Análise
Emergentes dão dinheiro, mas querem mesmo obter mais poder
O interesse dos países emergentes em aumentar a capacidade do FMI de emprestar a países em crise os deixa em uma posição mais forte para exigir reformas na governança econômica mundial. Com a Europa submersa em uma crise sem trégua, quase um terço dos US$ 456 bilhões que o FMI obteve para seus fundos anticrise vieram de nações emergentes. E essa participação tende a crescer, dizem especialistas.
A diretora Christine Lagarde se mostrou satisfeita com o resultado, embora saiba que os aportes de nações que ainda não alcançaram o desenvolvimento econômico de seus pares europeus ou dos Estados Unidos (que sempre governaram o Fundo) terão uma contrapartida já anunciada: um incremento da pressão para que seja alterada a distribuição do poder de voto no organismo.
Os porta-vozes desta cruzada, as nações dos Brics, já anunciaram que seus compromissos estão condicionados a dois fatores. O principal deles é que o FMI seja reformado e que o Fundo deverá utilizar primeiro o dinheiro do qual já dispõe antes de colocar em circulação qualquer aporte dos integrantes deste grupo. "O principal fator é que as reformas de cotas no FMI sejam cumpridas de fato", disse o ministro Guido Mantega. "Cremos que há um atraso por parte do Fundo Monetário e de alguns países europeus na concretização do acordo de 2010", afirmou. Em novembro de 2010, o FMI aprovou uma reforma que aumentaria o poder de voto de vários países que fizeram aportes adicionais sobre seu capital no Fundo. Entre eles figuram Brasil, Rússia, Índia e China.
As novas contribuições ao Fundo Monetário Internacional (FMI) prometidas por seus membros somaram US$ 456 bilhões no primeiro dia da cúpula do G20, informou a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. A dirigente do Fundo saudou as contribuições, que incluem US$ 43 bilhões da China, US$ 10 bilhões do Brasil e mais US$ 10 bilhões do México. Rússia e Índia que integram o bloco Brics com Brasil, China e África do Sul também prometeram US$ 10 bilhões cada, mas os sul-africanos se limitaram a US$ 2 bilhões.
"Países grandes e pequenos se uniram para atender o nosso apelo, e outros poderão aderir. Saúdo este compromiso com o multilateralismo que resulta em promessas de US$ 456 bilhões, o que quase dobra nossa capacidade de empréstimo", assinalou Christine Lagarde. "No total, 37 países membros do Fundo, que representam cerca de três quintos das cotas da organização, se uniram a este esforço coletivo. Estes recursos estarão disponíveis para prevenção e solução de crises e para cumprir com as necessidades potenciais de financiamento de todos os membros do FMI."
O Brics também analisou a possibilidade de se criar um fundo "virtual" de reservas para fomentar um intercâmbio de moedas que dinamize suas relações comerciais e reduza o impacto da crise financeira. "Resolvemos iniciar estudos para a criação de um fundo virtual de reservas de modo que possamos realizar swaps entre os Brics", revelou o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo Mantega, os países do Brics têm a capacidade de "dar mais dinamismo à economia internacional", mas para tal é necessário que adotem medidas para "estimular" o comércio entre si.
Os Estados Unidos pediram à União Europeia e ao FMI que renegociem os termos da ajuda à Grécia para permitir que Atenas tenha mais tempo para cumprir os compromissos assumidos com o plano de socorro. "Há muito espaço de negociação para as duas partes" e é possível discutir um novo acordo que dê mais tempo à Grécia para cumprir com suas obrigações, disse a subsecretária do Tesouro Lael Brainard em Los Cabos. "Esperamos ver de parte dos sócios europeus e do FMI o reconhecimento de que o programa da Grécia descarrilou durante um tempo em parte porque houve um prolongado processo político e ficaram sem governo", completou.
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