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O agravamento da crise da economia mundial colocou o tema redução de custos na mesa de negociações salariais entre os fabricantes de papel e celulose e os sindicatos. Com margens pressionadas, as empresas estão propondo a suspensão de contratos de trabalho por tempo indeterminado, a negociação de reajustes sem ganho real para os funcionários e a revisão de turnos de trabalho. Pelo menos uma empresa já propôs redução de salários por meio do corte de benefícios.

"Esperávamos aumentos superiores a 7,5%, garantindo ganho real aos trabalhadores, mas a crise levou muitas empresas a reduzirem a produção, o que criou incertezas aos funcionários", destaca o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Papel, Papelão, Celulose, Pasta de Madeira para Papel, Cortiça e Artefatos de Papel (Sinap), Iduigues Martins.

A dificuldade das negociações, segundo os sindicatos regionais, está associada principalmente ao momento de cada empresa. Uma das situações mais delicadas ocorre na Bahia, onde está localizada a fábrica da Bahia Pulp. A produtora de celulose solúvel tem como principal mercado o exterior e enfrenta as conseqüências do desaquecimento da economia mundial. "Eles chegaram a propor a suspensão do contrato de trabalho de empregados que estejam ligados direta e indiretamente à linha 1", afirma o vice-presidente do sindicato dos trabalhadores do setor na Bahia (Sindicelpa), Carlos Ribeiro Monteiro.

A linha 1 está paralisada temporariamente, segundo informação confirmada pela companhia, devido ao início das operações de uma nova linha, com capacidade de 350 mil toneladas anuais, ocorrida no final de junho passado. "A Bahia Pulp está pronta para retornar com a produção da linha 1 assim que identificar condições favoráveis de mercado", diz a empresa em comunicado.

Segundo Monteiro, a Bahia Pulp cogitou, ainda, a revisão dos turnos e redução de salário de alguns funcionários. "Eles chegaram a propor que, a partir de novembro, a empresa aplicaria apenas o que está determinado na legislação trabalhista, eliminando alguns benefícios que os trabalhadores conquistaram nos últimos anos", diz. O impasse entre as partes foi levado à Delegacia Regional do Trabalho (DRT).

Confirmando que pretende reduzir os custos fixos "em todos os níveis da empresa", a Bahia Pulp não descarta a possibilidade de demissões. "Nossa previsão é de que a crise afetará o nosso setor por muitos meses. Se houver ociosidade da nossa mão-de-obra, devido à sazonalidade, serão necessárias medidas de ajuste do nosso quadro de pessoal para evitarmos reflexos negativos nos nossos negócios", afirma o diretor de Vendas e Marketing da companhia, Sérgio Kilpp. A data-base dos trabalhadores da Bahia Pulp acontece em novembro.

Está em negociação com o sindicato a suspensão temporária do contrato de 97 trabalhadores. Já a proposta de cortar benefícios teria sido abandonada pela empresa. Segundo o presidente do Sindicelpa, Gilberto Pereira, após pressão dos trabalhadores, a companhia voltou atrás na decisão de cortar alguns benefícios. A Bahia Pulp confirma a tentativa de negociar a suspensão temporária do contrato de funcionários.

Também na Bahia está localizada a principal fábrica de celulose da Suzano Papel e Celulose. Apesar de já terem chegado a um acordo com a companhia sobre o reajuste deste ano, os trabalhadores se mostram preocupados. "A Suzano está anunciando a necessidade de reduzir em até 15% os custos operacionais, e isso pode não se restringir à produção, mas também chegar ao pessoal", alerta. A companhia, que em outubro paralisou as operações da unidade de Mucuri durante oito dias para reduzir os níveis de estoque, nega que exista uma meta de redução de custos operacionais.

A Suzano ainda estudaria a possibilidade de alterar a estrutura de trabalho na unidade, segundo Monteiro. "Nos reuniremos na DRT amanhã para discutir o descumprimento do acordo fechado anteriormente", afirma. A companhia, segundo ele, pretende alterar o formato de sua escala de sobreaviso e implantar um sistema de banco de horas, rejeitado pelos trabalhadores. Na oportunidade do acordo de reajuste, definido em 7,5%, a companhia não havia proposto tais alterações, destaca o representante da categoria. A Suzano não confirmou as informações do sindicato.

Na outra ponta do País, na região Sul, também há conflito entre empregadores e funcionários. A situação mais grave é vista em Guaíba (RS), onde está localizada uma fábrica da Aracruz e outras empresas de menor porte. "Já realizamos três reuniões com os representantes das empresas e ainda não recebemos nenhuma proposta", afirma o presidente do sindicato local (Sinpacel-RS), João Carlos da Silva Caldas. A data-base da categoria em Guaíba acontece em outubro.

Preocupado com a ausência de pautas por parte da indústria, Caldas esteve na semana passada em Brasília para discutir o tema com o governo. "Tivemos uma reunião com o BNDES na qual pedimos uma contrapartida oficial à ajuda dada pelo banco às empresas", afirma. O BNDES, além de deter 12,5% das ações ordinárias da Aracruz, é uma das principais fontes de recurso da indústria brasileira de papel e celulose.

O negociador do Sinpacel teme que a Aracruz proponha uma redução no número de equipes de trabalho (atualmente em cinco). Essa estrutura permite que os trabalhadores folguem quatro dias a cada seis trabalhados. Procurada pela Agência Estado, a Aracruz preferiu não comentar as declarações do sindicato.

Em meio a esses impasses, há também negociações que avançaram, casos de São Paulo e Santa Catarina - neste último as discussões são referentes às unidades da Klabin em Otacílio Costa, Lages e Correia Pinto. Em ambos os estados, o acordo garantiu ganho real de aproximadamente 0,5 ponto porcentual aos trabalhadores, cuja data-base é em outubro. Em São Paulo, à frente das conversas com empresas como Votorantim Celulose e Papel (VCP), Suzano, Internacional Paper e Klabin, Martins, do Sinap, mostra-se preocupado com a decisão de fabricantes de papel de menor porte de promoverem férias coletivas.

Outros dois acordos, envolvendo a Veracel (BA) e a unidade da Aracruz no Espírito Santo, também estão próximos de um desfecho. Em ambos os casos o acordo deve ser baseado na variação do INPC, garantindo ganho real zero aos trabalhadores. A data-base da categoria nas duas localidades é em novembro. "Há seis anos os acordos garantiam ganho real aos trabalhadores, mas neste ano a situação é diferente", afirma o presidente do sindicato da categoria no Espírito Santo (Sindicel), Osmar da Costa.

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