liguei para ele para conversar sobre as implicações dos robôs na segurança nacional. Fukuyama, que se descreve co­­mo um tecnólogo e entusiasta, disse achar os drones extremamente empolgantes. "É real­men­te incrível que pessoas co­­muns hoje possam possuir, operar e construir esse nível de tecnologia", explicou ele.

Ele prosseguiu descrevendo várias formas pelas quais os drones poderiam alterar as guerras. Drones não tripulados permitiram que o exército americano usasse cada vez menos forças terrestres em combate. Mas os drones militares de hoje têm muitas deficiências – eles só conseguem operar de altitudes elevadas, só conseguem espionar ou matar, e frequentemente matam civis. É possível imaginar os nanodrones tendo um desempenho muito melhor: eles poderiam assumir o lugar de tropas terrestres das Forças Especiais, e até mesmo de agentes secretos. Num artigo no Financial Times, sob o título "Por que todos precisamos de um drone só nosso", Fukuyama escreveu: "A tecnologia não está estagnada. Logo à frente existem drones do tamanho de insetos que poderiam ser confundidos com um mosquito ou aranha, que poderiam passar por baixo de uma porta para gravar conversas, tirar fotos ou até mesmo injetar uma toxina mortal numa vítima desavisada. Sistemas como esses estão sendo desenvolvidos pelo programa Micro Autonomous Systems and Technology (Mast) do exército, em parceria com uma variedade de empresas e laboratórios universitários. Mais no futuro estão os nanobots, robôs minúsculos que poderão entrar na corrente sanguínea ou nos pulmões de um ser humano".

As implicações desses drones – para o bem ou para o mal – ainda não foram desvendadas. É por isso que acho difícil não me encher de assombro e medo quan­­do vejo essas máquinas conseguindo mais uma façanha. Uma coisa é certa: os drones vão comandar nosso futuro. É me­­lhor começarmos a falar sobre co­­mo vamos lidar com eles.

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