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Se o carro foi comprado nos últimos dois dias e a nota fiscal ainda não foi emitida, consumidor poderá exigir preço com IPI menor | Elza Fiúza/ABr
Se o carro foi comprado nos últimos dois dias e a nota fiscal ainda não foi emitida, consumidor poderá exigir preço com IPI menor| Foto: Elza Fiúza/ABr

Alcance

Governo mirou o curto prazo, diz economista

O governo acertou ao estimular o consumo e, por tabela, a produção industrial em um momento de forte desaceleração da economia. Mas, como as medidas são de caráter emergencial e muito pontuais, desacompanhadas de reformas mais profundas, seu efeito não será duradouro. A avaliação é do professor de Economia Robson Gonçalves, do Isae/FGV.

Ele vê como "um passo na direção correta" a redução dos juros para o investimento em bens de capital, como caminhões. Nessa linha, a taxa de juros cobrada pelo BNDES cairá de 7,7% para 5,5% ao ano – nível semelhante ao da inflação brasileira, o que faz com que o juro real da operação seja próximo de zero. Apesar disso, diz Gonçalves, persiste uma série de problemas. "A pergunta que se coloca é: adianta vender mais caminhões se você não tem estradas em boas condições? Se você não ataca as questões de infraestrutura, não pode esperar um crescimento de longo prazo." (FJ)

Números

10,09% de redução teve o preço do Renault Sandero Authentique 1.0 16V Hi-Flex após a queda do IPI. O preço de tabela baixou de R$ 29.230 para R$ 26.280.

Até 7,68% mais baratos devem ficar os carros da JAC Motors vendidos no Brasil. Conforme a nova tabela de preços divulgada ontem, o preço de tabela do J3 passará de R$ 37.900 para R$ 34.990, uma diferença de quase R$ 3 mil.

BB reduz taxa

O Banco do Brasil anunciou ontem que suas taxas para financiamento de veículos novos, que variavam de 0,95% a 1,99% ao mês, com taxa média de 1,29%, agora passam para 0,77% a 1,79% ao mês, com taxa média de 1,09%. O BB também anunciou a ampliação do limite financiável para até 100% do valor do veículo e informou que, com a liberação de parte do compulsório, terá R$ 2 bilhões extras para emprestar nessa modalidade.

Apesar de queda no juro, bancos continuarão exigentes, prevê MB

Agência Estado

Mesmo com as taxas de juros em queda, os bancos seguirão mais exigentes nas operações de financiamento e de olho nos índices de inadimplência e comprometimento da renda do consumidor com dívidas. Isso tende a reduzir o potencial das medidas do governo, segundo Tereza Maria Fernandez Dias da Silva, sócia da consultoria MB Associados.

"O fato de os juros caírem não quer dizer que o financiamento vai voltar a crescer na mesma proporção", disse ela. Apenas quem mostrar as melhores condições de pagamento será beneficiado por movimento de queda dos juros, avaliou.

Tereza, no entanto, espera uma queda da inadimplência no segundo semestre e uma melhora no cenário econômico do país, embora em um nível aquém das expectativas dos empresários e do governo. "Este será um ano de arrumar a casa no sentido de normalizar a inadimplência do consumidor", disse, ao lembrar que a MB Associados mantém a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% neste ano.

Novas medidas vão atacar a inadimplência

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo estuda medidas para reduzir a inadimplência no pagamento de empréstimos no país.

Leia a matéria completa.

O pacote de estímulos do governo federal tem aspectos positivos e deve provocar alguma reação na atividade econômica. Mas, segundo economistas consultados pela Gazeta do Povo, seu impacto será mais limitado que o de incentivos semelhantes concedidos a partir de 2008, depois do estouro da crise financeira. A principal razão para isso está na exaustão do modelo de crescimento da economia brasileira, que nas últimas décadas tem sido muito orientado para o consumo – em grande parte, via endividamento das famílias – e pouco para o investimento.

Embora o pacote anunciado na segunda-feira contemple a redução dos juros de algumas linhas de crédito do BNDES voltadas ao investimento, sua principal intenção é empurrar as famílias para as compras – por isso a redução de tributos que incidem sobre a venda de veículos (IPI) e o crédito (IOF) – e, assim, estimular a produção industrial. O problema é que a capacidade do consumidor de tomar (e pagar) novos empréstimos tem diminuído: hoje as dívidas correspondem a mais de 40% da renda anual das famílias brasileiras, segundo dados do Banco Central. Cientes disso, e do crescimento da inadimplência nos últimos meses, os bancos tendem a manter o rigor nas análises de crédito.

"Pacotes assim têm efeitos progressivamente menores. A cada novo pacote, o impacto diminui", diz o economista Cláudio Frischtak, presidente da InterB Consultoria Internacional de Negócios.

