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Os mineiros deixaram o poço antes do meio-dia, pondo um ponto final a 50 anos de serviço da minha de Kellingley | PHIL NOBLE/REUTERS
Os mineiros deixaram o poço antes do meio-dia, pondo um ponto final a 50 anos de serviço da minha de Kellingley| Foto: PHIL NOBLE/REUTERS

Um capítulo da história britânica acabou nesta sexta-feira (18) quando os mineiros do último turno abandonaram a mina de Kellingley, a única de carvão que continuava em atividade em todo Reino Unido, antes de seu fechamento definitivo.

Os mineiros deixaram um poço antes do meio-dia, pondo um ponto final a 50 anos de serviço desta mina.

“Gostaria de agradecer aos meus colegas por seu trabalho difícil e sua dedicação em tempos complicados. Como eles, pensava em acabar minha carreira aqui, mas não será possível”, declarou o diretor da mina, Shaun McLoughlin. “É um dia triste para todos que são apegados a esta mina. Mas estou orgulhoso de dizer que fizemos o trabalho de maneira profissional”, acrescentou.

“Os melhores mineiros britânicos trabalham em Kellingley”, anuncia, orgulhosamente, um cartaz na entrada do lugar. Os melhores, e também os últimos de uma indústria que marcou profundamente a história econômica e social do Reino Unido.

Os rostos sujos de preto, as escavações de poços, chaminés de fumaça, a dança de empilhadeiras e caminhões carregados de carvão: tudo agora será uma recordação distante, uma imagem de outros tempos.

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Tristeza e frustração

Para muitos, o que desaparece nesta sexta é uma parte de suas vidas e da história de suas famílias.

“É o fim de uma era. Esta semana faremos História, a última mina profunda da Inglaterra. Nosso país se construiu sobre o carvão durante a Revolução Industrial”, lamenta Tony Carter, de 52 anos, um dos 450 mineiros que ainda desciam todos os dias ao subterrâneo em busca de carvão.

“Meu pai era mineiro. A maioria das pessoas tinha pais mineiros, é nosso patrimônio. É uma vergonha que fechem a mina”, desabafa Carter.

Para Keith Poulson, do Sindicato Nacional de Mineradores (NUM, na sigla em inglês), o fechamento é motivo de tristeza e frustração.

“É absolutamente revoltante pensar que vamos dar as costas a uma mina rentável, a uma indústria na qual dispomos de uma força de trabalho qualificada para extrair (carvão), e que simplesmente vamos deixar que feche. É absolutamente escandaloso”, disse, indignado.

O mineiro considera a situação absurda, levando em consideração que a mina é rodeada por três centrais elétricas a poucos quilômetros de distância, entre elas a Drax, a principal usina a carvão do Reino Unido, que abastece de 7% a 8% da demanda elétrica do país.

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“Abastecemos a Drax com carvão desta mina. Dispomos de 20 anos ou mais de reservas de carvão prontas para fornecimento à Drax, mas, por alguma razão, já não necessitaremos de carvão britânico”, embora a “Drax vá continuar queimando carvão nos próximos dez, quinze anos”, argumenta Poulson.

Impopular

O problema é que, em tempos de acordos internacionais visando conter as mudanças climáticas e a consolidação de uma transição energética, o carvão, cuja combustão gera muitos gases de efeito estufa, tornou-se impopular.

O governo britânico anunciou, em novembro, sua intenção de fechar, antes de 2025, as centrais de carvão mais poluentes.

Assim, das três centrais de carvão próximas a Kellingley, somente a Drax continuará em funcionamento depois de 2016. As importações mais baratas do exterior, especialmente da Rússia e Colômbia, e o aumento do imposto sobre o carvão decidido em abril fizeram o resto do trabalho.

Para o dirigente do NUM, os mineradores são, sobretudo, vítimas das margens industriais e dos impostos, porque o custo do carvão só aumentou nas últimas décadas. “Quando comecei em 1977, o preço do combustível para as centrais elétricas era de 27 libras a tonelada e hoje o preço de atacado do carvão é de 30 libras a tonelada. Agora me diga, sua fatura elétrica reflete um aumento de somente três libras em 39 anos? Sinto dizer que não”, afirma.

Apesar do sentimento de abandono, os trabalhadores ressaltam as boas recordações e da camaradagem, em condições de trabalho muito duras. “Amei cada minuto de meu trabalho, era um grupo fantástico, não existe gente melhor que os mineradores”, afirma Tony Carter.

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