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Fernando Camargo diz que 90% das negociações feitas na concessionária em que trabalha ocorrem com a ajuda do WhatsApp. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Fernando Camargo diz que 90% das negociações feitas na concessionária em que trabalha ocorrem com a ajuda do WhatsApp.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Cada vez mais populares, aplicativos de mensagens para smarpthones têm assumido a dianteira como principal meio de comunicação do país e afetado a receita das empresas de telefonia com os serviços “tradicionais”, como voz e SMS. Estudo da consultoria Teleco mostra que o tempo médio que o brasileiro passa falando ao celular, via operadora, diminuiu 15% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao trimestre anterior – a média mensal por usuário foi de 111 minutos.

INFOGRÁFICO: indicadores mostram que o brasileiro tem recorrido menos ao celular para fazer ligações

A queda no uso de voz pelo celular tem afetado todas as operadoras e se mostra ainda mais acentuada em comparação com os anos anteriores – no final de 2013, por exemplo, a média mensal chegava a 140 minutos (veja infográfico). Para a Teleco, o uso mais intenso de aplicativos como o WhatsApp, Messenger, Viber e outros, que hoje também disponibilizam ligações por voz via internet, está tornando obsoleto parte dos serviço das operadoras. O que, por consequência, afeta o caixa das empresas –no primeiro trimestre do ano, a receita média mensal por usuário com o serviço de voz no país foi de R$ 11,60, contra R$ 13,60 no mesmo período de 2014.

O cenário retratado pela consultoria encontra respaldo em outros estudos sobre o setor e é reconhecido pelos próprios executivos das operadoras. Estudo divulgado pela Ericsson neste ano mostra que mais da metade do tráfego de dados móveis no país circula em apenas cinco aplicativos – entre eles, o WhatsApp, que responde sozinho por 13% deste tráfego. Em comparação com outros quatro grandes mercados, como Estados Unidos e México, o Brasil é o único em que o app de mensagem conquistou uma fatia tão expressiva.

Smartphones

Visto como um setor até então imune à crise econômica, o mercado de telefonia recebeu na última semana uma notícia inesperada: após um aumento de 56% nas vendas de smartphones em 2014, o país pode registrar retração na comercialização desses aparelhos neste ano. A previsão, da consultoria IDC, leva em conta a queda de 16% nas vendas em maio, em comparação com o mesmo mês do ano passado, e a previsão de retração de 12% no consolidado do segundo trimestre, em relação ao mesmo período de 2014.

“É um momento de transição. Na hora em que o usuário tecla (pelo app), deixa de fazer uma chamada de voz pelo telefone. E a tendência é que as ligações pelos aplicativos melhorem de qualidade à medida em que se migra para tecnologias com velocidade maior, como o 4G”, diz o presidente da Teleco, Eduardo Tude.

O uso do SMS também tem ficado pra trás. Levantamento da consultoria mostra que a receita da Vivo com as mensagens tradicionais teve quatro trimestres consecutivos de queda, passando de R$ 435 milhões no segundo trimestre de 2014 para R$ 414 milhões no início deste ano.

Compensação

A tendência de queda nas receitas com voz e SMS é compensada, por outro lado, com o aumento do uso de dados móveis no país. Todas as operadoras viram a receita com a internet móvel aumentar no último ano e ganhar espaço. Hoje, os dados móveis já respondem por 38% da receita com clientes da Oi, porcentual que é de 41% na Vivo e de 33% na TIM.

“A receita de internet móvel sustenta o crescimento do segmento de mobilidade em praticamente todo o setor de telecomunicações atualmente, em que se percebe uma importância cada vez maior do consumo de dados e SVAs (serviços de valor agregado), enquanto as receitas de voz local, longa distância e SMS se mantêm estáveis ou em queda”, reforça o diretor de Produtos Mobilidade da Oi, Roberto Guenzburger.

Empresas recorrem ao WhatsApp para agilizar negócios

A facilidade na utilização, a gratuidade (pelo menos na hora do download) e a grande penetração entre os usuários fizeram com que o WhatsApp também virasse ferramenta de trabalho, seja para agilizar a comunicação entre funcionários de uma empresa ou para atingir clientes. O gerente geral de vendas da Copava, Fernando Camargo, estima que hoje 90% das negociações feitas na concessionária da Volkswagen em Curitiba contem com alguma interação pelo aplicativo.

A equipe de vendedores de Camargo passou a utilizar o app há cerca de dois anos, por sugestão de uma cliente. O negócio não é fechado pelo celular, mas explicações, fotos e vídeos passam por ali com frequência. “O uso do WhatsApp reduz sim o custo com telefone, mas mais importante do que isso é a velocidade da informação, fazer com que o cliente não perca o foco no produto”, relata.

Cuidado extra

Outras empresas de Curitiba, como a imobiliária Kondor e os shoppings Palladium e Curitiba, também usam o WhatsApp para agilizar o contato e tirar dúvidas dos clientes. O uso da ferramenta no ambiente corporativo é visto como tendência, mas consultores alertam para os riscos em transformar o app em um novo canal de telemarketing.

“O erro mais comum é um mau entendimento sobre a finalidade desses aplicativos. Eles são ferramentas de relacionamento com os clientes e não de publicidade. Há empresas fazendo uso de disparo de mensagens em massa pelo WhatsApp, o que é um erro grosseiro”, avalia o diretor da Agência Cupola, especializada em marketing digital, Rodrigo Werneck .

Sem força para competir, teles se aliam a serviços de mensagens

Como fornecem não só os serviços de voz e SMS, mas também a conexão à internet móvel, as operadoras de telefonia têm tentado surfar na onda dos aplicativos de mensagens. Tanto a Claro quanto a TIM oferecem atualmente promoções que não descontam da franquia o uso do WhatsApp – assim, abrem mão de cobrar pelo tráfego gerado pelo app, na intenção de atrair mais clientes.

“O uso de dados móveis é uma explosão. Ano após ano crescemos 59% no volume de dados trafegados na rede, enquanto a receita de dados cresce a um patamar de 40% ao ano. Aplicativos como o WhatsApp representam hoje muito mais uma oportunidade do que uma ameaça”, afirma o diretor regional da Claro para Paraná e Santa Catarina, Versione Souza.

Para o diretor de marketing móvel da Telefônica Vivo, Marcio Fabbris, é natural que uma receita acabe substituindo a outra. O que não quer dizer, reforça, que as empresas deixarão de lado os serviços ditos “tradicionais”. “Passamos a oferecer os três serviços juntos, voz, SMS e dados. E aí vemos esse crescimento na receita de dados, porque neste pacote o que acaba primeiro são os dados. Antigamente o usuário conseguia ficar sem créditos para falar, mas com a internet esse sentimento de escassez é muito maior e ele não consegue ficar desconectado”, explica.

Banda larga

Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), 56,2% das linhas de celulares do país possuem acesso à banda larga móvel (3G e 4G). Não à toa, as operadoras também têm investido em parcerias com fabricantes de smartphones, em outra frente para aumentar as receitas com tráfego de dados. “Esse é um período de adaptação. E vão superar esse momento mais rápido as empresas que tiverem inovação na veia. Temos nos movimentado nesse sentido, para rentabilizar nossas operações e atender a necessidade dos consumidores”, afirma o diretor comercial da TIM Sul, Carlos Eduardo Spezin Lopes. Seguindo a tendência do mercado, a TIM viu a receita com dados crescer 46% no primeiro trimestre.

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