Segundo ele, o modelo de crescimento brasileiro gerou uma série de efeitos virtuosos, como a redução da pobreza e a ascensão de uma nova classe média, mas chegou a um ponto de exaustão. "E o pacote do governo não enfrenta isso. Pelo contrário, empurra a situação com a barriga", avalia Frischtak. "Além de boa parte das famílias estar muito endividada, há um ciclo de bens duráveis se exaurindo. Quem comprou carro há pouco tempo não vai comprar outro só porque ficou mais barato."

Outro problema, diz o economista, é que a nova classe média – cujo consumo puxou parte do crescimento recente do país – é muito vulnerável a "soluços" da economia. "Essas pessoas não têm um ‘backup’ financeiro. Se perderem o emprego, dificilmente podem contar com a ajuda dos pais, ou de outro parente, porque geralmente foram as primeiras da família a atingir uma certa condição de consumo."

Méritos

Felipe Queiroz, analista da agência de classificação de risco Austin Rating, considera as medidas do governo paliativas – "o ideal seriam mudanças estruturais, e não mais ‘puxadinhos’" –, mas as vê de forma favorável. Avalia que elas têm o mérito de estimular, ao mesmo tempo, o crédito, a demanda e a produção domésticos num momento em que não há espaço para crescer via exportação, dado o enfraquecimento da demanda internacional.

Para Queiroz, o governo acertou ao mirar o setor automotivo, pois ele tem uma grande "relação intersetorial" e, quando cresce, faz girar vários ramos da indústria e o próprio varejo. Ao contrário de Frischtak e outros economistas, o analista da Austin ainda vê espaço para uma ampliação do endividamento. "Se não houvesse renda e emprego em alta, teríamos um problema. Mas, no momento, creio que as condições macroeconômicas ainda sustentam uma expansão do crédito."

Compra feita antes do novo IPI pode ter preço "atualizado"

Renyere Trovão

Quem negociou o carro zero quilômetro nos últimos dois dias e não teve a nota fiscal emitida pela concessionária antes da queda do IPI poderá exigir da loja o novo preço de tabela. De acordo com Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), entidade que representa as concessionárias, o efeito da redução de IPI anunciada na segunda-feira foi imediato e, conforme acordo entre montadora e governo federal, todos os carros em estoque acabaram refaturados pelas novas alíquotas.

Algumas marcas até sinalizam cancelar notas fiscais já emitidas e faturar novas com o preço reduzido. "Deveremos compensar essa diferença de uma outra forma. Talvez na diminuição no valor das parcelas ou por meio de brindes", adiantou Antônio Carlos Altheim, diretor Comercial da Corujão Veículos, autorizada Volkswagen em Curitiba.

Quem visitar uma das autorizadas da Renault e JAC Motors já poderá sair de lá pagando mais barato. Até o fim da tarde de ontem, elas eram as únicas marcas que haviam divulgado a nova tabela de preços. As demais devem repassá-la aos distribuidores ainda hoje ou, no máximo, até amanhã. Nesse caso, o consumidor que procurar uma revenda nesta quarta-feira poderá fazer a negociação baseada nos novos preços.

Mais barato

A Ford revelou apenas o preço do Ka 1.0, que cairá 10%, de R$ 23.600 para R$ 21.240. Esse porcentual, previsto pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na segunda-feira, também foi confirmado pela Renault. A média de preços da marca francesa para veículos com motorização de até 1 mil cilindradas – cujo IPI baixou de 7% para zero – ficou próxima de 10%, ou até mais que isso em alguns casos.

O preço do Sandero Ex­pres­­sion 1.0 16V, por exemplo, baixou de R$ 31.950 para R$ 28.720, uma diferença de quase R$ 3.230 ou 10,11%. O valor de fábrica do Logan Authentique 1.0 passou de R$ 28.610 para R$ 25.780, um decréscimo de 9,89%. Já para os carros com propulsores de 1 mil a 2 mil cilindradas, cujo IPI caiu de 11% para 5,5% na configuração flex, a variação de preços na Renault foi de 6,49% a 7,41%.

A chinesa JAC Motors aproveitou a queda do IPI – de 43% para 36,5%, para veículos importados com motores de até 2.0 litros – para reduzir os preços da sua gama entre 5,68% a 6,99%. O hatch J3 sai agora por R$ 34.990, ante os R$ 37.900 da tabela anterior, enquanto o sedã J3 Turin é vendido por R$ 36.990, contra R$ 39.900. Ambos são equipados com motor 1.4.

Descontos

Pelo acordo entre indústria automotiva e governo, além da desoneração da carga tributária, as montadoras também se comprometeram a dar descontos no preço de tabela dos carros. Os automóveis de motor até 1.0, por exemplo, terão redução de até 2,5% sobre a tabela anterior, enquanto os de motor entre 1.0 e 2.0 cairão em 1,5% e os utilitários, em 1%.

Esses descontos vão valer até 31 de agosto, assim como o corte do IPI. Haverá ainda a maior flexibilidade dos bancos na concessão de crédito, como também o prolongando no número de parcelas e a redução do valor da entrada e dos juros dos financiamentos.

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