Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Tarifaço de Trump

Ex-diretor-geral da OMC diz que taxas de Trump não são tão ruins para o Brasil

Roberto Azevêdo - Diretor-Geral - OMC
Roberto Azevêdo foi diretor-geral da OMC por 7 anos. Único brasileiro a ocupar o cargo (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Ouça este conteúdo

O diplomata Roberto Azevêdo, que foi diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) entre 2013 e 2020, avalia que o anúncio de tarifas dos Estados Unidos aos produtos importados do Brasil não foi tão negativo. De acordo com Azevêdo, levando em consideração os cenários que se desenharam para as taxas, o anunciado por Donald Trump nesta quarta-feira (2) "não foi um mau cenário".

"Dos cenários que poderiam aparecer com essas medidas, esse não foi um mau cenário para o Brasil. Não quer dizer que tenha sido um bom cenário, mas não foi um mau cenário", disse o ex-diretor-geral da OMC em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Para Azevêdo, as taxas como foram anunciadas ainda podem fazer os produtos com origem no Brasil ganhar competitividade dentro do mercado norte-americano.

"O produto brasileiro vai ser sobretaxado em 10% no mercado americano. Os produtores [estrangeiros] que vendem ao mercado americano vão perder competitividade se comparados com o produto americano "made in USA". Mas ele ganha competitividade se comparado com aqueles que vão ser mais taxados. E não são poucos", disse.

Além disso, a política tarifária adotada pelo presidente americano também pode criar um cenário favorável para os produtores brasileiros no contexto do comércio internacional e abrir novos mercados em outras nações –a depender da forma como os demais países vão reagir às taxas.

Em um cenário que os países possam reagir com retaliação às tarifas e Donald Trump decida aplicar uma contra-retaliação, especialmente se atingirem produtos que competem com o mercado brasileiro, o diplomata explica que o Brasil pode "ganhar fatia de mercado". "O comportamento de preço é difícil você prever, mas você pode aumentar a sua fatia de mercado com a perda de mercado que poderá acontecer para as commodities americanas", disse.

"Se você levar em consideração o potencial efeito inflacionário dessas medidas todas, com uma desaceleração econômica talvez universalizada, é muito difícil você pensar em um efeito líquido positivo. Agora, dentro desse cenário ruim, eu acho que pode sim haver alguns ganhos para produtos brasileiros, sobretudo na área de produtos agrícolas e commodities de uma maneira geral, que estejam em competição com o produto americano", declarou ao jornal.

VEJA TAMBÉM:

Tarifas podem ter impacto negativo no mercado americano

Por outro lado, Azevêdo vê a medida pode ter impactos negativos para o mercado americano. Apesar da intenção de Trump de impulsionar os produtos de produção nacional, o diplomata explica que o resultado pode ser negativo e impactar, inclusive, no bolso do consumidor norte-americano.

"Ele [Donald Trump] tinha várias alternativas de promover essas tarifas recíprocas. Podia fazer produto a produto, por exemplo. Ou escolher setores para determinados países. Mas não. Ele fez algo horizontal. Tudo que é exportado para os Estados Unidos a partir da agora terá uma sobretaxa de 10% no mínimo. É um país que importa por volta de US$ 3 trilhões em produtos. Então seria um custo adicional de US$ 300 bilhões que vai ser de alguma forma repassado ao consumidor dos Estados Unidos", disse.

Para além do impacto dentro dos Estados Unidos, ele acredita ainda que possa haver um impacto inflacionário das medidas ao redor do mundo. "É de se imaginar que haverá na economia americana algum efeito inflacionário, se não recessivo, com impacto nas taxas de inflação. Consequentemente, você pode ter um ambiente de juros mais altos a depender de como esses parâmetros vão interagir. Isso sem falar de desvio de comércio", afirmou.

"Produtos que vão entrar em outros mercados de maneira mais competitiva ou predatória porque não estão conseguindo entrar no mercado americano, gerando um excesso de oferta em alguns setores. Então haverá muita turbulência, pela abrangência com que as tarifas foram anunciadas", declarou Roberto Azevêdo, único brasileiro a ocupar o cargo de diretor-geral da OMC.

VEJA TAMBÉM:

Trump anuncia tarifas recíprocas contra os países em no mínimo 10%

Na última quarta-feira (2), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez anúncio de tarifas recíprocas que seu país vai adotar sobre importações. Com dezenas de países no alvo do republicano, as taxas variam entre 10% e 50% sobre todos os produtos com origem de outras nações.

O Brasil foi um dos atingidos pela política tarifária do republicano. Os produtos brasileiros, contudo, ficaram na taxa base de 10%, assim como o Reino Unidos, Arábia Saudita, Chile, Argentina e Colômbia. Os produtos japoneses, por exemplo, serão taxados em 24%; enquanto os chineses em 34% e os do Vietnã em 46%.

VEJA TAMBÉM:

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.